Quando falei que iria até o Terminal Santo Amaro para experimentar a primeira linha de ônibus elétrico sem fios em São Paulo, o meu caçula, Sammy, 16 anos, deu um sorriso irônico. Não se surpreendeu, digamos assim. Ele sabe, tal como seus irmãos, que sou maluco por coletivos elétricos. Adoro. Conheço o número deles em operação na China (mais de 400 mil), acompanho sua implantação na Califórnia (onde são obrigatórios) e faço em lugares inconvenientes discursos espontâneos nos quais os corredores de ônibus e a eletrificação da frota surgem como as grandes soluções da vida urbana em geral e, sobretudo, em nossa cidade.
Minha tara, a minha loucura, para ser sincero, é o aquecimento global. Preocupo-me, tal como dez entre dez cientistas, aliás, com o futuro do clima no planeta, que está aquecendo além da conta e muito rápido. A boa notícia é que sabemos como resolver isso. A má é que não vai ser fácil.
Entre as muitas soluções, o ônibus elétrico autônomo, com baterias de lítio, é a que cabe melhor em São Paulo, na minha modesta opinião, junto com o reflorestamento urbano e a despoluição dos rios. (O trólebus elétrico resolveria a poluição, mas os fios aéreos limitam seu alcance.) A mudança de combustível deixará o ar da capital mais limpo e (bem) menos barulhento e o conforto maior – o elétrico autônomo não dá trancos nem socos – fará com que milhares troquem os engarrafamentos pelos coletivos. Essa é a minha tese, ao menos.
Para comprová-la, chamei meu amigo cineasta Átila Amaral para ir até o Terminal Santo Amaro. A ideia é gravar a minha primeira viagem no busão elétrico autônomo em SP para a posteridade (e meu canal de YouTube).
Encontro o Átila no terminal, às 11 horas da manhã, na quarta-feira. Chego de metrô através da ligação esperta com a Estação Largo Treze (Linha 5-Lilás). Por enquanto, há ônibus elétricos autônomos numa só linha em São Paulo, a 6030-10, Unisa- Campus 1-Terminal Santo Amaro, da empresa Transwolff. Roda na Zona Sul, ali pelo bairro de Socorro. São 15 ônibus. Saem da baia D 51. O nome do nosso motorista é Luciano Romano e tem décadas de experiência nos velhos busões a óleo diesel. Garante que o elétrico é BEM melhor. Destaca as vantagens ambientais, a falta de poluição e de barulho. Sente-se orgulhoso, desconfio, ao poder contribuir para a melhoria do meio ambiente, como quase todo mundo quando ganha essa oportunidade.
Desde que começou a guiar o elétrico, conta Luciano, chega mais limpo em casa depois do expediente. No seu tempo dos ônibus a diesel, precisava tirar no banho uma película grudenta de fuligem preta que cobria sua pele da cabeça aos pés, todos os dias. Isso acabou, garante.
Descemos, eu e o Átila, num dos pontos da Linha 6030-10 para conhecer o pátio da Transwolff, onde os 15 ônibus elétricos da empresa se abastecem. A alegria dos funcionários do pátio com a nova tecnologia é palpável. Ligam os elétricos nas tomadas para o Átila filmar. Mostram como o ônibus sobe e desce para facilitar a entrada de passageiros diversos. Contam que uma carga de quatro horas dura um dia inteiro, três viagens ida e volta – se entendi bem.
O gerente de novas tecnologias Paulo Lima dos Santos destranca a ligação da subestação que traz eletricidade direto de Itaipu, ali do lado do pátio, para o Átila fotografar. A empresa, diz, está muito satisfeita com a nova tecnologia. Em 2020, pretende colocar para andar um número bem maior de ônibus elétricos. Tomara que as outras empresas sigam o exemplo. Sem o barulho e a poluição dos motores a óleo diesel, nossa cidade dará um salto de qualidade de vida.