O transporte na COP-30
Para as cidades brasileiras, a descarbonização é uma prioridade oportuna. A dependência de combustíveis fósseis faz dos transportes a principal fonte de emissões do setor de energia no País
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02/12/2025
Pode-se argumentar que a COP-30 teve resultados heterogêneos, alguns inclusive frustrantes. Mas temas importantes da agenda urbana foram fortalecidos. Essa foi a COP que colocou as discussões sobre moradia digna na agenda oficial; em que mais de 80 municípios brasileiros aderiram ao Mutirão contra o Calor Extremo nas cidades; e em que países, setor privado e sociedade civil anunciaram importantes compromissos e iniciativas para descarbonizar o transporte.
Para as cidades brasileiras, a descarbonização é uma prioridade oportuna. A dependência de combustíveis fósseis faz dos transportes a principal fonte de emissões do setor de energia no País, e gera impactos significativos na saúde e na qualidade de vida urbana. A mudança para tecnologias zero emissão, portanto, contribui tanto para a mitigação climática quanto para a saúde e o bem-estar – sobretudo se combinada à priorização do transporte público e da mobilidade ativa.
Essa agenda esteve em evidência já no Fórum de Líderes Locais da COP-30, que reuniu centenas de prefeitas e prefeitos de todo o mundo no Rio de Janeiro no início de novembro. A Paris caminhável e compacta de Anne Hidalgo, as zonas de ultrabaixa emissão de Londres e os milhares de ônibus elétricos da Santiago, no Chile, foram exemplos recorrentes do que as cidades já estão fazendo pelo clima e pela qualidade de vida.
Mas os líderes também reafirmaram que, ainda que despontem como líderes climáticas, as cidades sozinhas não serão capazes de promover a mudança em escala que é necessária. Precisam de financiamento, capacitação e do apoio dos governos nacionais e do fortalecimento da governança multinível entre união, estados e municípios que no Brasil se convencionou chamar de federalismo climático.
Iniciativas para a eletrificação
Um primeiro anúncio animador veio ainda no Rio: a estruturação de um fundo de crédito para viabilizar a aquisição de mais de 1,7 mil ônibus elétricos em cidades brasileiras, uma proposta que WRI Brasil, ITDP Brasil e BTG Pactual estão preparando com parceiros para submeter ao Mitigation Action Facility, programa multidoadores de apoio a iniciativas de mitigação.
Em Belém, o transporte seguiu na pauta. Foi a primeira COP com um pavilhão dedicado ao setor. Lá, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima lançou com o WRI Brasil as Diretrizes para Descarbonizar o Transporte Urbano de Carga, um conjunto abrangente de ações federais, algumas já em andamento, outras ainda a serem desenvolvidas.
Em sintonia com as diretrizes, a coalizão Laneshift e-Dutra anunciou a criação do primeiro corredor logístico de baixo carbono do Brasil, entre o Rio de Janeiro e São Paulo. A experiência será acompanhada de perto pela e-FAST Brasil, plataforma multissetorial que reúne governos, setor privado e sociedade civil para produzir conhecimento e acelerar a eletrificação do transporte de carga.
COP-30: transporte coletivo e ativo
Mas é claro que não é só de Brasil que se faz uma COP, e nem só de veículos motorizados se faz a mobilidade urbana. Na conferência que terminou sem apresentar um roteiro da “transição para longe dos combustíveis fósseis”, 11 países, incluindo o Brasil, assinaram um compromisso setorial de descarbonização do transporte. Liderado pelo Chile, o documento propõe a meta de reduzir em 25% o consumo de energia do setor e realizar a transição para 35% de combustíveis verdes até 2030.
Para chegar lá, declaram que é necessário promover “eletrificação, aumento do uso de energia renovável” e – muito importante – “o transporte público e não motorizado”. Assim, os países signatários reconhecem que devem apoiar o desenvolvimento de cidades compactas e caminháveis e com transporte coletivo de qualidade.
A estabilização do clima se faz, também, a pé e de transporte coletivo. Parece uma boa metáfora sobre a persistência, resiliência e cooperação de que precisamos. Voltamos de Belém com anúncios que mostram governos, setor privado, instituições financeiras e sociedade civil trabalhando em uma mesma direção. Que esse senso de propósito coletivo produza frutos rumo à COP-31 e além.
Artigo escrito em parceria com Magdala Satt Arioli, gerente de Mobilidade Urbana e de Descarbonização do Transporte do WRI Brasil
Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão
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