Descarbonização nos transportes depende de políticas públicas e tecnologias
Painel reúne executivos que defendem incentivos do governo
federal e diversidade de matrizes energéticas
4 minutos, 45 segundos de leitura
28/05/2024
Por: Mario Sérgio Venditti, em especial para o Mobilidade
Um dos painéis do Summit Mobilidade 2024 discutiu uma questão extremamente importante para a mobilidade brasileira: os caminhos para acelerar a descarbonização nos transportes. No Brasil, todo o ecossistema envolvido na mobilidade vem se movimentando a fim de reduzir a pegada de carbono.
Segundo Roberto Cortes, presidente e CEO da Volkswagen Caminhões e Ônibus, a primeira medida do setor é reconhecer que a indústria automotiva polui e precisa se esforçar para diminuir o mais rápido possível o nível de emissões de dióxido de carbono (CO2). “Uma das soluções é utilizar combustíveis biovegetais e investir na eletrificação da frota”, avalia. “Temos uma frota velha no Brasil e, por isso, a renovação seria uma contribuição fundamental.”
Marcelo Nunes, vice-presidente da Indigo Brasil, cita duas medidas empregadas pela empresa. “Porta adentro, colocamos em prática diversas atividades para mitigar as emissões, como o uso de placas solares e veículos elétricos nas tarefas internas. Porta afora, ajudamos na mobilidade urbana, com a organização de nossos estacionamentos – sem que os carros circulem lá dentro até achar uma vaga – e nas áreas de zona azul das cidades, por exemplo”, afirma.
Segundo Nunes, quando há uma gestão adequada desses lugares, o desafogo no trânsito chega a 30%, causando, consequentemente, a redução das emissões de CO2.
Vantagens do ônibus elétrico
Para Iêda de Oliveira, diretora executiva da Eletra, a descarbonização dos transportes passa pela eletrificação. Ela fala das vantagens dos ônibus movidos a bateria. “Um ônibus elétrico em circulação deixa de emitir 102 toneladas de CO2 por ano. Isso equivale ao plantio de 6.400 árvores”, garante.
Ieda conta que a Eletra tem sido muito atuante, mas o Pais está aquém do que deveria no transporte público sustentável. “É impossível falar de transporte público eletrificado sem que existam políticas públicas. A falta de incentivo trava o avanço da eletromobilidade”, acredita.
A diretora da Eletra vai além, ao dizer que a indústria nacional de ônibus elétricos está na UTI. “Não dá para fazer frente com a competitividade da China sem que o Governo Federal crie mecanismos para nos ajudar”, completa.
Ana Zornig Jayme, assessora de investimentos do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), destaca que a descarbonização nos transportes pressupõe que as todas as cidades devem apresentar interações dos modais para facilitar o deslocamento de todos.
“Precisamos trazer todos os elementos para a mesa de discussão. Costumo fazer a analogia da mobilidade urbana com um quebra-cabeças de cinco mil peças. Na caixa, a gente vê uma imagem linda, mas é preciso ter estratégia para juntar todas as peças”, acentua. “Uma das estratégias de que a mobilidade urbana necessita são as politicas públicas”.
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‘Nosso desafio é explicar aos usuários que não precisam de carro’
Ana Zornig revela que 5,6% das emissões provocadas pelo setor do transporte advém do transporte público. “Curitiba está investindo na eletrificação da frota, porém, nosso desafio é explicar aos usuários que eles não precisam de carro. Isso exige mudança de comportamento”, ressalta.
Se as políticas públicas são vitais para a descarbonização dos transportes, Cristina Albuquerque, diretora de eletromobilidade global do WRI (World Resources Institute), menciona outro fator essencial: a tecnologia. “Quando falamos em sustentabilidade, entramos no campo do desenvolvimento e no planejamento das cidades, com o objetivo de fomentar a discussão de modais que não agridam o meio ambiente”, diz.
“Quanto mais usarmos as tecnologias a nosso favor, mais rápida a desaceleração das emissões”, cita Cristina Albuquerque. Houve unanimidade dos participantes do painel de que a descarbonização pode ocorrer com diferentes matrizes energéticas. Ou seja, não se deve privilegiar uma em detrimento da outra.
“O diesel ainda vai existir por um bom tempo, mas já estamos considerando o biodiesel vegetal (HVO), que, por enquanto, é caro e tem pequena disponibilidade”, explica Cortes. Ele lembra que a Volkswagen foi a primeira montadora a desenvolver um caminhão elétrico destinado ao mercado brasileiro, mas inexiste incentivo do governo para a compra”, diz.
Para Marcelo Nunes, a democratização no uso dos transportes deve envolver todos os meios de transporte, como carros, ônibus, motos e bicicletas. “Não precisamos começar com o ‘ótimo’, o
importante é avançar”, realça.
Iêda de Oliveira admite que o ônibus elétrico não é a única solução, embora seja uma das mais importantes. “A Eletra detém 86% do mercado de ônibus elétricos no País. Os custos deles representam um sexto dos ônibus a diesel”, assegura. “Além disso, são mais confortáveis, silenciosos e possuem aceleração controlada.”
Ana Jayme considera inócua a discussão de favorecer apenas uma fonte de energia. “Se todos quiserem etanol ou biodiesel, não haverá para todo mundo”, diz. Para ela, a infraestrutura nas cidades deve receber investimentos de curto, médio e longo prazos para favorecer a transição gradativa da eletromobilidade.
Por fim, Iêda Oliveira afirma que de 80% a 100% das recargas dos veículos elétricos são feitas à noite, durante a baixa do consumo e caberá às empresas distribuidoras a tarefa de levar a energia até o local necessário.
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