De olho no segmento de motos trail, o segundo maior em volume no mercado brasileiro de motocicletas, com quase 300 mil unidades produzidas, no ano passado, a Honda apresentou a nova XR 300L Tornado. A Tornado 300 chega para ampliar a gama de motos trail da marca, juntamente com a Sahara 300, com quem compartilha quadro e motor.
A nova moto herda o nome da XR 250 Tornado, trail que fez sucesso na primeira década dos anos 2000, por sua versatilidade. Afinal, com rodas raiadas, aro 21, na dianteira, e 18, na traseira, e suspensões com bom curso, a Tornado era praticamente uma moto de trilha, mas emplacada para rodar nas ruas.
Chamada agora de XR 300L, a nova Tornado tem motor maior, mas manteve a proposta do modelo original de ser uma trail “raiz”, pronta para uma aventura off-road. Embora use o mesmo motor e quadro da Sahara 300, seu design remete aos modelos de motocross. Com silhueta esbelta, banco fino e paralama alto, a nova Tornado 300 chega às lojas apenas na cor vermelha, com grafismos inspirados na linha CRF da Honda, com preço sugerido a partir de R$ 27.690.
O valor equivale a Sahara 300 Rally, versão intermediária, mas a Honda não acredita que a Tornado irá “canibalizar” as vendas da sua irmã. “A Tornado chega para ampliar a gama de motos trail da Honda, mas com uma proposta mais off-road”, esclarece o supervisor de Relações Públicas da Honda, Luiz Gustavo Guereschi.
Embora use o mesmo chassi do tipo berço duplo, derivado da CRF 250F, como a Sahara, a Tornado 300 guarda diferenças, principalmente ciclísticas. O ângulo de cáster e o trail da suspensão dianteira são diferentes, assim como a mesa inferior, forjada em alumínio. Mudanças feitas para tornar a Tornado mais ágil e robusta nas trilhas.
Na traseira, o link que fixa o amortecedor à balança é mais longo, aumentando o curso da suspensão para 227 mm (2 mm a mais do que na Sahara). Já, na dianteira, o garfo telescópico convencional tem os mesmos 245 mm de curso, mas ganhou coifas (sanfonas) e um novo ajuste.
Com menos carenagem e peças em material mais leve, a Tornado também pesa menos: 143 kg a seco contra 146 kg da Sahara. Outros detalhes, como pedal de câmbio articulado, aros com trava para pneu off-road e pedaleiras sem borracha, complementam as alterações feitas pela Honda para tornar a Tornado 300 mais capaz no fora-de-estrada.
Afinal, assim como a XR 250 que a originou, a proposta da renascida Tornado XR 300L é ser uma moto off-road, mas que pode circular em vias públicas. Para isso, o modelo traz espelhos retrovisores, farol, lanterna e piscas, todos agora em LED, além da placa, é claro.
Para avaliar o modelo, a Honda escolheu um percurso adequado: 60% de asfalto e 40% de off-road, pelas estradas de terra pela região de Urubici (SC), na serra catarinense.
Ao montar na Tornado 300, nota-se que, em função das mudanças ciclísticas, o assento é mais alto: 890 mm contra 859 mm na Sahara. Mesmo com o banco mais fino e estreito é preciso certa habilidade para apoiar os pés no chão, principalmente para quem mede menos de 1,80 m.
O motor de um cilindro e 250cc é o conhecido de CB 300F Twister e Sahara 300. Contudo, devido à menor caixa de ar, o monocilíndrico produz menos potência: 24,3 cv na Tornado contra 24,8 cv na Sahara, ambos a 7.500 rpm. O torque permanece em 2,7 kgf.m a 5.750 giros. Ambos os valores com gasolina, lembrando que o motor é bicombustível.
Porém, na prática, mal se nota a potência menor. Com a mesma caixa de câmbio, de seis marchas com embreagem assistida e deslizante, as primeiras marchas são bem curtas, enquanto a partir da quarta é mais longa.
Rodamos alguns quilômetros nas rodovias sinuosas da serra, e o motor manteve o bom torque desde baixos giros e a velocidade final, declarada pela Honda, ficou em 124 km/h. Pouca coisa menor do que os 129 km/h da Sahara.
Mas o que muda mesmo é a posição de pilotagem e o conforto do condutor. Sem carenagens e com um guidão mais à frente, o motociclista assume uma posição de pilotagem agressiva, de “peito aberto” para o vento. Em velocidades mais altas, a turbulência incomoda.
Como o trajeto foi escolhido para destacar a vocação mais off-road da Tornado, o assento mais fino, não chegou a cansar. Afinal, logo entramos em uma estrada de terra. Entretanto, já foi o suficiente para perceber que em longas distâncias, o banco da Tornado será menos confortável do que o da Sahara.
Por outro lado, quando assumi uma posição de pé para pilotar no off-road, a nova XR 300L mostra suas qualidades. As pedaleiras sem borracha garantem mais firmeza às botas, a carenagem mais estreita do tanque permite segurar a moto entre as pernas e a ciclística mais agressiva ajuda a desviar dos buracos com agilidade.
Vale destacar ainda o bom acerto das suspensões. Embora tenhamos rodado 40 quilômetros com muita pedra, o garfo telescópico não chegou ao fim do curso. Também absorveu bem a buraqueira até o Morro do Campo dos Padres, um belo platô a mais de 1.800 m de altitude.
A “crítica” vai para os freios. Entre aspas mesmo, pois apesar de funcionar bem no asfalto e até na terra, o conjunto com disco nas duas rodas não permite desativar o sistema ABS de dois canais, nem na roda traseira. Além de ajudar em certas situações no fora-de-estrada, esperava-se que a Tornado devido a sua proposta off-road oferecesse essa opção.
Outro ponto negativo foi o painel. Apesar de completo e de fácil visualização em estradas de asfalto, juntou muita poeira e ficou ilegível na terra. Também senti falta de um protetor de mão, acessório quase obrigatório em motos de trilha.
Depois de 160 quilômetros de terra e asfalto ao guidão da nova Tornado 300, compreende-se a estratégia da Honda para o segmento trail. Além de carregar o nome da antiga Tornado, a nova XR 300L traz o mesmo DNA “trilheiro”.
Pode se tornar uma opção para os motociclistas que gostam de rodar na terra, mas não têm grana para investir em uma moto exclusivamente off-road. Quantos não iniciaram nas trilhas apenas tirando os retrovisores e trocando os pneus de suas Tornado?
O modelo também amplia as opções da Honda no segmento. Quem quiser uma moto trail mais “estradeira”, pode optar pela Sahara 300. Já os que curtem mais uma trail “raiz” têm a Tornado como única opção no mercado. Com a vantagem de ser mais leve e ir melhor na terra, porém com menos conforto e velocidade final menor. Qual você escolhe?
Com menos carenagens, além de mais leve Tornado vira uma moto de “trilha” mais facilmente
O assento fino e a ausência de carenagens prejudicam o conforto em longas distâncias
Motor um cilindro, 293,5 cm³
Câmbio seis marchas
Transmissão final por corrente
Potência 24,3 cv a 7.500 rpm (gasolina) / 24,8 cv a 7.500 rpm (etanol)
Torque 2,70 kgf.m a 5.750 rpm (gasolina) / 2,74 kgf.m a 5.750 rpm (etanol)
Peso seco 143 kg
Preço sugerido R$ 27.690
* O jornalista viajou a convite da Honda Motos