A rápida transformação social dos últimos anos – acelerada por necessidades que se intensificaram durante a pandemia do novo coronavírus – exige que pessoas e empresas revejam constantemente seus papéis e responsabilidades na construção do País e do mundo em que queremos viver.
Nesse sentido, em um contexto global, e especialmente no cenário brasileiro, em que dois terços das fundações filantrópicas estão ligados a corporações, é papel dessas organizações reavaliar os impactos, métodos e estratégias para o investimento social privado (ISP).
Um bom exemplo da capacidade de as empresas responderem rapidamente aos desafios do momento é a iniciativa Todos pela Saúde, lançada em abril com doação inicial de R$ 1 bilhão feita pelo Itaú Unibanco para ajudar a combater a covid-19 e seus efeitos sobre a sociedade brasileira.
Após quatro meses de existência, o movimento já direcionou mais de 80% dos seus recursos para ações que cobrem suas quatro frentes de atuação: informar, proteger, cuidar e retomar.
No que diz respeito à mobilidade urbana, as corporações têm experimentado modalidades e abordagens de ISP que buscam solucionar duas principais questões relativas ao tema. A primeira é a falta de capilaridade e alcance do investimento em regiões fora do eixo Rio–São Paulo, localidades em que os problemas são diversos e específicos.
A outra é a insuficiência de dados e de estudos nacionais aprofundados sobre a realidade brasileira que ajudem a direcionar o debate público e qualificar a discussão e os insumos utilizados pelo poder público para a tomada de decisões.
Nesse contexto, vale destacar duas iniciativas recentes e os seus primeiros resultados. Em 2019, o Edital Bikeducação atraiu inscrições vindas de todas as regiões brasileiras, apontando para uma demanda de investimentos na intersecção entre mobilidade e educação que abrange todo o território nacional.
Os mais variados tipos de projeto foram apresentados por organizações da sociedade civil (OSCs), coletivos informais e pessoas físicas, resultando em um processo de análise criterioso e que acabou por selecionar 16 iniciativas com potencial de alcance direto a cerca de 10 mil pessoas.
As propostas apresentadas passaram por uma série de adaptações por causa da pandemia, que exigiu flexibilização de cronogramas e formatos que privilegiem o distanciamento social.
Neste momento, os projetos apoiados estão iniciando suas atividades aos poucos, conforme a retomada evolui nas diferentes localidades.
Outro importante projeto caminha para a sua quarta edição: o Desafio Estudos de Mobilidade por Bicicleta, parceria do Itaú Unibanco com o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).
Desde 2017, já foram selecionados 15 projetos de pesquisa para incubação, resultando em três publicações e cinco artigos cada um que abordam, de diferentes pontos de vista, a mobilidade por bicicleta.
Com isso, os projetos contribuem não só para enriquecer a bibliografia sobre o tema mas também para que sejam consideradas outras dimensões, metodologias e vivências na discussão sobre mobilidade urbana.
Na próxima edição do desafio, que terá início em breve, a expectativa é de que tenhamos estudos que tratem da mobilidade por bicicleta em um cenário atípico, ampliando o olhar para as soluções que a bicicleta representa na “nova normalidade”.
Em setembro, será celebrado o Dia Mundial sem Carro, e teremos uma ótima oportunidade de avaliar os problemas que ainda estamos por solucionar e como direcionar recursos para o real aprimoramento da mobilidade urbana no Brasil.
Torna-se necessário que os investimentos sociais sejam feitos já levando em conta a nova realidade e as demandas da sociedade que a acompanharão.