A literatura sobre a eletrificação veicular começa a ganhar suas primeiras obras no Brasil. Depois dos livros A Mobilidade Elétrica na América Latina, produzido pelo Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Mobilidade e Sustentabilidade, organizado pela Plataforma Nacional da Mobilidade Elétrica, a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) lançou a Cartilha da Eletromobilidade, em dezembro passado.
Como o nome já indica, a cartilha é uma obra bastante didática, resultado de um trabalho de oito meses da Comissão Técnica de Eletromobilidade da AEA.
“Precisávamos ter um radar mais abrangente de como a eletromobilidade está se desenvolvendo no Brasil e no mundo”, afirma Evilym Machado, coordenadora do projeto da cartilha. “Em 2021, organizamos a comissão nesse sentido e, no ano seguinte, iniciamos uma ampla pesquisa do material, como reportagens e artigos, a respeito de veículos eletrificados.”
Até então, a ideia era extrair pontos chaves para elaborar um documento no formato de perguntas e respostas, com o intuito de criar um discurso homogêneo entre os integrantes da AEA. “Dessa forma, em eventos, como seminários e lives da associação, todos beberiam da mesma fonte”, explica.
Um dos desafios da comissão era evitar uma linguagem extremamente técnica em benefício de algo que todo mundo possa assimilar. “Um exercício que sempre faço é perguntar se minha mãe vai entender o que estamos dizendo”, diz Machado.
O cuidado da AEA foi não entrar em contradição. Dona de um DNA técnico, a entidade precisava explicar a eletromobilidade sem gerar dúvidas. “Um exemplo é quando falamos de temas como veículo submerso. Se não explicarmos as consequências com total correção, estaremos sujeitos a causar polêmica e discordância no meio técnico”, diz.
A AEA percebeu, então, a necessidade de dar um passo para trás. Ou seja, a cartilha passou a ter um direcionamento totalmente pedagógico e inclusivo. O que seria um produto de consumo interno, restrito a engenheiros, ficou disponível para a sociedade, por meio do site da AEA.
“O papel da associação é de levar informação para a sociedade de maneira mais acessível. Queremos nos conectar com as pessoas”, acentua. “Uma coisa é discutir assuntos técnicos dentro da comissão e no meio acadêmico. Mas concluímos que a cartilha deveria ser destinada também aos que nem sequer ouviram falar de carros elétricos, sem qualquer tipo de engenharês.”
A primeira edição da Cartilha da Eletromobilidade tem 49 páginas em versão digital. “Pensamos também na sustentabilidade ao não usar papel. Nada impede um livro físico, porém, não é o objetivo principal. Além disso, todo mundo possui celular e pode acessar o conteúdo facilmente”, destaca Machado.
Os oito temas abordados são fontes de energia e tipos de combustíveis, arquitetura dos veículos, tipos de carregadores e conectores, baterias, infraestrutura de recarga, segurança e manutenção, mercado nacional e global de eletrificados e políticas públicas e incentivos.
Evilym Machado deixa claro que a publicação não tem a pretensão de servir de manual da eletrificação. “Trata-se de um documento vivo, que será atualizado sempre quando surgirem novas tecnologias”, revela.
Uma segunda edição já está prevista até o fim do ano. A intenção não é adicionar os assuntos na cartilha existente, mas criar uma obra inédita, um outro livro. “Não queremos despejar uma enxurrada de informação, porque trabalhamos com um material muito denso”, explica.
Uma coisa é certa: apesar da linguagem simples, os capítulos da segunda edição serão mais aprofundados, a fim de explicar detalhadamente as tecnologias que cercam a eletrificação dos automóveis.
Embora a comissão técnica comece a se reunir em fevereiro para iniciar as discussões da segunda edição, o martelo já foi batido em torno de um tema muito importante: baterias.
“A primeira cartilha contempla esse assunto, mas ele requer um complemento por causa de uma série de tecnologias avançadas”, salienta. Os demais temas serão definidos a cada reunião da comissão, composta por 30 pessoas.
Um dos capítulos do conteúdo digital fala de fontes renováveis (como solar, eólica, hidrelétrica e biomassa}, porque ratifica a visão da AEA, de que a eletromobilidade pode contar com outras formas de geração de energia.
Para Machado, o carro movido a bateria é um caminho sem volta no cenário automotivo mundial. Entretanto, os combustíveis do futuro não são excludentes.
“Gosto muito da expressão ‘diversidade tecnológica’, porque é disso que estamos falando, das várias possibilidades da eletromobilidade urbana, sem que uma cause prejuízo para outra”, completa.
A coordenadora Evilym Machado revela que todas as informações contidas na Cartilha da Eletromobilidade não são novas ou exclusivas, mas têm o diferencial de empregar uma linguagem fácil de ser entendida. É o bê-a-bá de quem pretende se inteirar sobre eletrificação.
Energia eólica, por exemplo, é definida da seguinte forma: “Ela é gerada pelo movimento do vento e capturada por turbinas eólicas. Também é uma fonte renovável”.
O documento se vale de quadros e gráficos que ajudam a tirar as dúvidas dos leitores totalmente leigos em temas ainda desconhecidos, como os tipos de veículos eletrificados, incluindo os híbridos.