WEG compra a Tupi e expande presença no segmento de mobilidade elétrica

WEG assume uma operação que faturou cerca de R$ 40 milhões em recargas nos últimos 12 meses. Foto: WEG/Divulgação

Há 3h - Tempo de leitura: 5 minutos, 7 segundos

Na medida em que a eletromobilidade se alastra no Brasil, novas possibilidades de aquisições, parcerias e fusões entre as empresas envolvidas na transição energética também se multiplicam como parte de um movimento natural, em que as companhias buscam reconhecidas competências de seus pares.

Em outubro, a WEG, empresa global de equipamentos eletroeletrônicos, surpreendeu o setor da mobilidade ao anunciar investimento de R$ 38 milhões na aquisição de 54% da Tupi Energia, startup que oferece serviços digitais avançados para gestão de redes de recarga de veículos elétricos.

“Foi um passo estratégico”, afirma Carlos José Bastos Grillo, diretor superintendente da unidade digital e sistemas da marca. “Trabalhamos juntos há algum tempo no ecossistema da eletrificação. A WEG na área de infraestrutura física e a Tupi no desenvolvimento de softwares para integrar fornecedores de energia, fabricantes de estações de recarga, operadores de redes, montadoras e usuários finais.”

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O aplicativo da Tupi é uma plataforma digital consolidada, que conecta 370 mil usuários de automóveis elétricos às redes e já executou 1,3 milhão de recargas, o equivalente ao fornecimento de 26 GWh de energia.  

“Com a integração das plataformas, a WEG poderá ampliar a oferta de infraestrutura com elevada taxa de sucesso. O serviço tem de estar sempre disponível”, revela. Grillo cita um relatório de 2024 preparado pela empresa de consultoria JD Power, que apontou haver algum tipo de falha em 20% das operações de recarga nos Estados Unidos.

WEG assume operação da Tupi

Não existem, ainda, pesquisas similares no Brasil, mas, segundo Grillo, há um testemunho interessante da Rede Farroupilha, do Rio Grande do Sul, proprietária do projeto Esquina do Futuro. O empreendimento garante que a taxa de sucesso dos equipamentos da WEG, dotados de softwares da Tupi, é de 99,6%.

Além do aplicativo destinado aos consumidores, a Tupi mantém a plataforma Tupi Conecta, que gerencia as redes para montadoras e operadores de pontos de recarga. Com a negociação, a WEG assume uma operação que faturou cerca de R$ 40 milhões em recargas nos últimos 12 meses, com receita líquida de R$ 8,6 milhões no ano passado.

“Isso comprova a maturidade do sistema, ao contrário dos aparelhos mais antigos usados nos Estados Unidos, em atividade há quatro, cinco anos”, atesta. Grillo conta que estações de recarga modernas são fundamentais na eletrificação.

“Elas são ‘escravas’ dos veículos elétricos, que exigem exatamente o que precisam. Os equipamentos devem distribuir de maneira inteligente a energia disponível conforme o número de carros atendidos e fazer a leitura de que não está havendo sobrecarga”, salienta.

Embora seja a primeira aquisição de uma empresa na área da eletrificação veicular, a iniciativa da WEG de incorporar empresas que acrescentem atributos aos seus negócios não é inédita. Em 2019, ela comprou uma companhia especializada em sistema de armazenamento de energia e, no ano seguinte, fechou negócio com outra, voltada à inteligência artificial (IA).

Centro do debate sobre mobilidade elétrica

“Tentamos mapear oportunidades que agreguem valor aos projetos desenvolvidos pela WEG”, argumenta o executivo. “Com a Tupi, a ideia é injetar capital para reforçar a engenharia, desenvolver programas de inteligência artificial e criar novos softwares.”

Grillo acrescenta que a WEG também planeja levar para fora do Brasil seu modelo de negócios sobre infraestrutura de recarga e a Tupi terá papel importante para atrais novos parceiros.

Em meio ao anúncio da compra, a WEG também apresentou outra novidade: a estação de recarga ultrarrápida mais potente fabricada no Brasil. Com potência de até 640 kW, ela pode recarregar quatro ônibus ou caminhões elétricos simultaneamente em menos de 30 minutos.

Segundo Clemente Gauer, diretor da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o investimento da WEG indica claramente uma direção estratégica e de sinergias operacionais para acelerar a infraestrutura de recarga e a adoção de veículos elétricos na frota nacional. “A negociação comprova que a eletromobilidade, baseada em energia eficiente e abundante, deixou de ser mera promessa para virar realidade”, diz.

Para ele, o movimento contrasta com as dificuldades do segmento de bioenergia. “Os desafios diante da complexidade do etanol de segunda geração – feitos a partir de resíduos agrícolas – e dos inevitáveis impactos climáticos nas safras, sinalizam que a eletrificação no Brasil merece estar no centro do debate energético e não na periferia dos biocombustíveis”, completa.

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87% das empresas de transporte querem eletropostos próprios

Quem ainda não tem, quer ter. A Edenred Ticket Log, empresa de soluções de mobilidade na América Latina, entrevistou 300 gestores de frotas para identificar os avanços da eletrificação no Brasil.

O estudo aponta que 76% das empresas donas de veículos elétricos fazem a recarga em suas sedes e 42% também recorrem a fornecedores. Entre as que ainda não eletrificaram suas frotas, 87% planejam implantar eletropostos nos próximos anos.

Segundo o levantamento, 33% das empresas contam com apenas um carregador em suas instalações, enquanto outras 33% trabalham com dois a cinco aparelhos. Já 13% das companhias implantaram entre seis e dez unidades e 13% possuem acima de 11.

Bruno Barbosa, da Edenred: “Companhias buscam soluções integradas”. Foto: Divulgação/WEG

As empresas disseram que se valem de locais externos, como a sede de seus colaboradores (17%) e hubs de recarga públicos (26%).

“Há um claro movimento em direção à inovação e à descarbonização, mas as empresas buscam soluções integradas que simplifiquem o processo”, diz Bruno Barbosa, diretor de estratégia e mobilidade elétrica da Edenred Brasil. “Veículos elétricos, quando conectados a sistemas de telemetria avançada, permitem análise em tempo real do desempenho e da eficiência, fatores decisivos para manutenções preditivas e uso eficiente da frota”.