A sociedade humana é uma obra em progresso. Fruto desse ambiente de constantes transformações e inovações tecnológicas, as cidades inteligentes são um caminho para espaços urbanos mais conectados, eficientes e sustentáveis. Impulsionadas pelo contexto, as startups se apresentam como atalhos para o tal futuro, mas o movimento ainda exige cautela.
O tema não é novo. Aliás, em meio a tantos debates em torno do conceito, é até difícil encontrar unanimidades e certezas. O mais próximo disso é o substantivo eficiência. “Cidades inteligentes são cidades que conseguem utilizar todos os recursos disponíveis, sejam eles técnicos, sejam humanos, sejam administrativos, para a construção de um lugar melhor”, contextualiza Renato Cymbalista, professor da FAU-USP.
Tanto quanto uma questão de política pública, as cidades inteligentes se tornaram, então, uma oportunidade de fazer negócios. Em uma espécie de corrida para surfar nesse oceano de possibilidades, nasceram startups de diversos formatos, segmentos e modelos de atuação. Desde mobilidade e infraestrutura urbana, passando por saneamento, até gestão governamental, os empreendimentos se propõem a descomplicar práticas atuais.
Esse é o caso da Stattus4, startup que utiliza inteligência artificial e ferramentas de IoT (internet das coisas) para identificar vazamentos de água em encanamentos. Enquanto o procedimento tradicional depende de denúncias de moradores de bairros sofrendo com vazamentos, a ferramenta criou um dispositivo, que é acoplado aos hidrômetros, para coletar os ruídos.
“Mapemos a cidade para entender a distribuição de água e calcular consumo e pressão com base nos sons que os hidrômetros fazem. Nossa ferramenta compara esse barulho com outros para entender se tem algo errado”, exemplifica Juliana Lara, coordenadora de vendas da empresa. “Atendemos companhias privadas de distribuição e governos, acelerando um processo que manualmente demoraria muito mais”, alega.
O levantamento Smart Cities Distrito Report, divulgado, em 2020, pelo hub de inovação Distrito, apontou 166 startups voltadas à mobilidade urbana no Brasil. Diante da velocidade de mudança do setor, é provável que o número seja bem maior atualmente, mas o estudo ajuda a ilustrar que o volume de investimentos nesse mercado tende a seguir uma linha progressiva de crescimento.
É isso que prevê Gustavo Araújo, CEO do Distrito. “Tudo o que impacta de maneira positiva a qualidade de vida das pessoas que vivem nas cidades deve ser destacado”, acredita. “O celular democratizou a conectividade. Pessoas, empresas e órgãos públicos estão constantemente conectados, e essas conexões geram dados que ajudam as startups a encontrar soluções. É um grande ecossistema para eliminar ineficiências”, acredita.
Os dados são importantes como ouro nesta era da hiperconectividade. Eles direcionam campanhas eleitorais, norteiam estratégias de empresas e, entre muitas outras coisas, definem políticas públicas. É dessa perspectiva que se alimenta a Bright Cities, uma startup especializada em consolidar dados para identificar melhorias de transformação nas cidades.
Na prática, a companhia reúne informações de diversas fontes oficiais e oferece diagnósticos consolidados às cidades. Tudo isso de forma automatizada. “Nosso objetivo é ajudar a direcionar os investimentos públicos em melhorias. Entendemos que a principal dor do gestor governamental é saber por onde começar”, afirma Raquel Cardamone, CEO da Bright Cities.
Apresentando-se como uma govtech, a companhia provém dados para que prefeituras, governos estaduais e federais possam definir gastos e melhorias nas cidades. “Nosso objetivo é melhorar a eficiência do setor público”, garante Raquel. “Por falta de cultura de inovação, ainda existem muitas burocracias e obstáculos para quem atua nesse segmento, mas estamos em um caminho de adaptação.”
Alguns problemas que startups buscam resolver para construir cidades inteligentes