Michel Khafif

CEO da Eletrix

Quem instala primeiro lucra mais: como prédios estão ganhando com a recarga elétrica


Há 3h - Tempo de leitura: 3 minutos, 29 segundos

Quando se fala de mobilidade elétrica, a maioria ainda acha que é “papo de futuro”. Que carro elétrico serve apenas para “o pessoal da Faria Lima”. Que carregador na garagem “é luxo de prédio novo”. E mais: que essa revolução vai demorar.

Leia também: É melhor recarregar a bateria em casa ou nos eletropostos?

Mas basta prestar atenção nas ruas de São Paulo, nas vagas ocupadas, nas placas verdes se multiplicando para perceber que a mudança já chegou. E quem não enxergar isso agora, vai pagar o preço – em atraso, em custo ou em relevância.

Vamos aos fatos

Em 2023, de acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o Brasil bateu o recorde histórico de emplacamentos de veículos eletrificados: foram 93.927 unidades, um crescimento de 91% em relação a 2022. Em janeiro de 2024, o número saltou ainda mais: 15.587 carros vendidos, um aumento de 167% sobre o mesmo mês do ano anterior, ainda segundo a ABVE.

E essa curva não vai cair. Pelo contrário. O crescimento é exponencial — e irreversível. Mas o que isso tem a ver com prédios, com empresas, com imóveis? Tudo. Porque o carro elétrico não é somente produto: é comportamento. E comportamento transforma o mercado — seja ele automotivo, corporativo ou imobiliário.

Quem tem um carro elétrico precisa carregá-lo e não quer depender de shopping, de favores ou de sorte pelo caminho. Quer carregar em casa, no trabalho. Quer praticidade, segurança e autonomia. O prédio que não possuir essa infraestrutura, logo, perde valor competitivo (e possibilidade de ganhos).

Mais valorizados

Condomínios que não oferecerem infraestrutura adequada podem afastar novos moradores e dar dor de cabeça aos atuais. Empresas que não têm ponto de recarga em seus estacionamentos carregam a fama de desatualizadas. Levantamento da Brain Inteligência Estratégica aponta que imóveis com diferenciais sustentáveis — como recarga elétrica — valem em média 14% a mais no mercado.

Em prédios comerciais, a lógica se inverte: não é só atrair; é manter clientes, inquilinos e a reputação. E monetizar: com os modelos de carregamento tarifado, o prédio pode gerar receita com cada carga feita.

Funciona assim: o morador, visitante ou colaborador usa o carregador via aplicativo, a cobrança é feita digitalmente, e o condomínio recebe a compensação mensal de energia. Simples, seguro e com retorno.
É a piscina que se paga. A vaga que se transforma em ativo. O imóvel que se valoriza pela decisão de estar preparado.

E isso vale para hoje. Não é 2030. É agora. Atualmente, já existem dezenas de projetos rodando com esse modelo em São Paulo, ativando espaços residenciais e comerciais onde circulam marcas como Azul, Philips e Coca-Cola (Femsa). Todos no mesmo movimento: parar de improvisar e começar a planejar.

Carregar carro elétrico em 2025 não significa instalar uma tomada – significa cuidar de uma rede. Pensar em expansão. Compreender que infraestrutura é o que sustenta a inovação — e não o contrário. Muitos, contudo, acreditam que é necessário trocar toda a rede elétrica. Que vai custar caro demais. Que só prédio novo pode ter e é “complicado”. Não é.

Na maioria dos casos, tudo começa com um bom diagnóstico. Uma análise técnica da capacidade elétrica, um projeto sob medida, uma instalação bem-feita. É possível, é acessível e tem sido cada vez mais necessário.

Decisão rápida

Há um segundo erro, ainda mais grave: achar que dá para esperar. A verdade é que, quem adia essa decisão hoje, adia também seu lugar no mercado. Ninguém precisa entender tudo sobre carros elétricos.

Mas precisa entender, sim, o que eles estão provocando nos prédios, nas empresas, e nos negócios.
Carregador de carro elétrico não é mais inovação nem diferencial. É infraestrutura básica. O mínimo que o novo consumidor espera. Quem entender isso agora, não vai precisar correr depois.

Leia também: Carregador de carro elétrico embutido na calçada? Saiba onde tem e como funciona