Pode parecer incrível, mas no início dos anos 2000, ainda eram raras as motos que tinham injeção eletrônica de combustível. Porém, de uns anos para cá, esse cenário mudou e a tecnologia de ponta invadiu de vez o mundo das duas rodas.
Começou com a injeção eletrônica, depois os aceleradores eletrônicos (ride-by-wire), freios ABS, controle de tração, diferentes modos de pilotagem… Enfim, diversos dispositivos que antes eram encontrados apenas nos carros agora também equipam as motos. O que deixa os veículos de duas rodas não somente mais rápidos e modernos, mas também mais seguros.
Conheça algumas dessas tecnologias e inovações que existem em quatro e duas rodas.
O seletor do modo de pilotagem foi uma das primeiras tecnologias utilizadas para domar a grande potência das motocicletas. Não por acaso, surgiu exatamente em uma superesportiva, a Suzuki GSX-R 1000, que trazia três diferentes mapas de gerenciamento do motor.
Vale dizer que isso só foi possível graças à injeção eletrônica. No início, havia apenas uma mudança do mapa de gerenciamento do motor, mas o sistema evoluiu junto com a central eletrônica e também com a incorporação dos aceleradores ride-by-wire.
Dessa forma foi possível alterar não apenas a entrega de potência do motor, mas também a resposta do acelerador. Caso da Ducati Diavel, por exemplo, que conta com acelerador eletrônico (ride-by-wire) e três modos de pilotagem. No caso da Diavel – e também da bigtrail Multistrada, da marca italiana – o modo de pilotagem altera também a configuração dos freios ABS e do controle de tração.
Essa tecnologia, também existe nos carros. Está presente no Fiat Punto T-Jet com dois modos – normal e esportivo – e também em modelos mais top de linha como a perua Audi RS4 Avant. O Audi Drive Select oferece três modos de condução – Conforto, Automático e Dinâmico –, que alteram não só a resposta do acelerador, mas também a configuração da direção e do câmbio. O sistema ainda faz variar o som do escapamento, no modo Dinâmico.
Os primeiros controles de tração surgiram nos carros, é verdade, mas hoje muitas motos incorporam essa tecnologia que tem como principal objetivo evitar a derrapagem da roda traseira quando o motociclista acelera em pisos escorregadios, mas não somente isso.
O controle de tração pode também evitar quedas em curvas, no momento em que o piloto erra na dosagem e acelera mais do que a aderência do pneu inclinado pode suportar.
No início, o controle de tração era apenas uma função secundária dos freios ABS – ou seja, os mesmos sensores que mediam a rotação das rodas para liberar os freios em caso de travamento, também detectavam uma possível derrapada da roda traseira.
Nas motos, a pioneira foi a BMW com a R 1200R em 2005, e tinha o nome de controle automático de estabilidade. Seu principal objetivo era controlar a derrapagem em terrenos escorregadios. No início apenas carros de luxo traziam controle de tração, porém atualmente até o novo Ford Fiesta conta com o sistema.
Hoje, nas motos, já existem controles de tração mais modernos e focados, principalmente, no desempenho em curvas, evitando a famosa “saída de traseira”. Motos como a Yamaha YZF R1 e outras superesportivas permitem que se escolha um controle de tração mais ou menos atuante. Há ainda sistemas mais simples, como o da bigtrail Kawasaki Versys 1000, que permite escolher entre três formas de atuação de acordo com o piso.
A tecnologia não ajuda apenas a controlar a potência, contribui também para frenagens mais seguras, como é o caso dos sistemas de freios anti-travamento, o ABS. A primeira moto a ter freios ABS foi a BMW K1 em 1988 e desde então o sistema vem ganhando espaço em outros modelos.
Atualmente grande parte das motocicletas de grande porte – e também dos carros – oferece o ABS pelo menos como opcional. Até mesmo motos de 250 e 300cc, como as Honda CB300R, XRE 300 e a Yamaha Fazer 250, trazem o sistema que tem como função evitar que as rodas travem em frenagens mais bruscas.
O objetivo dos freios ABS, tanto nas motos como nos carros, é frear com mais segurança e controle do veículo – sem travar as rodas. Há pequenos discos (semelhantes ao disco de freio, porém cheios de ranhuras) instalados no cubo das rodas que atuam com os sensores do ABS e realizam a “leitura” da velocidade das rodas durante a frenagem. Quando a roda está prestes a travar, os sensores enviam um sinal para a central do ABS e a mesma envia um sinal para “aliviar” a pressão aplicada no freio.
Mas assim como o controle de tração, os sistemas ABS evoluíram. Há ABS para uso mais esportivo, em pistas de corrida, como na Honda CBR 1000RR. Trata-se de um sistema de freio controlado eletronicamente por um motor de pulso – o sistema é opcional nos modelos esportivos da Honda desde 2008. Há ainda os freios ABS de motos bigtrail, como a nova BMW R 1200GS que são calibrados para funcionar até mesmo em estradas de terra.
Em tempos em que a economia de combustível e a diminuição da emissão de poluentes é uma obrigação para salvar o planeta, diversos automóveis importados saem de fábrica com o sistema start/stop, que desliga o motor quando o carro fica parado por um determinado tempo em um semáforo, por exemplo, ou ainda nos congestionamentos urbanos tão comuns em várias cidades do mundo.
Nas motos essa tecnologia ainda não é comum, talvez porque as motos fiquem menos tempo paradas nos congestionamentos ou porque já são econômicas. Mas há um modelo, à venda no Brasil, que traz essa tecnologia: a scooter PCX 150 da Honda.
Apesar de a marca japonesa chamar de sistema Idiling Stop, o funcionamento é o mesmo: desliga o motor em paradas mais longas (acima de 3 segundos) e o religa em uma fração de segundo assim que o piloto volta a acelerar. No Brasil, a Honda não divulga oficialmente números de consumo, mas, no exterior, o PCX promete até 50 km/l.
Já há alguns anos, carros mais sofisticados, como o Audi A8, por exemplo, trazem o câmbio automático com dupla embreagem. Uma tecnologia que chegou há pouco tempo nas motos. Atualmente, apenas a Honda utiliza câmbio com duas embreagens, na scooter X-ADV 750.
O câmbio DCT (Dual Clutch Transmission) é semelhante ao utilizado no Honda NSX, esportivo da marca japonesa. A transmissão tem como principal característica duas embreagens: uma delas aciona as marchas ímpares (1ª, 3ª e 5ª) e a outra as marchas pares (2ª, 4ª e 6ª) independentemente.
As duas embreagens operam alternadamente para agilizar as mudanças de marchas. Por exemplo, ao trocar de primeira para segunda marcha, a central eletrônica detecta a subida de marcha e engata a segunda e, só então, desengata a primeira marcha para oferecer uma troca quase que imperceptível.
A tecnologia de ponta já chegou também às suspensões das motocicletas. A BMW já há algum tempo equipava suas motos com o ESA (Eletronic Suspension Adjustment), ou seja, um ajuste de suspensão feito eletronicamente por meio de um botão que regulava a compressão, o retorno e a pré-carga da mola.
Mas de novo, a BMW foi pioneira lançando seu Dynamic Damping Control (DDC) em 2012. O DDC, que começou equipando a S 1000 RR HP4, se resume a um sistema de amortecedor eletrônico que utiliza sensores para verificar as condições do pavimento, regulando as suspensões de acordo com o piso em que a moto está rodando.
Claro que essa tecnologia e inovação visa o máximo desempenho nas pistas, mas a BMW faz questão de lembrar que a eletrônica também ajudará muito os pilotos comuns nas estradas. Tanto que já tratou de fazer uma versão para a nova versão da R 1200GS.
A nova Ducati Multistrada 1200S também traz um sistema semelhante, chamado de Skyhook. Por meio de sensores no chassi e nas rodas da motocicleta, uma central eletrônica ajusta as suspensões de acordo com o piso.
Alguns carros de luxo também contam com suspensões ativas, mas a Mercedes-Benz foi além. No novo sistema Magic Body Control, que equipa os modelos da Classe “S”, a fábrica alemã instalou duas câmeras que “enxergam” o piso e os obstáculos a frente para ajustar as suspensões adequadamente.
Pois é, até mesmo o airbag já chegou às motos. Tudo bem que, enquanto há diversos automóveis com airbag, há apenas uma motocicleta com o sistema, a Honda Gold Wing. Desde 2007, a luxuosa touring japonesa conta com airbag.
O sistema funciona por meio de uma central eletrônica responsável por analisar dados de desaceleração dos quatro sensores fixados no garfo dianteiro da moto. Caso seja detectada uma forte desaceleração, a bolsa inflável é acionada. Isso leva apenas 0,15 segundo e protege o piloto de colisões frontais.
A última novidade dos carros que desembarcou nas motos, ou melhor, na KTM 1190 Adventure 2014, foi o controle de estabilidade. Na verdade, o sistema faz com que o ABS e o controle de tração, além dos sistemas de freios combinados, funcionem em conjunto também nas curvas.
A base do Motorcycle Stability Control (MSC), o controle de estabilidade de motocicletas, é o sistema de freios ABS da Bosch. Aprimorado, o ABS agora inclui novos sensores e um software mais sofisticado para funcionar com a moto inclinada.
Sensores nas rodas medem a velocidade de giro das mesmas até 100 vezes por segundo para detectar velocidades muito díspares para detectar alguma perda de controle. Até aí nenhuma novidade, mas o que diferencia o MSC do ABS comum é o fato dele funcionar com a moto inclinada.
No novo MSC há um módulo que determina o ângulo da moto em relação ao solo (lean angle) e também o ângulo de rotação (pitch angle). A unidade de controle do ABS colhe os dados de inclinação e de rotação da motocicleta para determinar se a moto está inclinada e o quanto está inclinada. Isso ajuda os freios a terem um melhor desempenho nessa situação.
Atualmente, na época dos tablets e smartphones, os painéis ganharam telas de TFT (Thin Film Transistor). As telas de TFT são, basicamente, as mesmas encontradas nos celulares. Desde motos menores, como a Honda CB 250F Twister, até modernas bigtrails, como a recém-lançada Triumph Tiger 1200 utilizam essa tecnologia.
Mas a evolução não para. Há painéis com estilo personalizável, outros com tela touch e alguns que até se conectam e espelham o smartphone e são verdadeiras centrais multimídia, como as existentes nos automóveis.
Caso da nova geração da Honda Gold Wing, a primeira motocicleta do mundo a incorporar o CarPlay, sistema da Apple para espelhar o iPhone em centrais multimídias de veículos.
Com o sistema é possível controlar as funções do smartphone diretamente pelos controles físicos da Gold Wing. A tela do iPhone é reproduzida na nova central multimídia com tela de 7 polegadas colorida e sensível ao toque. O potente sistema de som da Gold Wing reproduz as músicas da sua playlist e as chamadas podem ser atendidas pelo intercomunicador no capacete.
Também é possível conectar o smartphone ao painel da Gold e de outros modelos, como as luxuosas Harley-Davidson e BMW, por meio do Bluetooth. Dessa forma é possível receber mensagens no painel da moto e ainda ouvir música.
A Ducati anunciou que, até 2020, irá introduzir radares e controlador de velocidade adaptativo em uma de suas motos, semelhante ao que equipa diversos automóveis de luxo, como o recém-lançado Mercedes Classe A. Porém, diferentemente do que acontece nos carros, o sistema não deve interferir ativamente na pilotagem, mas sim alertar ao motociclista sobre o risco de colisão com outros veículos.
Batizado de ARAS (Advanced Rider Assistance Systems) pela marca, os sistemas de assistência avançada incluem a instalação de vários sensores entre eles radares, capazes de fornecer informações sobre o ambiente circundante – evitando, assim, colisões com obstáculos ou outros veículos por meio de alertas ao piloto.
A Ducati começou a desenvolver o dispositivo em 2016, em conjunto com o Departamento de Eletrônica, Informação e Bioengenharia da Universidade Politécnica de Milão (Itália).
A parceria levou à criação de um sistema de alerta baseado em um radar traseiro, capaz de identificar e apontar veículos presentes no “ponto cego” (ou seja, a parte da estrada não visível diretamente ou no espelho retrovisor). O radar também detecta veículos se aproximando em alta velocidade por trás.
Para completar o pacote de segurança, haverá um segundo sensor de radar posicionado na parte dianteira da moto. O objetivo deste dispositivo frontal será gerenciar o controle de velocidade adaptativo (Cruise Control, também chamado de piloto automático).
O sistema vai permitir que uma determinada distância, que pode ser definida pelo piloto, seja mantida a partir do veículo na frente e avisando o motociclista de quaisquer riscos de colisão relacionados à distração.