Na cidade de São Paulo, quase um terço das viagens são realizadas desse modo. Segundo a Pesquisa Origem e Destino do Metrô, cerca de 32% das 42 milhões de viagens realizadas na Grande São Paulo diariamente são feitas a pé. A última edição do estudo, realizada em 2017, mostrou que são 13,35 milhões de deslocamentos todos os dias feitos com as próprias pernas. O principal motivo de escolha pelo modal (93%) é a pequena distância a ser percorrida.
De acordo com o presidente da Sociedade de Cardiologia de São Paulo (Socesp), José Francisco Kerr Saraiva, a atividade física e a alimentação balanceada são as principais recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) porque ambas ajudam na redução de peso, na proteção cardiovascular e na diminuição de chance de infarto, AVC e câncer.
“Não existe medicamento que substitua a atividade física como instrumento de promoção de saúde”, explica o médico. E engana-se quem acredita que só exercícios vigorosos trazem ganho para a saúde. A recomendação da OMS é ao menos uma caminhada de 30 minutos, cinco vezes por semana.
“Os benefícios são progressivos. Existem trabalhos que mostram que, logo nas primeiras semanas, você já encontra benefícios cardiovasculares e alterações metabólicas favoráveis e protetoras para o organismo. Qualquer tempo é tempo para iniciar ou reiniciar a atividade física”, completa.
Sim, precisa de um certo esforço para caminhar e, dependendo do trajeto, pode ser até cansativo, com subidas e descidas, além de calçadas irregulares que pedem cautela para não se machucar.
Mas andar a pé é bem mais confortável do que ficar espremido no transporte público nos horários de pico. Sem contar que o único gasto será o da sola do sapato. Um benefício e tanto em tempos de crise.
Quando se depende do transporte público ou do carro para se locomover pela cidade nunca se tem certeza do tempo que o trajeto levará para ser percorrido. Em dias de chuva ou em que acontecem falhas nos sistemas de transporte, a viagem que levaria meia hora pode demorar quase o dobro.
E, em uma cidade como São Paulo, o que não faltam são imprevistos como esses frequentemente. Quando se vai a pé, é muito mais fácil prever o tempo porque, no geral, sempre andamos na mesma velocidade.
Além de passar a uma velocidade reduzida que facilita a observação, o pedestre também tem como benefício de caminhar uma visão mais ampla da paisagem ao redor, o que não acontece de dentro do carro ou do ônibus.
“Caminhar permite um (re)conhecimento, uma experiência ímpar da dinâmica da cidade e de seus habitantes, interagir com suas inúmeras possibilidades, desapegar de preconceitos, descobrir os universos paralelos da cidade, pensar e refletir! Caminhar pela cidade é um ato saudável não só do ponto de vista físico, mas emocional e social”, afirma Leandro Aliseda, membro da CidadeaPé (Associação pela Mobilidade a Pé em São Paulo).
Outro benefício de caminhar e que é um exercício democrático. A única recomendação antes de começar qualquer prática de atividade física é se certificar de que a saúde está em dia.“Todas as pessoas devem passar por um exame médico com o clínico geral para ver se existe algum problema. Isso pode ser feito no posto de saúde do bairro”, indica Saraiva.
Mas, segundo o médico, nem adianta esperar a disposição aparecer para começar. “Exercício envolve disciplina, determinação e vontade. Temos uma grande inércia para a prática da atividade física quando somos sedentários. Sempre achamos uma desculpa. Porém, tem que começar. Se conseguíssemos que todo brasileiro fizesse uma caminhada, a gente diminuiria muito o índice de doença cardiovascular e câncer no País”, conta.