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Mobilidade ativa ganha mais atenção com a pandemia
Mapa mostra que as cidades têm se aberto mais para pedestres e ciclistas durante a quarentena
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09/07/2020
Um dos maiores impactos da pandemia de covid-19 e das consequentes medidas de distanciamento social para a mobilidade é o menor uso do transporte público. Contudo, para que os veículos particulares não se tornem a única opção durante a pandemia, cada vez mais cidades têm criado espaços para ciclistas e pedestres.
Naturalmente, a principal recomendação é que as pessoas fiquem em casa, mas quando os deslocamentos são necessários a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que eles sejam feitos a pé ou de bicicleta sempre que possível.
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Segundo a entidade, “isso proporciona o distanciamento físico, enquanto ajuda a alcançar o mínimo necessário de atividades físicas diárias”. É mais seguro contra contaminações do que o transporte público e evita as consequências do uso exagerado de carros, como trânsito e poluição. Pensando nisso, muitas cidades estão investindo alto em alternativas.
Intervenções simples que fazem diferença na mobilidade
A covid-19 tem culminado em diversas intervenções em cidades do mundo todo. Muitas dessas mudanças são simples e de baixo custo, como o uso das ruas para criar ciclovias mais largas e seguras. Em Berlim (Alemanha), elas são marcadas com fita e tinta; Bogotá (Colômbia) utiliza cones para criar as ciclovias provisórias.
A prefeita de Paris (França), Anne Hidalgo, pretende entregar 650 quilômetros de novas ciclorrotas quando a cidade for reaberta. Na Cidade do México, serão 128 quilômetros de estruturas provisórias para melhorar o deslocamento das bicicletas.
Alguns gestores públicos têm aproveitado a crise e o menor número de pessoas nas ruas para colocar planos mais ambiciosos em prática. Lima (Peru), por exemplo, pretende instalar 301 quilômetros de ciclovias temporárias, mais que o dobro do que está disponível atualmente.
Depois da pandemia, essas vias serão convertidas em uma rede definitiva, integrando toda a cidade. “Sendo Lima uma cidade plana e sem clima extremo, pode se transformar em uma cidade potencialmente ciclista”, afirmou um representante da Autoridade de Transporte Urbano de Lima ao jornal peruano El Comercio.
Um pensamento semelhante pode ser observado em Milão, capital da Lombardia, região mais afetada pela pandemia na Itália, que anunciou no fim de abril o plano Strade Aperte (estrada aberta, em português).
O programa inclui obras em mais de 35 quilômetros de ruas que receberão novas ciclofaixas, calçadas mais largas e terão menor limite de velocidade, para oferecer mais segurança a pedestres e ciclistas.
Mudança duradoura de comportamento
Planos como os de Lima e Milão demonstram que a crise pode ser uma chance para repensar as cidades, com desdobramentos positivos depois que o pior passar. “O plano de Milão é importante porque apresenta um manual de como você pode resetar as cidades agora. Essa é uma oportunidade única para ter um novo olhar sobre as ruas”, afirmou a urbanista Janette Sadik-Khan ao periódico britânico The Guardian.
Até mesmo em locais que já têm uma boa estrutura cicloviária esse momento pode marcar uma mudança de comportamento em prol de uma mobilidade ativa e sustentável.
Na Filadélfia, o tráfego de ciclistas aumentou 150% desde que as medidas de isolamento social foram adotadas. O Citi Bike, sistema de compartilhamento de bicicletas de Nova York, teve crescimento de 67% na demanda.
O especialista em urbanismo tático Mike Lyndon criou um mapa para reunir as iniciativas de urbanismo em mobilidade ativa em todo o mundo. Dezenas de cidades, em vários continentes, criaram ciclovias temporárias; outras focaram os pedestres, transformando ruas em vias calmas. Oakland, na Califórnia, é um dos principais exemplos disso: 10% da malha viária da cidade foram fechados no início de abril.
Já em Nova York e Toronto (Canadá), os pedestres podem contar com o auxílio da tecnologia. Um grupo de desenvolvedores criou o site Sidewalk Widths, que usa dados abertos sobre a largura das calçadas para criar um mapa, mostrando onde há mais espaço para caminhar sem aglomerações.
E no Brasil?
Na visão de Arthur Igreja, especialista em tecnologia e inovação, o momento atual deixa mais evidente um problema que já existia antes da necessidade de isolamento social. Ele avalia que, por mais que a bicicleta faça mais sentido para as grandes cidades brasileiras, no contexto atual essa alternativa também esbarra na falta de infraestrutura cicloviária no País.
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Mesmo assim, Igreja acredita que a menor quantidade de carros pode tornar as ruas mais seguras e encorajar as pessoas a andarem de bicicleta, estimulando uma mudança maior em longo prazo. “Para muitos, vai ser a oportunidade de testar um novo modal que poderá ser utilizado de forma intensiva na saída da pandemia”, afirmou.
Fonte: Agência Brasil, Arthur Igreja, Instituto WRI Brasil, Mobilize, Organização Mundial da Saúde, El Comercio, The Guardian, Forbes
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