Ao mesmo tempo que cria veículos elétricos, a indústria automotiva e seus fornecedores também precisam desenvolver novos tipos de transmissão. Esses conjuntos podem reunir, numa só peça, o motor elétrico, o câmbio e outros componentes, como forma de reduzir o peso e aumentar o espaço para baterias ou carga. Algumas fábricas mostram essas novas soluções, no Brasil, começam a testá-las ou estudam a possibilidade de aplicação por montadoras instaladas no País.
Um dos destaques no estande da Iveco foi o eDaily, um pequeno caminhão elétrico que será vendido em versões de 3,5 e 7,2 toneladas de peso bruto total (PBT).
Num estande ao lado, a empresa FPT Industrial mostrou o que havia por baixo do eDaily: o conjunto Central Drive eCD 140, que pode ser aplicado nos pequenos veículos de carga e também em vans para passageiros. A potência é de 140 quilowatts. A FPT conseguiu projetar um módulo compacto, com bom espaço para integrar os conjuntos de bateria.
“A FPT produz, também, o eAX 840-R, um eixo elétrico para caminhões de até 44 toneladas, que equipa o Nikola Tre”, afirma Alexandre Xavier, diretor de engenharia da FPT. A vida útil informada para o eixo é de 1,2 milhão de quilômetros.
A fabricante Cummins Meritor mostrou, na feira de transporte, seus eixos elétricos 14Xe, para veículos comerciais entre 12 e 24 toneladas, e 17Xe, para caminhões acima de 44 toneladas. O primeiro produz 230 quilowatts, e o outro, 430.
Eles têm o motor elétrico e a transmissão integrados. “O 14Xe já está em produção nos Estados Unidos. Pode ser utilizado em caminhões para entrega urbana, coleta de lixo e veículos de aplicação portuária”, afirma Fábio Brandão, diretor de engenharia da Cummins Meritor.
Sobre o 14Xe, o executivo informa: “Em 2023, já haverá caminhões circulando na rua com esse eixo. Também existe a perspectiva de utilização em ônibus até 17 metros”.
“A solução da Meritor é compacta; e, com ela, livra-se espaço no chassi para acomodar um conjunto maior de baterias. O 14xe passou dois anos em desenvolvimento. A Meritor, hoje, consegue oferecer uma solução completa de eletrificação, inclusive com controle de temperatura das baterias e do motor”, ressalta o diretor de engenharia. A versão 17Xe ainda passa por testes e entrará em produção em cerca de dois anos.
A fabricante americana Allison já tem quatro modelos de eixos elétricos para caminhões. Eles começam a ser utilizados, nos Estados Unidos, para aplicação em modelos médios e pesados. A empresa, também, tem produtos desse tipo para ônibus.
Outra gigante das autopeças, a ZF, levou à Fenatran o Cetrax 336, um conjunto formado por dois motores elétricos integrados a um câmbio de três marchas. De acordo com a empresa, a tecnologia utilizada na produção resulta em motores mais compactos e eficientes. Também estão acoplados ao Cetrax dois inversores (que eliminam a necessidade de cabos) e um módulo eletrônico de comando.
O Cetrax 336 está entrando em sua segunda geração. Tem 300 quilowatts de potência. A produção é alemã. Poderá ser utilizado em caminhões de até 44 toneladas de PBT ou ônibus de 36 toneladas. “Ano que vem haverá os primeiros protótipos rodando em ambientes fechados [campos de provas]”, afirma Silvio Furtado, diretor de negócios para veículos comerciais da ZF.
De acordo com o executivo, a intenção é trazê-lo importado e fazer a calibração para o Brasil com base nas condições locais, como relevo e temperatura. O equipamento também tem uma versão menor, o Cetrax 318, para caminhões de até 30 toneladas de PBT e ônibus de até 18 toneladas e comprimento máximo de 12 metros.
Na Fenatran, a fabricante de implementos Randon oferecia o equipamento e-Sys, capaz de gerar 25% de economia de combustível durante o transporte de carga. Isso é possível com base na regeneração de energia em freadas e descidas, quando a carreta armazena a energia em suas baterias.
Nas subidas e ultrapassagens, essa energia é transformada em força extra com base em um motor elétrico. No Brasil, a produtora de celulose CMPC adquiriu um implemento equipado com o e-Sys para percorrer um trajeto entre duas cidades do Rio Grande do Sul. A Randon também vendeu o equipamento a uma mineradora chilena que extrai lítio, no Deserto do Atacama.