Em abril de 2024 a ViaMobilidade instalou o Sistema de Detecção de Colisão de Pantógrafo (PCDS, na sigla em inglês) nas linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda em São Paulo. A nova tecnologia utiliza câmera, acelerômetro e sensor geográfico para detectar possíveis falhas na rede aérea dos trens, que é responsável pela transmissão da energia elétrica que move os veículos. O objetivo, segundo a concessionária, é prevenir erros e fazer manutenção na rede antes que os problemas impactem a locomoção dos usuários.
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Em 2022 as linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda tiveram 20 falhas graves de rede aérea. Em 2023 foram 12 ocorrências. De acordo com a ViaMobilidade, desde a instalação do PCDS, em abril de 2024, a concessionária já evitou 20 falhas graves e leves na rede aérea. No entanto, ainda houve oito ocorrências neste ano, as duas últimas no dia 27 de julho.
Durante as falhas de rede aérea o trem fica “sem energia e não consegue se movimentar. A ViaMobilidade inicia um protocolo de segurança, onde é realizada a evacuação do trem, e o time de manutenção da rede aérea entra para restabelecer a energia entender a falha”, afirma André Luis Mouta, gerente de manutenção da rede aérea da CCR Mobilidade.
De acordo com o porta-voz da ViaMobilidade, durante o período de manutenção os trens circulam por apenas uma linha. O que causa maiores intervalos e acúmulo de passageiros nas estações.
O pantógrafo é um dispositivo que fica no topo do trem e se liga aos cabos de energia, alimentando o veículo. O PCDS, por sua vez, é composto por uma série de sensores que medem oscilações de impacto no pantógrafo. “Dessa forma, conseguimos atuar de forma preditiva, avisando a manutenção de um ponto de possível falha”, explica Mouta.
O PCDS já era usado em trens na Austrália que percorrem vias de condição semelhantes as do Brasil. Os sensores do dispositivo estão instalados em um trem específico que circula pelas linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda. Os dispositivos monitoram a qualidade da conexão entre o pantógrafo e a rede aérea.
“Quando temos mudanças bruscas no comportamento do pantógrafo, o PCDS gera um alarme georreferenciado. Nós temos as coordenadas exatas do local em que aconteceu a oscilação e temos um gráfico, que me mostra o grau de severidade dessa oscilação”, afirma o gerente de manutenção
O pantógrafo pode sofrer impactos por um fio desgastado na rede elétrica, colisão com árvores ou deterioração no próprio equipamento. No momento em que há uma oscilação, o PCDS grava um vídeo da ocorrência e envia uma notificação para a central.
“Se eu sei que vai acontecer um problema em um determinado ponto, nós podemos acionar a equipe de manutenção e atuar antes que aconteça uma falha severa”, finaliza Mouta.
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Mouta argumenta que a ViaMobilidade “assumiu o ativo [linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda] muito deteriorado. As linhas estavam sobre uso severo e sem a devida manutenção. Isso fez com que a rede aérea tivesse um nível muito alto de deterioração”.
Enquanto o trem percorre o seu trajeto diariamente, os fios da rede aérea se friccionam com o pantógrafo. Embora a ViaMobilidade posicione os fios em ziguezague ao longo da rede, para desgastar igualmente o pantógrafo, o contato constante acaba danificando o equipamento.
“Os fios da rede aérea são de cobre, o pantógrafo tem uma lâmina de cobre, com o passar do tempo esse material pode oxidar por conta das chuvas e do próprio desgaste natural”, explica Mouta.
As estações são locais em que a rede aérea é frequentemente danificada. “Quando o pantógrafo para sempre no mesmo lugar, como nas estações em que há partidas e chegadas de vários trens, há um superaquecimento dessa região, que pode gerar deformações no fio”, ele explica.
Em alguns casos, se o fio ou o pantgrafo estiverem muito desgastados, pode ocorrer faiscamento. “Se o faiscamento não for tratado, pode gerar um problema maior por superaquecimento e romper esse fio.” Atualmente, o PCDS da ViaMobilidade já pode detectar faiscamentos e sinalizar o ponto de reparo.
O PCDS já permitiu manutenção poucos minutos após reportar desgaste em um trecho da rede aérea. No entanto, o conserto em tempo real não é possível em todos os trechos das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda.
“Dentro de um sistema métrico ferroviário nem sempre se tem só duas linhas conectando estações, às vezes, na Linha 8-Diamante principalmente, há três vias de conexão. Por isso, em alguns casos, colocamos o trem para prestar serviço nessa terceira via e, na via onde encontramos a falha, desenergizamos o cabo e fazemos a manutenção”, comenta Mouta.
Antes do PCDS, a ViaMobilidade fazia a inspeção visual da rede aérea. No entanto, as analises só podiam ser feitas no período noturno e os 80 km somados das Linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda tornavam o trabalho lento.
Atualmente, a inspeção visual ainda ocorre. No entanto, o PCDS ajuda a encontrar possíveis falhas futuras com mais precisão. “O PCDS complementou o nosso trabalho, mas nós fazemos inspeções semanais na cabine do trem e uma inspeção trimestral à bordo de um veículo especial bem próximo da rede aérea”, explica Mouta.
Os planos da ViaMobilidade incluem a instalação de mais um PCDS no ano que vem. Sendo assim, dois trens irão circular pelas linhas 8 e 9 monitorando a qualidade da rede aérea.
Ao mesmo tempo, a concessionária também planeja usar inteligência artificial (IA) para refinar as análises do PCDS. Desta forma, o equipamento poderá reconhecer padrões e encontrar possíveis falhas ainda mais cedo.