Quando a Audi lançou, no Brasil, o elétrico e-Tron com câmeras no lugar dos retrovisores convencionais, em 2020, a novidade chamou a atenção do público e da mídia. Mas não causou o menor impacto a motoristas do caminhão Mercedes-Benz Actros. Isso porque a fabricante já oferecia, no Brasil, desde 2019, os retrovisores MirrorCam, com a mesma função. O pioneirismo na utilização de câmera no lugar de espelho externo é apenas um exemplo de que, além da carga, os caminhões carregam muita tecnologia voltada à segurança.
De acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal, quase 90% das causas de acidente rodoviário têm origem em comportamentos que poderiam ser evitados, como distração e imprudência. Ou seja, o erro humano representa a maioria absoluta das ocorrências. Assim, quanto maior a ajuda eletrônica, menores são os riscos.
Da mesma forma como nos automóveis, o caminhão 100% autônomo ainda está distante da realidade, até por questões relacionadas à legislação dos países, que ainda exige a presença de motorista. Mas sistemas auxiliares, como frenagem automática, manutenção em faixa de rodagem e controle de cruzeiro adaptativo, já estão presentes também nos “brutos”. Esses dispositivos fazem parte de um pacote de tecnologias conhecido pela sigla Adas, iniciais, em inglês, para “sistema avançado de assistência ao motorista”.
Curiosamente, embora caminhões disponham de boa parte dos sistemas de segurança oferecida em automóveis, o air bag para o motorista – item básico em veículos de passeio e obrigatório desde 2014 – ainda é opcional em veículos pesados.
Mais que um controle de cruzeiro adaptativo convencional (que acompanha o ritmo do carro da frente, freando e acelerando automaticamente), o Actcruise, da Scania, leva em conta, adicionalmente, informações do GPS. Com isso, o caminhão é capaz de reduzir marchas, automaticamente, se o mapa indicar que adiante há curvas, aclives ou declives, por exemplo. Além de aumentar a segurança, o dispositivo, que é item de série para os caminhões rodoviários da marca, é um aliado importante à economia de combustível. De acordo com a Scania, ao memorizar rotas, a tecnologia possibilita redução de até 3% nos gastos com diesel.
Além da Scania, a também sueca Volvo e a alemã Mercedes, igualmente, oferecem controle de cruzeiro adaptativo, com frenagem automática quando o carro da frente desacelera ou para. Adicionalmente, a Mercedes informa que seu dispositivo reconhece e freia também para pedestres.
A Volvo oferece o I-See, dispositivo que lê a topografia da estrada e memoriza informações para gerenciar melhor as trocas de marcha, o uso de freio motor e o consumo de combustível.
Os modelos da Volvo também podem receber o sistema conhecido como “anticanivete”, que realiza microfrenagens na carreta para reduzir a ocorrência do efeito “L” entre o caminhão e o implemento, em caso de parada de emergência (quando a carreta empurra o cavalo mecânico).
Assim como a Mercedes, a Volvo emprega câmera para auxiliar o motorista. Porém, no caso da marca sueca, a função é auxiliar na visualização de pontos cegos. Para isso, ela fica montada no canto inferior do retrovisor direito, e projeta a imagem na tela da central multimídia, no painel do motorista.
Além de avisar o motorista, em caso de saída involuntária da faixa de rodagem (quando o pisca não é acionado, por exemplo), o sistema da Volvo corrige, automaticamente, a trajetória. De acordo com a marca, o mecanismo conta com um motor elétrico, na caixa de direção, capaz de ajustar a trajetória do caminhão e auxiliar o motorista a manter a composição na faixa de rodagem.
Outra tecnologia de auxílio ao motorista é a luz de curva, que ilumina a área periférica à esquerda ou à direita, conforme o motorista esterça o volante. A Mercedes também oferece auxiliar de farol alto, que baixa, automaticamente, o facho ao detectar veículo à frente.
Ainda com a finalidade de prevenir a distração do motorista, as fabricantes têm investido em sistemas de alerta de cansaço. Profissionais que trabalham em transportadoras, geralmente, têm de cumprir longas jornadas diárias para cumprir prazos. Por isso, os sistemas levam em conta padrões de comportamento do condutor. A Mercedes informa que, por meio de algoritmos, o sistema monitora ações do motorista como mudança de faixa, uso dos pedais e tempo de viagem. Dependendo das respostas, o dispositivo sugere uma pausa de descanso ao condutor, por meio de sinais sonoros e visuais, no painel. A tecnologia ajuda, mas uma parada para um cafezinho pode ser providencial.