Corrida pela sustentabilidade
Embaixador da ONU para o meio ambiente, o piloto Lucas Di Grassi é um forte defensor dos veículos elétricos
O piloto Lucas Di Grassi, 37 anos, não pisa no freio quando o assunto é meio ambiente. Até mesmo nas competições que participa, como a Fórmula E – disputada por carros elétricos –, há uma mensagem clara em prol da sustentabilidade. Ex-piloto da Fórmula 1, Di Grassi acelera fundo na causa da eletromobilidade, envolvimento que lhe rendeu o convite para ser embaixador do Programa da Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
Com essa atividade, ele divide seu tempo entre as pistas, os novos projetos (como a criação do campeonato mundial de patinete elétrico) e a presença em fóruns e palestras no mundo todo, defendendo a emissão zero. E garante: o veículo elétrico é viável no Brasil, conforme revelou nesta entrevista ao Mobilidade.
Quando começou seu engajamento com as questões ligadas ao meio ambiente?
Lucas Di Grassi: Sou uma pessoa pragmática. Não abraço árvore nem defendo o fim da produção de petróleo no mundo. Minha atuação começou mais fortemente quando percebi que a eletromobilidade se tornou economicamente viável, favorecendo a transição para os veículos elétricos, com emissão zero.
Você acredita que a mobilidade elétrica já é economicamente viável em países como o nosso?
Di Grassi: A transição é importante no Brasil e em outros países da América do Sul, em que os mercados ainda são modestos. Aqui, o potencial é grande, nossa matriz energética é renovável e a virada de chave acontecerá mais rapidamente com uma política adequada. Em qualquer lugar, o elétrico é factível ou não, dependendo do uso. O transporte por aplicativo, por exemplo, é viável e, em quatro anos, o motorista paga o valor investido no carro elétrico. E, o mais importante, não estará poluindo o ar.
Apesar da falta de uma política adequada, o Brasil está caminhando bem na transição?
Di Grassi: O País está demorando por causa de uma combinação de fatores como o lobby das montadoras, que não apressam o passo, e os impostos altos que incidem em um automóvel movido a bateria. Quanto menos o governo atrapalhar, mais dinâmica será a transição. Não é papel dele definir a tecnologia que vai impulsionar os automóveis.
São os impostos que deixam o carro elétrico muito caro no País?
Di Grassi: Não concordo com essa afirmação. Ninguém vai comprar um carro elétrico para deixar na garagem. Quem dirige muito no dia a dia pode fazer um financiamento e pagar as parcelas com o que gastaria colocando gasolina no tanque. Mas os juros precisam ser acessíveis. É aí que o governo deveria se envolver. Obviamente, um navio cargueiro elétrico não é comercial nem tecnicamente viável. Em compensação, um patinete a gasolina também não faz nenhum sentido. No transporte público, nos veículos comerciais e na microbilidade urbana, a tecnologia elétrica é a mais racional.
A seu ver, a questão da emissão zero é o principal apelo do veículo elétrico?
Di Grassi: Sem dúvida. Quando usamos um carro com motor a combustão numa cidade como São Paulo, estamos poluindo o ar que 20 milhões de pessoas respiram. Isso implica em danos à saúde, um volume absurdo de sujeira, perda de produtividade e outros fatores. Esses problemas todos não entram na conta do veículo elétrico.
Você ajudou a criar a Fórmula E e o Eletric Scooter Champioship, o campeonato mundial de patinete elétrico. O público entende que essas iniciativas vão além do lado da competição?
Di Grassi: A disputa de patinetes é a modalidade mais acessível e inclusiva para quem deseja estar em uma corrida. A temporada de uma equipe custa, em média, € 250 mil, mil vezes menos do que um ano na Fórmula 1. É um campeonato com sete etapas, em circuitos de rua, disputadas por homens e mulheres juntos. Anualmente, o mercado da micromobilidade movimenta US$ 30 bilhões e cresce 70%. Esse transporte sustentável é o futuro das cidades densamente povoadas. Nosso recado é disseminar a ideia de que o veículo elétrico é sustentável, não emite poluentes e ajuda a evitar o aquecimento global.
Como surgiu o convite para ser embaixador das Organizações das Nações Unidas (ONU)?
Di Grassi: Em 2016, levei um carro da Fórmula E a acelerar na calota polar ártica, na Groenlândia. Queria divulgar a categoria e, principalmente, chamar a atenção para o derretimento do gelo, e o consequente aquecimento global. Esse tipo de envolvimento despertou o interesse da ONU, que, em 2018, me convidou para ser embaixador do Programa da Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Viajo o mundo todo para participar de encontros, simpósios, palestras e reuniões, sempre passando a mensagem da importância da preservação do meio ambiente.
O Zero Summit, que você organiza no Brasil, também tem esse foco?
Di Grassi: Sim. O fórum nasceu, em 2020, para divulgar ideias entre os líderes não só da indústria automotiva mas também das áreas de mineração, agricultura etc. O objetivo é acelerar o processo de transição para um futuro sustentável, lançando mão de inovações e tecnologias e passando a mensagem de emissão zero de carbono.
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