Democratizar acessos, facilitar práticas e impulsionar mudanças são movimentos típicos das startups. Tão naturalizadas no cotidiano, elas, hoje, fazem parte da rotina dos brasileiros que usam redes sociais, pedem comida por delivery ou utilizam aplicativos de transporte. É natural, portanto, que busquem participar do movimento de cidades inteligentes, e o uso da tecnologia é fundamental nesse processo.
“A tecnologia tem o potencial de aproximar pessoas e de aproximar o governo das pessoas. Ela possibilita que a gente consiga reconhecer e transformar nossos próprios recursos”, pontua Renato Cymbalista, professor da FAU-USP. “Entre outras vantagens, os moradores usam grupos online para organizar ações ou denunciar o recapeamento malfeito no bairro. Certamente a cidade ficaria pior sem esses recursos”, exemplifica.
Para ele, no entanto, a tecnologia também apresenta riscos e existe um equívoco quando se pensa que as cidades inteligentes são aquelas que tentam resolver tudo por aplicativos. “Sem cuidado, as inovações podem transformar a cidade numa distopia. O uso descontrolado de câmeras de reconhecimento facial como estratégia de controle, por exemplo, pode diminuir nossa liberdade”, alerta Cymbalista.
O saldo do professor sobre as startups é que elas não podem ser utilizadas apenas para enriquecer os empreendedores e investidores. “Os benefícios têm que chegar à sociedade, de fato”, aconselha, antes de apontar o que considera a melhor qualidade desse ecossistema. “São pessoas dispostas a correr riscos para desenvolver soluções inovadoras. Para o Estado, esse tipo de risco é praticamente impossível”, arremata.
É nesse viés de tomar riscos que o empreendedor Carlos Castro, CEO do Apepê, se apoia para tentar transformar a relação das pessoas com seus condomínios residenciais. A startup utiliza recursos tecnológicos para simplificar atividades comuns. Um mural de avisos digital, armários inteligentes que automatizam o recebimento de encomendas e supermercados sem funcionários são algumas das funcionalidades disponíveis.
Ele explica que uma das estratégias da marca é oferecer um período de teste para os gestores dos empreendimentos avaliarem os benefícios. “O mercado condominial é burocrático. Se formos pelo método tradicional, não vamos conseguir entrar”, critica. “Por isso, apostamos na usabilidade e oferecemos uma amostra grátis. A gente assume os riscos; não tem outra alternativa”, aponta.
Para alcançar os resultados esperados, o empreendedor acredita que tem um trunfo nas mãos. “Você namora, escuta música e pede comida no meio digital, mas a relação com nossa casa ainda é analógica. A cidade inteligente é aquela em que o desenvolvimento urbano e as tecnologias estão integrados para gerar eficiência em todos os cantos”, conclui.
Quem vive em metrópoles como São Paulo e trabalha longe de casa já se acostumou com os congestionamentos quilométricos que cortam várias regiões da cidade. O quadro é tão sintomático que motiva debates governamentais, alterações no Plano Diretor e, como era de se esperar, inovações de tecnologia. Tentar diminuir a dor de cabeça que o trânsito proporciona foi um dos motivos que provocou o nascimento da Tembici.
A startup de bicicletas compartilhadas se propõe a melhorar o fluxo de pessoas na cidade por meio de rotas inteligentes, integração e infraestrutura. “A cada cinco viagens, uma começa ou termina em modais de ônibus e metrô. É uma prova da acessibilidade e da mobilidade inseridas na rotina das pessoas”, argumenta Gabriel Reginato, diretor de negócios da Tembici.
Com o uso de inteligência artificial, a companhia identifica padrões e reposiciona as bicicletas de acordo com a demanda. “Se tem, por exemplo, um grande engarrafamento na Faria Lima, a gente realoca mais bikes lá. Queremos estar no lugar certo, no horário certo e para as pessoas certas”, ilustra Gabriel. “Essa é uma das maiores vantagens das startups: elas são mais ágeis para implementar mudanças e criar experiências agradáveis aos cidadãos”, acredita. (B.D.)