De 28 de agosto a 8 de setembro, mais de 4 mil atletas de 184 países estão em ação nas 22 modalidades dos Jogos Paralímpicos 2024, em Paris. Ao se deslocar pela capital francesa, esse enorme contingente de pessoas com deficiência (PCDs) tem evidenciado problemas de acessibilidade, especialmente no transporte sobre trilhos como metrô e trens, e motivando relatos dos atletas nas redes sociais.
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De acordo com o jornal francês Le Parisien, a rede de metrô da cidade tem atualmente quase 400 estações. Destas, 290 são acessíveis aos PCDs. A rede ferroviária que corta a capital francesa possui 56% de acessibilidade.
No dia da abertura dos Jogos Paralímpicos, o jornal publicou uma entrevista com a presidente do Conselho da Região Metropolitana Ilê-de-France, Valérie Pécresse, na qual ela propunha o lançamento de um plano de € 20 bilhões para tornar as estações das antigas linhas de metrô da cidade acessíveis a pessoas com mobilidade reduzida em um prazo de 20 anos. Essa ideia, aliás, é antiga e pouco tem avançado, embora a questão da inclusão seja uma das principais bandeiras da mobilidade urbana contemporânea.
De acordo com Joubert Flores, presidente do Conselho Administrativo da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), a capital francesa enfrenta um desafio comum a muitas outras cidades globais dotadas de infraestruturas de transporte antigas, embora ainda úteis. “O metrô de Paris foi inaugurado em 1900, e a lei que prevê acessibilidade nesses sistemas é recente: tem menos de 20 anos”, explica Joubert Flores.
De acordo com o especialista, embora prover o acesso seja justo e necessário, algumas estações parisienses têm mais de 100 anos. Nesses casos, as obras se tornariam inviáveis. Em outros, os custos seriam muito elevados. Ele ressalta, porém, que estações construídas há menos de dois anos são acessíveis às pessoas com mobilidade reduzida.
Para Silvana Cambiaghi, arquiteta, presidente da Comissão Permanente de Acessibilidade de São Paulo (CPA) da prefeitura de São Paulo e cadeirante, o problema no sistema metroferroviário de Paris traz consequências para cidadãos e turistas. “A falta de acessibilidade no meio de transporte mais utilizado em Paris tem um grande impacto negativo para as pessoas com deficiência, idosos, gestantes e pessoas levando carrinho de bebê, com mobilidade reduzida”, diz Silvana.
Ela menciona que, mesmo o metrô sendo antigo, ele pode se atualizar com a adoção de novas tecnologias para adaptação. “Pois a cidade sempre se destacou na arquitetura e na engenharia com obras do porte da Torre Eiffel, do Museu do Louvre e do Eurotúnel”, completa.
Ela conta que esteve em Paris em 1992 e não utilizou o transporte público. “Circulava muito pelas calçadas, já que a topografia da cidade permite e há muitos estacionamentos subterrâneos que facilitam o acesso aos locais. Porém, deixei de ir a diversos locais interessantes por não poder utilizar o metrô”, explica.
Para Eduardo Marques, sócio-diretor do iCities, empresa brasileira pioneira em cidades inteligentes, as questões no transporte público de Paris ilustram a necessidade das cidades investirem, de forma frequente, em infraestrutura urbana inclusiva e acessível para todos.
“O legado dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos deve ir além das competições, promovendo transformações nas cidades para torná-las mais justas e acolhedoras”, declara.
Como é o transporte público de Paris, sobretudo o sistema sobretrilhos, em relação à acessibilidade para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida?
O sistema de transporte público de Paris, especialmente a rede ferroviária, tem avançado na acessibilidade para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, com melhorias significativas na Rede Expressa Regional (RER, uma combinação de trem urbano e suburbano), trens de alta velocidade e ônibus, que oferecem rampas, elevadores e espaços reservados para cadeirantes.
No entanto, o metrô, por ser uma das redes mais antigas do mundo, enfrenta limitações com poucas estações adaptadas e algumas taformas com grandes lacunas entre o trem e a plataforma, apesar dos esforços contínuos. Sabemos que esse tipo de modernização requer tempo e investimentos significativos. Além disso, a cidade também oferece serviços de assistência, sinalização tátil, auditiva, e informações em tempo real para facilitar a mobilidade de todos os passageiros.
Qual a importância de uma cidade ser acessível para todos os públicos?
Uma cidade acessível é vital para garantir a participação plena de todas as pessoas, independentemente de suas limitações físicas, na vida social, econômica e cultural. A acessibilidade permite que indivíduos com deficiência ou mobilidade reduzida tenham igualdade de oportunidades, promovendo inclusão e diversidade. Além disso, cidades acessíveis são mais preparadas para enfrentar o envelhecimento da população, como observado no Brasil, onde há uma crescente proporção de idosos.
A acessibilidade não só melhora a qualidade de vida dos cidadãos, mas também pode impulsionar o desenvolvimento econômico ao atrair investimentos e fomentar um ambiente inclusivo para todos
Que lições podem ser aprendidas com essa situação na cidade que é sede dos jogos Paralímpicos?
A situação de Paris como sede dos Jogos Paralímpicos ilustra a necessidade de investir em infraestrutura urbana inclusiva e acessível para todos os cidadãos de forma constante. O legado dos Jogos deve ir além das competições, promovendo uma transformação nas cidades para torná-las mais acessíveis e acolhedoras.
A experiência de Paris pode servir de exemplo para outras cidades ao redor do mundo, incluindo as brasileiras, para melhorar suas políticas e práticas de acessibilidade. A promoção da acessibilidade urbana deve ser vista como um investimento de longo prazo que beneficia toda a sociedade, não apenas durante eventos esportivos, mas no dia a dia dos cidadãos.
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