Tecnologia revoluciona logística

Prazo das entregas é mais importante para os consumidores brasileiros do que o preço, indica pesquisa. Foto: Getty Images

08/09/2022 - Tempo de leitura: 3 minutos, 38 segundos

Uma das mudanças decorrentes da pandemia, período em que o hábito das compras online ganhou forte impulso entre os brasileiros, é a maior importância dada à eficiência na logística. O prazo das entregas – ou de atendimento, no caso de serviços em domicílio – passou a exercer um peso bem maior no nível de satisfação dos clientes.

Pesquisa sobre comércio eletrônico realizada pela plataforma Capterra, do grupo Gartner, concluiu que 49% dos consumidores brasileiros já consideram o prazo de entrega como o fator mais importante de uma transação pela internet, deixando até mesmo o preço em segundo plano, com 33% das respostas. As demais alternativas da pesquisa foram embalagem (7%), atendimento (6%) e comunicação (5%).

Para as empresas, um transporte mais racional representa não apenas a perspectiva de vantagem financeira, mas também ganhos de sustentabilidade, já que envolve a redução da poluição provocada pela queima de combustíveis. É um avanço bem-vindo numa época em que os parâmetros de sustentabilidade têm sido cada vez mais monitorados pelo mercado, em sintonia com as políticas corporativas de ESG (Ambiental, Social e Governança).

Manancial rico

Quando se fala em busca por maior eficiência na logística, a aliada número um das empresas é a tecnologia. Diante das demandas atuais e dos recursos disponíveis, lidar com uma série de informações simultâneas é uma tarefa que certamente precisa ir além das planilhas tradicionais.

“Estamos falando de um setor que, aqui no Brasil, tem historicamente uma baixa adesão à tecnologia. É essa cultura que estamos empenhados em transformar”, diz Rodrigo Mourad, presidente e cofundador da Cobli, FleetTech que oferece soluções tecnológicas para descomplicar e potencializar o desempenho dos veículos na gestão de frotas.

A Cobli é uma das muitas startups que surgiram nos últimos anos voltadas à resolução de problemas da logística – são as chamadas logtechs. Mourad afirma que, ao adotar os recursos tecnológicos disponibilizados pela Cobli, a empresa-cliente pode chegar a até 20% de redução no consumo de combustível, além de vários outros benefícios, como queda no índice de acidentes e economia na manutenção dos veículos.

Nos serviços oferecidos pela Cobli, sensores instalados nos veículos registram localização, trajetos, acelerações e frenagens, por exemplo. Os dados são enviados para a plataforma, que permite administrar consumo de combustível, manutenções preventivas e até o modo de condução dos motoristas. “Tudo isso resulta num manancial rico para identificação de pontos de melhoria dos mais diversos tipos”, observa Mourad.

Aliada ou vilã?

Além das startups, multiplicam-se também os centros de pesquisa voltados à aplicação de tecnologia na logística. Um exemplo foi a inauguração, em agosto, do novo laboratório de Digital Supply Chain do Centro Universitário FEI, instituição com mais de 80 anos de tradição em Administração, Ciência da Computação e Engenharia.

A proposta do laboratório, instalado no campus de São Bernardo do Campo (SP), é desenvolver soluções para desafios reais do mercado, a partir da aplicação de ferramentas tecnológicas avançadas. “Queremos ampliar a capacitação dos alunos, permitindo que utilizem tecnologias que podem auxiliar nas tomadas de decisão e impulsionar a eficiência de todo o ecossistema das cadeias de suprimentos”, observa o professor Fernando Scramim, chefe do Departamento de Engenharia de Produção.

Outra circunstância que tem demandado esforços na área logística é a onda de aquisições no mercado varejista e de bens de consumo no Brasil. “Unir equipes, valores e operações na cadeia de suprimentos e logística de duas varejistas é como traçar a rota de um voo com o avião no ar”, compara Gustavo Pipa, diretor de Relacionamento para Varejo e Bens de Consumo da consultoria Capgemini Brasil.

Ele projeta que o atual movimento de aquisições deve se prolongar ainda por alguns anos, com a tecnologia representando o diferencial mais marcante em relação às ondas anteriores – como aquela ocorrida após o Plano Real, entre 1994 e 2002. “De aliada, a tecnologia pode se tornar vilã se não for usada com inteligência. É preciso olhar para ela como uma ferramenta-chave no processo de facilitação dos fluxos de trabalho”, observa o especialista em consumo.