Mobilidade e clima, uma questão de energia
“Com políticas que incentivem compartilhamento de viagens, transporte público, ciclismo e caminhada, a qualidade do ar pode ser melhor”
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01/06/2022
Não podemos falar sobre mobilidade sem relacioná-la ao clima e à qualidade de vida nas cidades. O setor de transportes é o maior responsável pelas emissões de gases que causam o efeito estufa nos centros urbanos: estudo do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema) revela que os automóveis respondem por 72,6% dessas emissões.
A necessidade da transição global desse setor para uma economia de baixo carbono foi tema da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-26), no ano passado.
Um levantamento apresentado na conferência pela Climate Action Tracker (CAT), organização de análise climática, mostrou a urgência em cortar o uso de combustíveis fósseis: se os países não se comprometerem com as metas a longo prazo, o mundo deve enfrentar um aumento de 2,4 ºC na temperatura global até o fim do século. Bem mais do que o 1,5 ºC considerado seguro e acordado por 175 países, incluindo o Brasil, no Acordo de Paris.
O Brasil é um dos grandes produtores de energia renovável, e tem potencial para se tornar referência na geração de energias limpas, com destaque para a produção de bioenergia: 48% da nossa matriz energética é renovável, enquanto a do mundo todo não chega a 15%.
O País é atualmente o maior produtor de etanol de cana e o segundo maior de biocombustíveis no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Em matéria da revista Forbes, o etanol hidratado usado nos carros flex, somado ao anidro misturado à gasolina na proporção de 27%, reduziu a emissão de CO2 equivalente a 575 milhões de toneladas, desde março de 2003 (quando foram lançados os carros flex) até agosto de 2021.
Essa redução corresponde à soma das emissões totais da França e da Espanha. Ou ainda: para atingir a mesma economia de CO2, é necessário plantar mais de 4 bilhões de árvores ao longo de 20 anos.
Cidades sufocadas
O uso do biocombustível é, comprovadamente, um fator de melhora na qualidade do ar nas grandes cidades. Estudo desenvolvido por uma equipe de médicos e especialistas da Universidade de São Paulo (USP) concluiu que o uso do biocombustível, nas oito principais regiões metropolitanas do Brasil, foi responsável pela redução de quase 1.400 mortes e mais de 9.000 internações anuais ocasionadas por problemas respiratórios e cardiovasculares associados, somente, ao uso de combustíveis fósseis.
Além do uso do etanol, outras soluções, como a eletrificação da frota de veículos, deverão fazer parte de um conjunto de múltiplas rotas tecnológicas com um objetivo comum: a descarbonização da economia e a melhora na qualidade do ar.
O pesquisador Jacob Mason, gerente de pesquisa e avaliação de transporte do Institute for Transportation and Development Policy (ITDP), afirma que, ‘se os veículos de transporte individuais não se tornarem predominantemente compartilhados com outras pessoas fazendo viagens semelhantes até 2050, nossas cidades serão sufocadas pelo congestionamento e pelas emissões maciças que ele gera.
Mas, com políticas que incentivem compartilhamento de viagens, transporte público, ciclismo e caminhada, o futuro pode ser mais limpo e menos caro’.
Outro modal essencial para o deslocamento sustentável é a bicicleta. Segundo a Tembici, empresa líder na América Latina em tecnologia para micromobilidade e operadora do sistema Bike Itaú, nos anos de 2020 e 2021, as viagens feitas por meio do serviço pouparam a emissão do equivalente a 11 mil toneladas de CO2 na atmosfera, equivalente ao plantio de cerca de 77 mil árvores.
De abril de 2020 para janeiro de 2021, somente no Rio de Janeiro, o sistema registrou um aumento de 500% novos usuários e, em uma pesquisa realizada pela empresa com mais de 1.400 respondentes em todas as praças em que atua, mostrou que 83% deles pretendem pedalar mais neste ano e 38% acreditam que a bicicleta será o modal de transporte mais utilizado em 2022.
Ainda de acordo com o ITDP, se as cidades adotarem a automação, a eletrificação e o compartilhamento de viagens, poderiam reduzir as emissões de transporte em 80%. Apoiando a criação de políticas públicas que viabilizem a ampliação do transporte elétrico, automatizado e compartilhado, teremos um futuro mais limpo, mais saudável e mais acessível a todos.
Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão
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