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Visão Zero e a redução de acidentes

Por: . 27/04/2022
Mobilidade com segurança

Visão Zero e a redução de acidentes

“Mesmo com as ruas vazias durante a pandemia, o trânsito fez 11.647 vítimas.”

3 minutos, 58 segundos de leitura

27/04/2022

Redução na velocidade em áreas centrais da cidade é considerada um passo importante para diminuir os acidentes. Foto: Getty Images

Juntos salvamos vidas’ é o tema desta edição do movimento Maio Amarelo, que atua desde 2014. Desde aquela época, o Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV) trabalha no sentido de reduzir a tragédia dos acidentes de trânsito, no Brasil, que, até 2019, registrava em torno de 35 mil vítimas fatais, por ano. O foco do ONSV é a metodologia Visão Zero, que teve origem na Suécia, na década de 1990, e adota a abordagem de um sistema totalmente voltado para a segurança viária, sem admitir mortes ou lesões no trânsito.        

A Organização das Nações Unidas (ONU) entende que não é admissível que se perca em torno de 1,35 milhão de vidas, anualmente, em ruas e avenidas do mundo todo. Além das mortes, estima-se cerca de 50 milhões de feridos em acidentes, número bem pior do que o contabilizado em guerras.        

Os veículos motorizados foram criados pelo homem para facilitar os deslocamentos e encurtar distâncias, mas isso não significa que necessitem de motores cada vez mais potentes e capazes de atingir velocidades superiores a 300 km/h. Em caso de acidente, quanto maior a potência, mais elevados o risco e o poder de destruição.        

Por que a indústria automobilística oferece a seus clientes veículos com motores capazes de atingir velocidades tão elevadas se as leis de trânsito, no Brasil, estipulam como limite máximo 120 km/h? Essa é uma reflexão fundamental.

Formando motoristas desde cedo

Durante a pandemia da covid-19, as ruas ficaram mais vazias, mas, mesmo assim, em 2020, o trânsito fez 32.716 vítimas, o equivalente a 90 pessoas mortas, por dia. Será que temos motivo para comemorar? Em 2019, o World Resources Institute – WRI Brasil apurou, no Relatório de Status Global sobre Segurança no Trânsito, da Organização Mundial da Saúde (OMS), que, nos últimos 15 anos, a taxa de mortalidade no trânsito se manteve estável, em relação ao tamanho da população mundial. Mas é importante não perdermos de vista que estamos falando da morte de 1,35 milhão de pessoas por ano.        

Sabemos que, no Brasil, como em qualquer outro país, o comportamento das pessoas somente poderá melhorar com investimentos na formação, especialmente nos primeiros anos de escolaridade das crianças, exatamente como recomenda o Programa Educa, do Observatório. Ele leva até as escolas o conceito de educação para o trânsito a partir do ensino fundamental, preparando educadores e alunos para uma cidadania responsável.        

Alguns fatores podem e devem ser motivo de reflexão: o mundo tem, hoje, 1,4 bilhão de veículos em circulação, e, por enquanto, na maioria dos países, o automóvel tem total prioridade. Segundo a arquiteta e urbanista Meli Malatesta, da Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo, ‘a engenharia de tráfego está sempre preocupada em promover a fluidez do trânsito e, desde sempre, para os carros; devemos lembrar, inclusive, que o transporte coletivo nunca foi considerado objeto de prioridade, a não ser mais recentemente’.

Medidas efetivas

A redução da velocidade dos automóveis nas áreas centrais das cidades, com a implantação das, ainda pouco comuns no Brasil, Zonas 30, ou seja, permissão para trafegar, nas vias do centro, a 30 km/h, no máximo, é um bom começo. A medida faz sentido porque estudos internacionais apontam que, nessa velocidade, a vítima de atropelamento tem cerca de 90% de chance de sobreviver. E automóveis a 30 km/h causam menos medo aos pedestres e ciclistas, o que foi constatado, em Londres, com base na implantação das Zonas 30.        

O arquiteto e urbanista dinamarquês Jan Gehl trabalha com o conceito de que as cidades são das pessoas, o que nos remete a pensar mais acentuadamente na mobilidade urbana ativa, quando a prioridade deve ser do pedestre, das bicicletas como meio de transporte e do transporte coletivo público. Isso pressupõe a existência de calçadas mais largas, ruas exclusivas para quem caminha, restrição ao estacionamento público, implantação do sistema traffic calming, com estreitamento de vias, faixas elevadas para pedestres, rotatórias, chicanas, platôs, almofadas, entre outros elementos que aumentariam a segurança. Como consequência, todos esses fatores impactariam em uma cidade mais humana e sustentável, com mais qualidade de vida para todos.        

O Maio Amarelo 2022 é um mês de ações para se refletir e agir durante o ano todo para podermos, de fato, juntos, salvarmos vidas. Fica a receita de investir em educação, na redução da velocidade e na importante e urgente necessidade de implantação de uma política de mobilidade ativa nas cidades.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão

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