Quem imaginava que Lewis Hamilton terminaria o ano passado com as mãos abanando se enganou. O piloto sete vezes campeão da Fórmula 1 levou para casa o troféu da temporada da Extreme E, categoria disputada só por SUVs elétricos, com sua equipe X44 Carbon, comandada pelos pilotos Sébastien Loeb e Cristina Gutierrez.
Foi a segunda temporada da Extreme E, que levanta a bandeira da sustentabilidade com os carros zero emissão. O Brasil está na rota da categoria, podendo sediar, ainda neste ano ou no próximo, uma etapa no Pará. A Extreme E vem ganhando cada vez mais interesse e emoção, com provas em que não faltam velocidade, disputas acirradas e até capotamentos.
O Mobilidade acompanhou a última prova do ano, realizada no final de novembro, em Punta del Este (Uruguai), que garantiu o título ao time de Hamilton. São vários fatores que garantem o crescente sucesso da Extreme X. Conheça, a seguir, alguns deles que compõem a organização do evento.
O antigo navio britânico Santa Helena – que ainda não navega com motor elétrico – tem a incumbência de levar todos os carros e a infraestrutura da Extreme E até o porto mais próximo da cidade de cada etapa.
Para atender à Extreme E, a embarcação foi totalmente remodelada e ganhou, inclusive, um laboratório de pesquisas. Quando a corrida acaba, tudo volta para dentro do navio, que parte para a outra sede.
Na véspera de serem levados ao local da corrida, os carros permanecem em um parque fechado para ações promocionais que divulgam a prova.
Em Punta del Este, houve discursos de autoridades do departamento de Maldonado e apresentação dos pilotos, que, em seguida, distribuíram fotos e bonés e posaram para fotos com os fãs, que puderam ver os SUVs de perto.
O circo da Extreme E é montado com uma série de tendas, muitas infláveis, que servem de boxes para as equipes e os parceiros, a central de controle, o espaço para convidados e os restaurantes. É prático e mais fácil de montar e desmontar.
O calendário da Extreme E contempla sempre uma cidade que defenda uma causa em prol do ecossistema da região. No Uruguai, a categoria apoiou a Organização para Conservação de Cetáceos (OCC).
Batizados de Odyssey 21, os SUVs elétricos são iguais para todas as equipes e são preparados pela empresa Spark Racing Technology. Eles medem 4,40 metros de comprimento, 2,30 de largura, 1,86 de altura e pesam 1.780 quilos.
Com bateria de 54 kWh produzida pela Williams Advanced Engineering, o modelo entrega 400 kW, o equivalente a 550 cv, e acelera de 0 a 100 km/h em 4,3 segundos. Os enormes pneus off-road são fornecidos pela Continental e apresentam o mesmo desempenho sob temperaturas altas e baixas. O chassi é uma estrutura tubular que leva nióbio na composição, fornecido pela brasileira CBMM. Já os amortecedores, extremamente reforçados, são fabricados pela Fox.
A casca externa do carro (não dá para chamar de carroceria) é de fibra de linho natural, produto mais sustentável. Depois de cada etapa, os veículos retornam às oficinas da Spark para revisões e reparos, visando a prova seguinte.
O regulamento da Extreme E exige que as duplas de pilotos de cada equipe sejam constituídas por um homem e uma mulher, com o objetivo de promover a diversidade. Não pense, porém, que elas aliviam o pé. É muito comum as pilotos registrarem tempos melhores que os dos companheiros de time.
Dez equipes disputaram a temporada 2022 e chegaram a Punta del Este com os seguintes pilotos: Cupra XE (Klara Anderson e Nassar Al-Attiyah), Sainz XE (Laia Sanz e Carlos Sainz), Andretti United (Catie Munnings e Timmy Hansen), JB XE (Hedda Hosas e Fraser McConnell), Neom McLaren (Emma Gilmour e Tanner Foust), Chip Ganassi (Sara Price e RJ Anderson), Rosberg X (Mikaela Ahlin-Kottulinsky e Johan Kristoffersson), X44 Carbon (Cristina Gutiérrez e Sébastian Loeb), Xite Energy Racing (Tamaa Molinaro e Ezequiel Companc) e Veloce Racing (Molly Taylor e Kevin Hansen).
As condições das pistas são severas, com elevações de terra, areia e lama, um cenário perfeito para capotamentos. Não é à toa que o sistema de amortecimento é reforçado, porque os carros, literalmente, decolam nas rampas e sofrem um impacto muito forte no solo.
Em Punta del Este, o circuito de 2.900 metros ficou dentro de uma grande fazenda e trechos com grama foram um desafio para a aderência dos carros e o controle dos pilotos.
Segundo a organização do campeonato, a tendência é que as pistas da próxima temporada sigam o padrão de Punta del Este, com, no máximo, 3.000 metros, para tornar as disputas mais ágeis.
No sábado e domingo, os pilotos disputam a qualificação e as semifinais para definir a largada. Os dez carros são divididos em dois grupos, que disputam a classificação.
Os seis que fazem mais pontos carimbam a passagem para as semifinais, enquanto os quatro piores realizam a Corrida Maluca. Os quatro primeiros colocados das semifinais e o vencedor da Corrida Maluca vão para a grande decisão.
Nas classificatórias e na prova, cada piloto dá uma volta no circuito e estaciona em uma parada obrigatória para dar lugar ao companheiro, em uma operação que deve durar, no máximo, três minutos. O segundo piloto encerra a participação dando mais uma volta completa.
O estafe das equipes acompanha os treinos de classificação e a corrida em um reservado, com toda a tecnologia necessária para ver o desempenho dos carros e também se comunicar com os pilotos.
Montados lado a lado em tendas infláveis, os boxes não são tão espaçosos, mas os mecânicos conseguem fazer os consertos necessários ali dentro e recarregar as baterias dos automóveis.
Em cada boxe, existe uma estação de recarga da Enel X Way. É só o carro entrar para os mecânicos instalarem o cabo no receptor, que fica na traseira. Segundo a empresa, o equipamento carrega o Odyssey 21 com até 50 kW.
*O jornalista viajou a Punte Del Este, no Uruguai, a convite da Enel X Way