Drone entrega implantes dentários em Salvador; conheça como funciona a operação pioneira no Brasil
Inovação coloca os drones como intermediários da logística na capital da Bahia; segundo empresa responsável, operação deve chegar a outras cidades do País nos próximos meses
Existe uma forma diferente de ligar a Cidade Alta à Cidade Baixa de Salvador, sem passar por avenidas ou pelo icônico Elevador Lacerda. Quando o assunto é transporte de objetos, Salvador também ocupa os céus. Isso porque na terça-feira, 28, a Neodent, empresa líder em implantes dentários no Brasil, passou a realizar entregas com drone, em parceria com a Speedbird Aero, fornecedora das aeronaves e serviços de logística aérea.
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Este novo capítulo da odontologia brasileira começou na capital da Bahia para agilizar o atendimento dos mais de 2,5 mil clientes que a Neodent tem na capital baiana. Conforme o gerente de logística da companhia, Juliano Souza, a primeira entrega por drone é um marco tanto para a operações brasileiras quanto para o grupo Straumann, do qual a Neodent faz parte e ocupa posição de líder global de odontologia estética.
“Essa entrega pioneira é um marco para quebrar barreiras, uma expectativa de melhora dos serviços para o cliente”, diz Souza. O primeiro voo com a encomenda saiu da base de operações da Speedbird no Jardim dos Namorados, na Cidade Alta, e foi entregue na Baía Marina.
A seguir, um motoboy recolheu o produto e o levou até a clínica do cliente. Neste caso foi um dentista do bairro da Graça, consumidor dos produtos da empresa há nove anos. Com a operação com drone, o tempo de entrega médio do implante caiu de 1h30 para 30 minutos.
Salvador inicia operação de entregas por drone
Conforme o gerente de logística da Neodent pontua, escolher Salvador para ser a primeira cidade do Brasil a realizar transporte aéreo dos implantes tem muito a ver com a geografia da cidade e as próprias políticas da capital baiana. “Hoje, os drones não podem voar sobre a cabeça de pessoas”, explica Souza sobre a resolução da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), que regulamento o transporte aéreo no Brasil.
Por isso, no caso de Salvador, o drone passa sobre o mar, reduzindo uma distância, que por terra, pode levar mais de 30 minutos, para um voo de apenas 12 minutos. “Após fazer alguns levantamentos [em outras cidades], decidimos que iniciar a operação em Salvador, em parceria com a Speedbird, seria mais vantajoso, pelo fato já ter alguns pontos de pouso e decolagem liberados”, ressalta Souza.
Isso acontece porque a Prefeitura da cidade está em processo de implementação de políticas públicas voltadas ao estímulo do transporte aéreo não tripulado, como é o caso dos drones. Nos próximos meses, a cidade deve publicar um decreto que institui a Política Municipal de Fomento ao Uso de Aeronaves Não Tripuladas em Salvador. A informação foi adiantada por Samuel Pereira Araújo, secretário municipal de Inovação e Tecnologia (Semit) de Salvador ao Mobilidade Estadão.
Atualmente, há uma minuta do projeto em consulta pública. Conforme o secretário, o texto recebeu 10 sugestões de empresas, organizações civis e do próprio Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea). Nesse sentido, a política deve provocar investimentos na infraestrutura e pesquisa na área por parte da prefeitura. Já as empresas que desejem explorar comercialmente o transporte podem até receber incentivos fiscais.
Além disso, o gerente da Neodent conta que a implementação de iniciativas ligadas ao ESG (políticas relacionadas à área ambiental, social e de governança das empresas) nortearam o projeto. Isso porque os drones são 100% elétricos, o que contribui para redução de emissão de gases de efeito estufa (GEE). Ou seja, antes, o transporte dos implantes era totalmente feito por motocicletas que usam gasolina como combustível. Agora, as motos são usadas apenas no início e no final do processo de logística.
Como funciona a entrega com drone
Quando um cliente faz um pedido de implantes para receber no mesmo dia, inicia o processo de logística da Neodent. Com o novo sistema de drones, a mercadoria sai da sede da empresa na Cidade Alta de Salvador por meio de um motoboy. Ele leva o produto até a base aérea no Jardim dos Namorados, onde um operador da SpeedBird coloca dentro da caixa e conecta no drone.
A seguir, há medição do vento e os dados são enviados para a Central de Operações, que pode ser em Franca (SP), onde fica a fábrica da Speedbird, ou em qualquer lugar do mundo em que o operador tenha conexão.
Com o voo autorizado, o drone sobe cerca de 50 metros e segue viagem sob o mar. Em cerca de 15 minutos o equipamento pousa na Bahia Marina, onde há outro operador. Lá, outro motoboy recolhe o produto e o leva até o destino final, há poucos quilômetros dali.
Embora os drones sejam totalmente automatizados e consigam tomar decisões de voo por conta própria, há um piloto e um copiloto em locais diferentes comandando, de forma remota, o voo. No caso do voo que ocorreu na terça-feira, 28 de janeiro, o piloto estava em Aracaju, capital de Sergipe.
Além dos aeropontos do Jardim dos Namorados e da Bahia Marina e uma terceira base ativa, a Speedbird tem mais 10 pontos autorizados para uso de drones em Salvador. Por isso, há expectativa da própria Neodent expandir as entregas com esses equipamentos por outras regiões da cidade. Conforme o gerente da Neodent, um novo motoboy foi contratado para facilitar esse novo processo de logística.
Parceria entre as empresas
Embora o início das entregas por drones seja empolgante para as empresas envolvidas e clientes, o processo demorou alguns anos para se concretizar. De acordo com Souza, as conversas com a Speedbird começaram em 2021.
Porém, a falta da clareza regulatória e o fato de ser uma novidade fez com que o projeto fosse desenhado em parceria. “De 2021 para cá, nós viemos trabalhando e quebrando algumas barreiras, barreiras regulatórias, barreiras de qualidade, barreiras internas da própria companhia”, explica Souza.
Conforme o gerente, uma das razões para a demora do início do projeto foi justamente entender como aplicar os rigorosos padrões de qualidade da Neodent no esquema de transporte por drone. Segundo Augusto Carvalho, gerente de operações comerciais da Speedbird, tudo foi construído a quatro mãos para oferecer o drone como um serviço, de forma que a Neodent não precise se preocupar com o produto a partir do momento que ele é colocado nos drones da Speedbird.
“Quando o cliente nos contrata, ele contrata a base operacional, as baterias, o operador, o drone, a certificação, absolutamente tudo. Eu só preciso que ele me entregue o pedido pra gente colocar no ar e entregar”, conta Carvalho.
Embora as empresas não abram números de investimento, o gestor acredita que ele deve se diluir com a escalabilidade da operação. Nos próximos meses, a operação em Salvador passará por alguns testes e análises de dados.
Mas os dois representantes das empresas envolvidas garantem que as operações devem ser expandidas para outras cidades. A princípio, eles pensam em Florianópolis, pela próprio mar, e Belo Horizonte, pela Serra do Curral.
Entretanto, com a criação de novas legislações e maturação do mercado, a tendência é que as entregas por drones alcancem o Brasil inteiro.
O drone
- Peso de 12,5 kg
- Baterias de 22 amperes
- Material: fibra de carbono
- Seis motores
- Seis hélices
- Software com IA com autonomia para tomar decisões de voo
- Capacidade de encarar 30 nós de vento (56 km/h)
- Tem 4G conectado em quatro operadores diferentes simultaneamente para garantir a conexão com a câmera
- Altura máxima autorizada: 120 metros, mas costuma voar a 40 ou 50 metros acima do solo
- Caixa de transporte tem capacidade de 35 litros
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A jornalista viajou a Salvador a convite da Neodent
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