Carro por app ganha força na periferia durante a pandemia
Pesquisa revela aumento de 55% no uso desse tipo de transporte nas regiões de fora dos centros expandidos em todo o País
3 minutos, 31 segundos de leitura
28/08/2020
O isolamento social durante a pandemia causada pelo coronavírus foi um privilégio ao qual muita gente não teve acesso, como mostra pesquisa realizada pela 99, empresa de tecnologia e mobilidade urbana.
Segundo o levantamento, 20% dos moradores das zonas periféricas das principais capitais brasileiras tiveram que trabalhar todos os dias desde março, 22% puderam ficar em casa por apenas 3 meses e já estão na ativa há pelo menos 2 meses.
“A pandemia escancarou desigualdades sociais que já eram óbvias, mas para as quais talvez a gente fechasse os olhos, e que dizem como as classes sociais são impactadas pelas crises, especialmente uma crise sanitária como essa”, avalia Pamela Vaiano, diretora de comunicação da 99. “O Brasil nunca adotou um lockdown severo. Pelo que vimos na nossa plataforma, as classes mais baixas e periféricas foram as que tiveram realmente que estar em trânsito e se expor na pandemia.”
Crescimento
Nesse cenário, o uso de carros por app teve um aumento de 55% nas regiões de fora dos centros expandidos e se revelou como uma alternativa mais segura de transporte, segundo mostra o levantamento.
“Diante disso, tomamos medidas para que nossos carros sejam alternativas ainda mais seguras. Além da distribuição de mais de 600 mil máscaras e álcool gel para motoristas de todo o País, foram criadas bases de sanitização de carros”, diz Pamela.
“É um serviço totalmente gratuito, onde os motoristas podem ir à base, onde seus carros recebem nanopartículas secas que sanitizam e protegem todo o veículo. Também investimos na implantação de escudos de proteção, que separam o motorista do passageiro.”
A diretora destaca que o aumento do uso de carros por app prova que as parcerias público-privadas em benefício da população deveriam ser ampliadas nas políticas de transportes – tendência que vem sendo adotada por vários países durante a pandemia.
“No mundo, a gente tem visto uma aceleração da integração do pagamento dos meios de transporte, que é algo de que o Brasil se beneficiaria muito. Imagina se com um bilhete único o cidadão pudesse não só pagar o transporte público, mas também um transporte privado, como um carro de app?”, questiona.
Pamela também cita outra forma de política público-privada, que já vem tomando forma na 99. Em Porto Alegre, a plataforma fornece dados de trânsito para os órgãos públicos do setor em tempo real – o que vem contribuindo para melhorias da mobilidade na capital gaúcha.
“Nosso mapa de fluidez tem sido crucial para que Porto Alegre possa fazer a gestão da quarentena e ajudado muito a entender como a cidade está vivenciando o isolamento”, explica Pamela. “Com isso, os gestores de mobilidade podem tomar decisões rápidas, como mudanças de faixas, de controle de semáforos ou até fazer desvios para que o trânsito flua melhor.”
Risco de retrocesso
A pesquisa da 99 foi divulgada durante o Summit Mobilidade Urbana 2020, maior evento sobre o tema realizado no País e promovido pelo Estadão em parceria com a 99. O evento, com público 100% online nesta edição em razão da pandemia, reuniu acadêmicos, políticos e ativistas nacionais e internacionais no último dia 12 de agosto.
O levantamento apontou ainda que 13% dos moradores das periferias das principais capitais brasileiras aumentaram a frequência de uso de seus carros durante a pandemia, e outros 4%, que não costumavam dirigir seus veículos no dia a dia, passaram a utilizá-los.
Segundo Pamela, este crescimento pode ser um risco para os avanços que vinham sendo conquistados na mobilidade urbana – como o maior uso do transporte ativo, público e compartilhado.
“O medo do contágio pelo coronavírus tem feito as pessoas se isolarem dentro de seus carros, e certamente isso é um perigo para uma evolução que já era lenta nos últimos anos”, afirma. “O entendimento de que um ecossistema de transporte diverso é o ideal para que a gente possa diminuir o trânsito e ter mais qualidade de vida é um pensamento que não pode ser abandonado.”
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