CDC é a opção de crédito mais buscada para financiar caminhões
Autônomos, pequenos e até grandes frotistas preferem o CDC como linha de financiamento devido às taxas pré-fixadas e menos burocracias do que as exigidas pelo BNDES Finame
Financiar caminhões ainda é a melhor opção para quem compra caminhão no Brasil. Segundo dados mais recentes da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (ANEF), a modalidade à vista representa apenas 16% do montante. Os bancos comerciais e de montadoras oferecem diferentes linhas de financiamento com características distintas, mas o Crédito Direto ao Consumidor (CDC) tem sido o campeão de procura. Os motivos? Menos burocracia e taxas pré-fixadas. Além disso, desde abril deste ano essa modalidade está com isenção de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). E isso tem sido determinante para que as parcelas sejam ainda mais competitivas frente ao Finame, do BNDES.
De acordo com o último boletim divulgado pela ANEF, a representatividade do CDC nos bancos das montadoras está em 48%. A seguir, vem o Finame com 30%. E, por fim, 4% de consórcios. Presidente da ANEF, Paulo Noman diz que a postergação dessa isenção até dezembro fará com que o CDC continue como linha mais procurada nos próximos meses. “Isso facilita o planejamento financeiro do interessado em obter financiamento.”
Outra vantagem do CDC que vem se destacando nos últimos anos é que, por ser recurso próprio das instituições, existe liberdade para criar campanhas e ofertas atrativas. Na Volkswagen Financial Services, por exemplo, o recém-lançado pesado VWCO Meteor está com duas campanhas especiais. Na primeira, o cliente pode fechar contrato com entrada de 20%. E realizar o pagamento total do caminhão depois de um ano. “Essa é uma opção bastante interessante para o transportador porque ele pode se planejar nesse período de 12 meses e acumular o valor total do veículo”, explica Eduardo Portas, superintendente de Vendas da Volkswagen Financial Services Brasil. Na segunda campanha, o cliente escolhe um contrato de 48 meses com taxa de 0,89% ao mês. E não precisa dar entrada e começa a pagar a primeira parcela um ano depois.
“Podemos criar diversas iniciativas com condições especiais. Não tem limite para isso”, complementa o executivo. No banco da Volkswagen, o CDC já representa 97% de todas as operações. E o Finame aproximadamente 3%. “Esse salto da representatividade ocorreu nesse ano porque a taxa se igualou à do Finame”, comenta. Até 2019, essa modalidade de crédito representava até 80% das transações.
A PACCAR Financial também criou uma campanha especial para financiamento do novo caminhão DAF XF. Com o CDC, a instituição ofereceu aos clientes pagamento da primeira parcela em até seis meses, com taxas a partir de 0,49% ao mês em 24 meses. E até 60 meses para pagar. Por enquanto, a PACCAR Financial só trabalha com essa linha de financiamento. Mas deverá passar oferecer o Finame a partir do próximo ano.
De olho no crescimento da procura pelo CDC, o Banco Mercedes-Benz oferece o CDC tradicional e também o de parcela decrescente. “É um plano com parcelas que vão ficando menores a cada mês. E isso significa que o cliente pagará menos juros em comparação ao CDC tradicional”, explica Diego Marin, diretor comercial do Banco Mercedes-Benz. Trata-se do mesmo sistema de amortização constante do Finame com parcelas decrescentes ao longo do contrato. Marin conta que historicamente o Finame sempre foi o carro-chefe com representatividade de 80%. Contudo, o CDC vem ganhando um espaço muito importante nas operações atuais. “Tem taxas competitivas e mais flexibilidade fazem dessa opção a preferida dos nossos clientes”, diz.
CDC deixou o Finame para trás
O Finame já teve seus tempos áureos no Brasil. Suas taxas de juros muito baixas e prazos de pagamento a perder de vista fizeram dessa linha de crédito do BNDES a opção de crédito mais utilizada no Brasil. O recorde de procura ocorreu em 2013. Naquele ano, 77% dos veículos do tipo vendidos no País foram adquiridos por meio desse tipo de financiamento.
A procura pelo Finame começou a cair em 2015. Naquele ano, o BNDES aumentou a taxa de juros anual de 6% para 9,5% para operações feitas por grandes empresas. Para pequenas e médias, o salto de 2,5% (de 4,5% para 7%). Além disso, o valor liberado, que era de até 100% do valor do bem, foi reduzido pela metade. Um ano depois, os recursos do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) incorporados ao Finame foram extintos. O PSI havia sido criado em 2009 para ajudar a movimentar a economia. O programa chegou a oferecer 100% de subsídio em 2014, período no qual o Brasil enfrentou forte recessão econômica.
No atual cenário, existem opções distintas de Finame. Na CNH Industrial, para financiar um caminhão da marca Iveco, o cliente pode optar por três tipos de Finame. O único com taxa fixa é o TFB, mas ele usa taxa do BNDES que tem cotação diária e é fixada na data da contratação. O banco também oferece os de taxa variável, o TLP tem taxa de longo prazo que está atrelada ao IPCA, o Índice de Preço ao Consumidor. Já o Finame Selic, como o próprio nome já diz está atrelado às variações da taxa Selic.
Melhor opção para diferentes perfis
Gerente da CNH, Alexandre Garcia diz que mais de 95% dos clientes – autônomos, pequenos e grandes transportadoras – demonstra interesse por linhas de financiamento com taxas pré-fixadas, como ocorre com o CDC e o Finame TFB, mas o CDC é o campeão de procura com 60% de participação. “O Finame TFB com taxa fixa do BNDES é a segunda opção”, comenta.
Segundo o executivo, os produtos com taxas variáveis, como FINAME TLP e o FINAME Selic normalmente são cotados por empresas de grande porte e ainda representa um pequeno percentual. “A TLP (Taxa de Longo Prazo) é divulgada mensalmente pelo BNDES, tendo o IPCA como um de seus fatores. O Finame Selic tem variação a partir das taxas médias diárias da Selic e sobretaxa fixa”, diz
Incentivo ao crédito
Com o objetivo de facilitar o acesso ao crédito para autônomos e pequenas empresas, o governo criou em julho deste ano o Programa Emergencial de Acesso ao Crédito (PEAC). Quem opta por CDC, Finame TLP ou TFB tem a opção de acessar o Fundo Garantidor de Investimento, o FGI. Ao pedir crédito, empresas e empreendedores de menor porte frequentemente encontram dificuldades em atender as garantias exigidas pelas instituições financeiras.
Tais dificuldades muitas vezes inviabilizam a contratação do financiamento desejado, ou levam à aprovação de um financiamento em condições menos favoráveis do que as ideais, considerando variáveis como os prazos de carência e amortização, taxa de juros e valor de entrada.
Por isso, o BNDES oferece um complemento às garantias oferecidas para quem pede o financiamento. E isso aumenta a chance de conseguir o crédito e também as condições do financiamento. “Nós batemos na porta do BNDES e pedimos essa carta de fundo garantidor. O banco acaba flexibilizando o crédito e reduzindo um pouco a taxa. Então, hoje as opções com o FGI são as melhores em qualquer linha. Mais flexibilidade e menos risco, abre oportunidades para taxas menores”, explica Alexandre Garcia.
Mas, como se trata de uma medida emergencial criada durante a pandemia do novo coronavírus, tem prazo para terminar. “É importante destacar que a contratação deve ser efetivada até 31 de dezembro ou antes de uma eventual interrupção do programa”, analisa Garcia.
Consórcio é para quem planeja
O consórcio de veículos pesados, especialmente caminhões, é uma boa opção para quem quer planejar a compra. E atrai tanto transportadoras, que precisam ampliar ou renovar a frota, quanto caminhoneiros autônomos. Nesse caso, a vantagem é o pagamento do bem em número de parcelas maior que no Crédito Direto ao Consumidor (CDC), por exemplo.
As grandes transportadoras já têm a prática de adquirir cotas de consórcio como parte de seu planejamento financeiro de médio e longo prazos. Presidente da Associação Brasileira das Administradoras de Consórcios (ABAC), Paulo Rossi diz que percebe a adesão de (novas) empresas e autônomos que entenderam a importância de se planejar.
Transportadores que atuam nos setores de agronegócio, combustível e distribuição urbana são as maiores compradoras de cotas de consórcio, de acordo com o presidente da ABAC. Entre as principais vantagens está a ausência de cobrança de juros. Antes de receber o bem, o cliente paga apenas as taxas administrativas, que podem variar conforme o contrato.
Para ter ideia do valor dessas taxas, na simulação para um caminhão de R$ 350 mil e com um contrato para pagamento em 100 parcelas, a taxa mensal giraria em torno de 0,14%. Além disso, em geral só é exigida comprovação de renda do comprador após a cota ter sido contemplada.
Entre as desvantagens está o fato de que o bem só pode ser adquirido após a cota ser sorteada. Ou se o consorciado der o maior lance nas assembleias realizadas mensalmente. Caso contrário, terá de pagar as parcelas sem ter o caminhão até que grupo todo seja contemplado. Isso pode demorar até 110 meses.
O sistema de consórcio foi criado no Brasil em 1962. Mas foi apenas em 1980 que essa modalidade de crédito passou a ser oferecida como opção de compra de veículos pesados. Atualmente o setor é composto por administradoras de consórcio e bancos (incluindo os de montadoras), entre outras instituições financeiras.
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