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Dia do Meio Ambiente: pesquisador brasileiro mapeia áreas de atropelamento de animais

Por: Fellipe Gualberto, especial para o Mobilidade . 05/06/2024
Inovação

Dia do Meio Ambiente: pesquisador brasileiro mapeia áreas de atropelamento de animais

Conheça o trabalho e saiba quais medidas foram tomadas para impedir o acidentes com a fauna local

8 minutos, 56 segundos de leitura

05/06/2024

Por: Fellipe Gualberto, especial para o Mobilidade

De acordo com Alex Bager, a sinalização por placas é uma das medidas menos efetivas para impedir o atropelamento. Foto: Divulgação/Adobe Stock

De acordo com o Centro Brasileiro de Ecologia de Estradas (CBEE), a cada segundo 17 animais são atropelados no Brasil. Em um ano, ocorrem cerca de 475 milhões de acidentes com animais. Em celebração ao Dia do Meio Ambiente, o Mobilidade Estadão conversou com Alex Bager, professor de Ecologia e Conservação na Universidade Federal de Lavras (UFLA) e fundador da EnvironBIT, startup que trabalha para preservar a vida de animais que vivem no entorno de estradas, para conhecer as ações da empresa e o que as pessoas podem fazer para contribuir.

De acordo com o pesquisador, a questão do atropelamento de animais ainda não é foco de debate e “normalmente os estados não querem ter protocolos bem embasados cientificamente, com resultados e que buscam a solução do problema”.

Leia também: Projeto de lei determina tarifa zero no transporte coletivo em caso de calamidade

Muitas frentes em uma empresa

Criada em 2019, a EnvironBIT é fruto de 20 anos de pesquisas sobre meio ambiente e ecologia nas estradas feitas na UFLA. Alex Bager é um dos criadores dessa empresa que atua em múltiplas frentes para evitar o atropelamento de animais.

Uma das frentes de atuação da empresa é o atendimento a companhias de transporte e logística, definindo rotas com menor chance de colisão com espécies locais, informando em tempo real áreas de risco e melhorando as práticas de ESG para os clientes.

Ao mesmo tempo, a EnvironBIT também presta consultoria a órgãos públicos. Por exemplo, traçando as melhores rotas para o licenciamento de estradas, fazendo planejamento territorial e encontrando soluções para mitigar o número de atropelamentos em vias já existentes.

Por fim, a empresa ainda usa inteligência artificial para mapear os ‘Km de Proteção’, tecnologia que identifica áreas com maior probabilidade de atropelamento, e disponibiliza a informação de diferentes maneiras para gestores públicos, por exemplo.

Km de Proteção: Inteligência Artificial em defesa dos animais

Mapeio de áreas de risco usa dados de diversas fontes, além de inteligência artificial. Foto: Divulgação/Adobe Stock

“Não precisamos ter dados de uma rodovia para dizer quais são os pontos de atropelamento nela”, diz. Apesar de parecer contraditório, é assim que Alex Bager começa a explicação de como usa Inteligência Artificial definir os Km de Proteção.

Para começar esse processo, a EnvironBIT coletou dados de diversas fontes para alimentar sua inteligência artificial. Dentre elas estão estudos científicos, dados de licenciamento ambiental e informações sobre atropelamento de animais cedidas por concessão de rodovias ou por parceiros.

Ao todo, o banco de dados possui 400 mil registros. Com esse histórico, é possível usar IA para encontrar rodovias com condições similares e impedir acidentes. “Identificamos quais são as características e a partir disso conseguimos extrapolar para outros lugares do Brasil”, afirma Bager.

A inteligência artificial é o método que usamos para identificar quais são as variáveis que influenciam no atropelamento de cada uma das espécies que a gente analisa

Alex Bager, professor de Ecologia e Conservação na Universidade Federal de Lavras (UFLA) e fundador da EnvironBIT

De acordo com o professor, “usamos inteligência artificial para criar algoritmos que analisam onde os animais estão morrendo. A partir dos dados que temos, extrapolamos a informação para áreas que não conhecemos. Com isso, atingimos níveis de 86% de precisão”.

Uma vez que os ‘Km de Proteção’ são definidos, esses podem ser entregues de três diferentes modos. Em primeiro lugar, como mapa e banco de dados georeferenciados que possuem alta precisão, normalmente para governos e concessões.

Ao mesmo tempo, os ‘Km de Proteção’ também podem ser disponibilizados em aplicativos próprios de empresas, com o objetivo de alertar motoristas da frota sobre áreas de risco.

Por fim, empresas que não possuem aplicativos para incorporar os Km de Proteção podem usar o app uSafe, programa criado pela EnvironBIT que sinaliza áreas com risco de atropelamento.

R$ 800 mil em economia com acidentes

Em parceria com a concessionária SPMar, que atua nos trechos Sul e Leste rodoanel de Mário Covas, a EnvironBIT testou a eficácia do uSafe ao longo de 5 meses entre o final de 2022 e o início de 2023.

Ao todo, a SPMar obteve economia de mais de R$ 800 mil com os acidentes que foram evitados após o uso do app e as campanhas de comunicação. Ao mesmo tempo, a empresa também conseguiu proteger o meio ambiente, evitando a morte de espécies em risco de extinção.

“Analisamos os dados e propusemos 12 áreas críticas de atropelamentos, sinalizamos elas via uSafe e a concessão realizou uma série de ações, como a divulgação, trabalho junto da comunidade”, diz Berger.

Como resultado, a taxa global de atropelamento de animais caiu em 12%. Por sua vez, o número de animais de grande porte atropelados caiu de 50% a 100%, dependendo do trecho.

Parcerias com Santa Catarina

A EnvironBIT também já realizou um trabalho em conjunto com a Secretaria de Infraestrutura de Santa Catarina para diminuir o atropelamento de animais no estado. De acordo com Bager, “nos contrataram para modelarmos 6200 Km de Proteção”.

Os dados foram usados para que o governo gaúcho pudesse realizar planejamento territorial. De acordo com o pesquisador “essa foi a primeira vez que um estado do Brasil desenvolveu tal ação”.

Como resultado, a malha viária de Santa Catarina atualmente possui informação para definir ações de proteção para a fauna local e, antes mesmo do inicio de novas obras, pode traçar trajetos ou criar ações que diminuam o número de atropelamentos.

Além do mapeamento dos Km de Proteção, a EnvironBIT também propôs uma série de ações para os catarinenses. Dentre elas estão: “um protocolo de monitoramento de fauna atropelada, protocolo para análise de dados e monitoramento de medidas de mitigação”, afirma Bager.

Essas metodologias estão disponíveis para qualquer empresa que o estado conceder as rodovias. Dentre as vantagens, Bager cita “a padronização da coleta e análise dos dados, que permite que essas informações sejam comparáveis”.

EnvironBIT em São Paulo

Em São Paulo, a EnvironBIT também realizou ações para proteger a fauna em parceria com o Departamento de Estradas e Rodagem (DER-SP). “Fizemos monitoramento e análises. Foi um trabalho de menor extensão, tínhamos 35 Km de monitoramento”.

A pesquisa aconteceu na rodovia SP-613. “Ao final do trabalho, propusemos que a extensão da rodovia no trecho de um parque fosse totalmente telada”, explica. O governo acatou o conselho e telou 14 Km de extensão em que havia atropelamento de animais de grande porte, como a anta e a onça.

No entanto, essa ação gerou outra necessidade. Bager destaca que quando se implanta uma cerca que impede o deslocamento de animais um lado para o outro, é necessário propiciar passagens.

Por isso, a EnvironBIT sugeriu a ampliação do tamanho de algumas passagens para que as espécies pudessem se deslocar de um lado do parque para outro. O DER-SP também acatou a sugestão e realizou as obras.

Os danos das estradas aos animais

Placa sinaliza passagem de animais
O atropelamento seria apenas um dos danos causados pelas estradas. Foto: Divulgação/Unsplash

Os atropelamentos não são os únicos danos que as estradas podem trazer a vida selvagem. No dia do meio ambiente, Bager convida as autoridades a considerarem outros impactos: “por exemplo, a poluição sonora, que é um impacto para espécies de anfíbios, aves, insetos e todas aquelas que usam o som para se comunicar”.

Ao mesmo tempo, as estradas também podem gerar queda na população de certas espécies. “Temos o problema que chamamos de efeito barreira. Quando um animal se aproxima da estrada, ele enxerga a via como um ambiente inóspito e não a cruza. Por isso pode não ter contato com comida ou parceiros”, explica.

Por fim, Bager cita que os automóveis também podem gerar poluição híbrida, envenenando as águas que animais consomem com poluentes emitidos pelos escapamentos dos carros.

Dia do meio ambiente, soluções possíveis para evitar atropelamento de animais

Os ‘Km de Proteção’ ajudam empresas a entender as principais áreas de risco de atropelamentos e governos a criar soluções de infraestrutura. No entanto, Bager argumenta que ainda há trabalho em três níveis.

Em primeiro lugar, o cientista destaca que para mitigar o número de animais atropelados “precisamos de uma medida em nível nacional. Por exemplo: políticas públicas, projetos de lei, criação de normativas para licenciamento ambiental”.

Por sua vez, em nível regional é possível pensar em soluções de planejamento territorial. “Hoje o problema é resolvido depois que a concessão foi implantada. As empresas fazem o monitoramento para saber onde há atropelamento quando a estrada está sendo usada. Isso leva anos”, acrescenta.

De acordo com o pesquisador: “já temos tecnologia que permite saber onde você vai afetar a fauna antes mesmo do primeiro metro de estrada ser construído”, o que falta é a aplicação.

Por fim, em escala local Bager defende “medidas de mitigação, como passagens para a fauna, redutor de velocidade, cercas”. De acordo com ele, as placas não são efetivas para impedir atropelamentos e são, na melhor das hipóteses, apenas sinalizações.

Passagens de fauna, ou viadutos de animais

A falta de estudos torna os viadutos para animais ineficientes. Na foto, a passagem de animais entre os municípios de Parati e Cunha, no Parque Nacional da Serra da Bocaina. Foto: Divulgação/EnvionBIT

Sobre as passagens de fauna, pontes ou estruturas que permitem a passagem da vida selvagem, Bager afirma que “elas são bastante conhecidos no exterior e, quando bem feitos e instalados em lugares em que há evidente impacto para uma espécie, são muito boas, uma das melhores soluções”.

No entanto, o especialista destaca que no Brasil “as passagens de fauna, seja por baixo da via ou vegetada, viraram terra de ninguém. A decisão para medidas como essa é feita sem um embasamento técnico. Se acaba gastando dinheiro público ou privado, no caso das concessões, em locais errados”.

No caso do viaduto para animais da BR 101, primeiro do Brasil, Bager defende que a posição foi baseada em 20 anos de monitoramento do meio ambiente com telemetria, garantindo um local adequado.

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