É só sair nas ruas e encontramos pessoas olhando o celular enquanto dirigem, ou mesmo aproveitando o “finalzinho” do sinal amarelo para cruzar com o semáforo vermelho, para mencionar apenas alguns exemplos. Basta olhar para os lados no trânsito – ou prestar atenção no próprio comportamento ao volante. Embora, na maioria dos casos, as pequenas transgressões não resultem em acidentes, estatisticamente a repetição tende a gerar alguma ocorrência, que pode ir de uma multa a uma colisão mais séria.
“A pessoa usa o celular ao volante e não acontece nada. Aí usa de novo. Isso aumenta o risco. Se fizer mil vezes, pode ocorrer (acidente)“, diz o fundador e presidente da Cobli, Rodrigo Mourad. Para tentar diminuir ações como essas, além de outras práticas ilegais e perigosas, a empresa utiliza câmeras dotadas de inteligência artificial (IA). Mourad diz que a tecnologia reduz em cerca de 80% a incidência de comportamentos indesejados após alguns meses.
A empresa, que há seis anos opera com monitoramento de frotas, informa que o uso do sistema, batizado de Cobli Cam, resultou na diminuição de 40% nas multas de um frotista, e praticamente eliminou as infrações motivadas por uso de celular. “O erro humano é responsável por 90% dos acidentes de trânsito”, afirma Mourad. Para enfrentar o problema – que pode resultar em danos físicos, materiais e prejuízo para a companhia -, Mourad diz que o uso combinado de câmeras e inteligência artificial é um importante aliado. “Na maioria dos casos, os acidentes ocorrem por distração. A causa mais comum é o uso de celular, mas o motorista pode estar cansado, dirigindo há muito tempo.”
Mais do que transmitir imagens à base de operações, o dispositivo é capaz de advertir o motorista se registrar alguma falha. A inteligência artificial é capaz de detectar uma atitude de distração ao volante. Nesse caso, o próprio equipamento avisa o motorista, alertando-o para não usar o celular, por exemplo. “O uso do telefone é um hábito enraizado. Como quebrar essa prática? Dando feedbacks ao motorista.”
Esse alerta é o que Mourad chama de “ciclo curto”, uma intervenção rápida para mitigar o problema. De acordo com ele, motoristas que usavam o aparelho de 25 a 35 vezes por dia reduziram o uso para uma média de 5 a 6 vezes/dia graças a esse método. O equipamento também é capaz de detectar formas agressivas de direção, como acelerações e frenagens bruscas, que elevam o consumo e aumentam o desgaste de componentes dos freios.
A Cobli trabalha também com o que Mourad chama de “ciclo longo”, um treinamento com as empresas, mostrando que acidentes geram custo, o motorista pode se machucar e o veículo fica fora de serviço, sem contar o desgaste na imagem. “Um acidente é péssimo para a marca”, diz. De acordo com ele, incentivos também contribuem para o desenvolvimento profissional. “Pode-se premiar os melhores motoristas, oferecendo a eles o carro mais novo, a escolha do dia de folga, um churrasco”, explica.
Segundo o executivo, ao adotar esse tipo de tecnologia em sua frota de entregas, a gigante do comércio eletrônico Amazon registrou queda de 50% em acidentes. Mourad estima que um veículo comercial pode chegar a economizar “na casa de R$ 1 mil” por mês com despesas relacionadas a combustível e acidentes, por exemplo. “No caso de uma empresa com 300 veículos, a economia chega a R$ 4 milhões por ano”, garante.
Estudos da Cobli detectaram que em um mesmo veículo pode haver diferença de 20% a 30% de consumo, apenas pelo modo de dirigir. “As pessoas não sabem exatamente o que eleva o consumo. Há quem diga, ‘ah, é o ar-condicionado’, ‘é a janela aberta’, ‘excesso de velocidade'”, diz. “Com a inteligência artificial, dá para saber quem está fazendo o quê de forma incorreta.”
No sistema da empresa, as imagens são enviadas para a nuvem. Dali, as informações são cruzadas com outros dados, como trânsito, e o resultado é transformado em software. Segundo Mourad, o gestor da frota não precisa ver os vídeos. “O que importa é a gente saber que há hábitos ruins. Não é que alguém vai ficar olhando o vídeo o tempo todo”, afirma.
Apesar de um certo “receio” constatado por parte de alguns usuários, Mourad garante que em pouco tempo o motorista começa a entender que o equipamento está lá para ajudar. “Ele começa a perceber que assume vários comportamentos perigosos. É perigoso até para a própria pessoa.”
Para o executivo, o segmento tem muito espaço para crescer. De acordo com ele, enquanto em países desenvolvidos de 60 a 70% dos veículos comerciais têm algum tipo de IoT (internet das coisas) embarcado, no Brasil a taxa ainda não passa de 15%.