Micromobilidade como alternativa para cidades sustentáveis
Carros particulares e vans são responsáveis por 10% de todas as emissões de CO2 do planeta, o que demonstra a importância de opções como estes tipos de transporte
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15/10/2024
O transporte urbano é um dos pontos centrais quando discutimos o combate às mudanças climáticas, e há várias maneiras de trilhar o caminho para cidades mais sustentáveis.
Nesse sentido, a micromobilidade é uma alternativa tanto para substituir veículos que emitem grandes volumes de CO2 quanto para possibilitar que mais pessoas acessem meios de transporte mais limpos. Para aproveitar todo o potencial desse tipo de solução, no entanto, é preciso planejamento.
Conceito de micromobilidade
Em primeiro lugar, cabe definir o que é micromobilidade. De acordo com o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), este conceito está associado a deslocamentos realizados em veículos leves, de propulsão humana ou elétrica com velocidades baixas (até 25 km/h) a moderadas (até 45 km/h). Estamos falando de bicicletas, patinetes, skates, triciclos, entre outros.
Segundo dados da Agência Internacional de Energia, apenas os carros particulares e vans são responsáveis por 10% de todas as emissões de CO2 do planeta. Isso mostra a importância de encontrarmos alternativas a estes tipos de transporte, e veículos leves podem ter um papel relevante.
Multiplicando o acesso
O ITDP calcula quantas pessoas vivem a até 15 minutos de caminhada de uma estação de transporte de média ou alta capacidade, como metrôs, VLTs e terminais de ônibus, a fim de medir quão acessíveis são esses modais.
Dessa forma, este é o tempo máximo ideal, segundo o instituto, que os cidadãos deveriam percorrer para adotar o transporte público no dia a dia. E a micromobilidade tem impactos relevantes no volume de pessoas que fariam essa opção.
Segundo a pesquisa “Como maximizar a micromobilidade”, também do ITDP, em Fortaleza (CE) cerca de 20 mil pessoas moram a até 15 minutos a pé da estação de VLT Antônio Sales, só que mais de 100 mil vivem a até 15 minutos de bicicleta. Ou seja, a micromobilidade, neste caso, multiplica por cinco a quantidade de pessoas que podem acessar a estação.
Já o estudo da International Transport Forum (ITF) analisou dados de diversos serviços de compartilhamento de bicicletas e descobriu que a proporção de usuários que os utilizam para acessar transporte público varia de 40% a 63%.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU aponta que uma maior adoção do transporte público e a substituição dos veículos particulares por outros modais mais sustentáveis são medidas fundamentais para mitigação das mudanças climáticas. A micromobilidade é catalizadora para ambos os movimentos.
Escolhas conscientes
Os ganhos ambientais da micromobilidade são positivos quando viagens em veículos leves substituem aquelas que seriam feitas em automóveis. No entanto, os impactos acabam sendo negativos se o percurso antes era feito a pé, uma maneira mais saudável e sustentável de se locomover.
Um estudo da universidade ETH Zurich mostrou que o impacto ambiental da micromobilidade depende diretamente do tipo de modal que está sendo substituído.
Dessa forma, caso uma pessoa adote veículos leves no lugar de se deslocar a pé ou por transporte público, o impacto no meio ambiente será negativo. Mesmo não emitindo gases de efeito estufa, a produção dos veículos leves deixa pegadas de carbono.
Essa realidade nos mostra a necessidade de incentivos para que os cidadãos tomem decisões mais eficientes na escolha de como se movimentar pelas cidades. A integração de sistemas de pagamento de tarifas, por exemplo, incentiva as pessoas a planejarem o uso combinado de veículos leves compartilhados e transporte público.
Em paralelo, o pagamento de uma única tarifa ou descontos para quem usa os dois serviços também é uma ferramenta para promover um uso mais inteligente de ambos.
A micromobilidade é uma das ferramentas mais importantes para chegarmos a cidades sustentáveis de fato, mas esse objetivo só será atingido com planos ambiciosos, capazes de harmonizar o uso de diversos modais aproveitando o potencial de cada um deles.
Com mudanças na gestão municipal no Brasil, é imprescindível que uma agenda climática com estratégias para uma mobilidade mais limpa esteja presente nos programas de governo.
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Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão
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