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Summit Mobilidade: Especialistas debatem os desafios do transporte público

Por: Mônica Minir, especial para o Mobilidade . 28/05/2024

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Summit Mobilidade: Especialistas debatem os desafios do transporte público

Tarifas altas, falta de infraestrutura e até mesmo ruas com calçadas quebradas são alguns dos problemas que usuários enfrentam, confira a opinião de especialistas

4 minutos, 16 segundos de leitura

28/05/2024

Painel Desafios do Transporte Público
Especialistas apontam que o solução para trazer mais usuários para o transporte público não é única, mas envolve várias frentes. Foto: Thiago Queiroz/Estadão

Como tornar o transporte público atraente à população? Foi essa a pergunta que permeou o painel “Desafios do transporte público”, dentro do Summit Mobilidade. Clarisse Cunha Linke, mestre em Políticas Sociais, ONGs e Desenvolvimento pela London School of Economics and Political Science (LSE) e diretora executiva do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento (ITDP Brasil), entende que a chave é a integração.

No entanto, essa integração deve ocorrer em três frentes: a tarifária, para que os usuários, especialmente os que vivem longe do Centro, não sejam onerados além de suas condições; a operacional, para que o processo de baldeação, por exemplo, não gere uma falta de encadeamento da viagem; e a de infraestrutura, pensando em viagens não apenas de trabalhos produtivos, mas também nos trabalhos e viagens não remunerados, de ida ao médico, de visitas a parentes, de busca pelo lazer.

Clarisse Linke cita as experiências da Europa que podem ser aplicadas no transporte público brasileiro. Foto: Thiago Queiroz/Estadão

Para tanto, ela propõe que todas essas variáveis fossem interligadas de forma única, nos moldes das cidades europeias, em que as pessoas se transportam de um modal para o outro como um feixe contínuo. É um cenário no qual, no final das contas, ninguém sabe quem detém ou não aquela concessão e não há tabu, por exemplo, para se rever os contratos, caso as empresas não estejam entregando de fato o que prometeram. ”Precisamos de uma integração institucional”, diz, “à revelia de políticas e interesses intocáveis”.

Leia também: Descarbonização nos transportes depende de políticas públicas e tecnologias

Para Sérgio Avelleda, consultor em Mobilidade Urbana e ex-secretário municipal de Mobilidade e Transportes de São Paulo entre 2017 e 2018, há que se prestar atenção à micromobilidade, que trate de soluções que atendam aos deslocamentos curtos. “Costumo dizer que o usuário do transporte público não começa a ser esse usuário quando chega ao ponto de ônibus ou quando embarca na estação de metrô ou trem, mas quando amarra o tênis em casa e decide pegar um transporte público”, afirma.

O cuidado com a rede que conecta casas e empregos lhe parece fundamental para o funcionamento e a atratividade do transporte público. Nesse contexto, calçadas malfeitas, negligenciadas, lhe causam indignação. “Temos 17 mil km de vias em São Paulo e 90% desse espaço é reservado para o automóvel”, diz. “Dedicamos muito mais atenção à infraestrutura do carro do que à das calçadas, apesar de termos muito mais gente usando calçadas do que vias e avenidas”. No seu entender, criar um ambiente de micromobilidade com calçadas atrativas e ruas acolhedoras contribui não só para o maior uso do transporte público como também para uma maior segurança pública.

Sérgio Avelleda: “Temos 17 mil km de vias em São Paulo e 90% desse espaço é reservado para o automóveis”. Foto: Thiago Queiroz/Estadão

Manoel Marcos Botelho, secretário executivo de Transportes Metropolitanos do Governo do Estado de São Paulo, entende que a perda considerável de passageiros no pós-pandemia (de 10 milhões de passageiros por dia para 8 milhões diários), e a inflação de custos também nesse período implicaram sérios efeitos econômicos nas empresas que operam com o transporte público, que não foram repassados para a tarifa.

A fim de tentar debelar essa questão econômica, Botelho lembra que o governo constituiu uma secretaria para cuidar especificamente das concessões de parcerias, sabendo da escassez do orçamento do Estado e da perspectiva de trazer o setor privado para acelerar o processo de expansão da malha. “Várias propostas estão em estudo no sentido de oferecer uma ampla carteira de investimentos em mobilidade e transporte por meio de projetos bem estruturados economicamente, rentáveis, para conseguir essa atratividade num tempo menor”, afirma.

Joubert Fortes Flores Filho, presidente do Conselho Administrativo da Associação Nacional dos Transportadores e Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), entidade civil sem fins lucrativos criada em 1977, lembra que o transporte ferroviário, um dos modais mais requisitados nesse processo de integração, já teve destaque na cultura do transporte nacional.

“A gente acreditou que o carro seria mais rápido, mas não tem carro para todo mundo.”

Joubert Fortes Flores Filho, presidente do Conselho Administrativo da ANPTrilhos

Flores Filho recuperou os tempos áureos dos bondes e dos trens intercidades. “A gente acreditou que o carro seria mais rápido, mas não tem carro para todo mundo”, diz. Sem saudosismo, entende que o momento é positivo para esse sistema secular: “O governo federal tem interesse e está voltando a pensar outra vez no sistema ferroviário”, afirma. “Apesar de ser mais demorado, se for pensar quanto custa um passageiro transportado dessa forma, vai ser possível perceber que vale o investimento.”

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