Meinha: o maior vencedor da Stock Car
Ele nunca pilotou carro de corrida, mas supera os grandes ídolos da categoria, com sobras
Ingo Hoffmann, 12 títulos, Cacá Bueno, cinco, Paulo Gomes, quatro. Com três campeonatos: Ângelo Giombelli, Chico Serra, Daniel Serra e Ricardo Maurício. Sabe o que quase todos esses pilotos têm em comum? O mesmo nome por trás de suas conquistas, o do curitibano Rosinei Campos, o “Meinha”.
O curso de mecânica no Senai era a chance de o garoto de família humilde ser alguém, ajudar os pais, José e Alice. Aluno aplicado, trocou mecânica de máquinas por automotiva, e não fazia ideia do quanto acertou com a decisão. O bom desempenho lhe valeu o primeiro emprego, indicado pelo próprio Senai à retífica de motores Motorama.
Orgulhoso, repete sempre: “Dei 80% do meu primeiro salário, de Cr$ 104, para minha família”. Ficou na retífica por dois anos, até ser convidado por um carioca, o senhor Mac Scury, dono de escolas de idiomas, que queria instalar uma oficina “diferenciada” em Curitiba. Diante das boas referências, o convite foi feito.
Da retífica aos autódromos
O senhor Scury queria entrar no automobilismo e, coincidentemente, se encontrou com um tal de Raul Boesel, que topou pilotar um Opala da extinta Divisão 1 para ele, em 1978. No ano seguinte, estreava uma categoria interessante, com apoio de fábrica, a Stock Car, e Boesel decidiu que seria sua escolha. Um novo Opala chegava à oficina. A Stock Car deve boa parte de sua criação aos irmãos Affonso e Zeca Giaffone. Affonso, campeão em 1981, tinha a mania de apelidar todo mundo com os nomes dos personagens do humorista Chico Anysio. Ao ver o franzino Rosinei, não hesitou: “Este é o Meinha”.
Depois de apenas três provas, a cisão entre Boesel e Scury relegava a equipe a apenas um carro, algumas ferramentas e um ajudante. Ainda funcionário de Scury, Meinha recebeu a visita da dona Elizadéa, mãe de Raul: “Você poderia nos ajudar na corrida do Rio?” E lá se foi Meinha fazer um “freelance” e voar pela primeira vez na vida. Na volta, o bilhete azul na oficina “diferenciada”. Meinha se juntava ao “Bozó”, apelido dado por Giaffone a Raul Boesel, em função do patrocínio que ele ostentava, de um jornal carioca. A partir daí, Bozó e Meinha teriam de se virar.
Destinos separados
Em 1980, Boesel foi para a Inglaterra iniciar sua carreira internacional, e Meinha, que achava que seguiria junto, acabou fazendo parte do “pacote” (carro e equipamentos) vendido aos irmãos Spinelli, que montavam uma forte equipe em São Paulo.
Autodidata, avesso a redes sociais – demora dias para responder um WhatsApp – e com base apenas no curso do Senai, Meinha tornou-se um mago dos motores, alugando-os a várias equipes, até fundar a sua, em 2000. Com cerca de 30 funcionários, a estrutura vizinha ao autódromo de Curitiba prepara quatro Stock Car e dois Mercedes-Benz GT3. A responsabilidade técnica agora é dividida com o filho Marcel, que se formou em engenharia, e com a esposa, Denise, que administra o negócio.
Insônia e ansiedade
Mesmo sendo o chefe de equipe mais premiado da categoria, Rosinei Campos rói as unhas e sofre de insônia nos finais de semana de corrida. “Deito-me cansado e depois de cerca de duas horas de sono, acordo e começo a pensar no que fazer para melhorar nosso desempenho. Não tem jeito, sempre fui assim”, confessa o único chefe de equipe a participar de todas as corridas da Stock Car, de 1979 até hoje.
Foram 13 títulos conquistados, com Marcos Gracia (1986), Ingo Hoffmann (1996/97 e 98), Giuliano Losacco (2004), Cacá Bueno (2006/07), Max Wilson (2010), Ricardo Maurício (2013/20) e Daniel Serra (2017/18 e 19). Antes das próximas etapas, que serão disputadas nos dias 19 e 20, no Autódromo Velocitta, um de seus pilotos, Daniel Serra, lidera a tabela de classificação. O outro, Ricardo Maurício, é o atual campeão. Haja unha.
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