Em janeiro de 2023, passa a vigorar, no Brasil, o Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proncove Fase 8). A legislação, proposta pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), tem o objetivo de reduzir os níveis de emissões de poluentes dos veículos leves ou pesados.
Assim, a partir do próximo ano, a lei passa a valer, também, para veículos comerciais. Ou seja, aqueles equipados com motores a diesel e com peso bruto total (PBT) a partir de 3,5 toneladas. Isso porque, desde janeiro deste ano, modelos a diesel com PBT inferior a 3,5 toneladas (como furgões e vans) já passaram a atender à legislação.
A edição deste ano da Fenatran, que acontecerá em novembro próximo, servirá de palco para as montadoras de caminhões e ônibus apresentarem suas apostas com relação à norma Euro 6 e apresentar quais tecnologias irão utilizar para garantir que os veículos emitam menos poluentes.
Gustavo Bonini, vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), diz que as principais alterações do Proconve P7 para o P8 são referentes aos níveis de emissão de gases. O P8 prevê a redução nos limites das emissões de gases saídos dos escapamentos, bem como novas rotinas de testes para o processo de homologação e aprimoramento da performance do sistema de autodiagnóstico do motor, chamado OBD (on-board diagnose).
As mudanças significativas nos motores e no sistema de pós-tratamento dos gases de escape contemplam novas tecnologias embarcadas para assegurar controles adicionais à qualidade do ar liberado ao meio ambiente.
A tecnologia de pós-tratamento, por exemplo, permite que apenas parte da fumaça preta liberada por ônibus e caminhões seja lançada no ar. E, a cada nova fase do programa, estipula-se o quanto esses gases devem ser reduzidos. Esse processo, aliado a um catalisador de oxidação de diesel e filtro para material particulado, permite ao veículo atingir os níveis de emissões de óxidos exigidos.
Com o Proconve P8, o Brasil se alinha ao programa de emissões europeu, denominado Euro 6. Portanto, os veículos que passam a ser vendidos, no País, a partir do próximo ano, também estarão de acordo com o que é ofertado na Europa, em termos de emissões e inovação.
É bom lembrar que, na Europa, apesar de o Euro 6 ter entrado em vigor em 2013, o programa evoluiu e se tornou mais rigoroso em relação à redução de emissões. Dessa forma, no Brasil, o programa também se mostra mais exigente que no início, na Europa, há nove anos.
Orlando Zibini, engenheiro de marketing do produto da Mercedes-Benz, lembra que, desde que o programa do Conama foi criado, em 1986, as emissões de poluentes foram reduzidas em 98%.
No atual P7 (equivalente ao Euro 5), a emissão média de monóxido de carbono de um veículo é de 0,02 g/kwh. Com o P8 (equivalente ao Euro 6), a média de emissão será de 0,01 g/kwh. Do mesmo modo, quando se trata de óxido de nitrogênio (NOx), um composto poluente, cai de 2 g/kwh para 0,4 g/kwh. Para efeito de comparação, no Euro 1, o nível de NOx era de 9 g/kwh.
De acordo com dados da SPTrans, um veículo urbano de transporte roda, em média, 250 quilômetros por dia na cidade de São Paulo. No mesmo período, consome em torno de 100 a 120 litros de diesel.
Segundo Zibini, isso significa que, no início do programa do Conama (o P1), um veículo que rodasse o equivalente a 250 quilômetros por dia emitiria, em média, 4,3 quilos de NOx. Com a chegada do Euro 6 no próximo ano, um veículo circulando nas mesmas condições irá emitir 78 gramas de NOx. No caso do material particulado, a emissão, no Euro 1, era equivalente a 387 gramas para cada 120 litros de diesel. Com a chegada do Euro 6, também em igual situação, o índice reduz para 0,8 grama.
“Ou seja, nos anos 1990, um veículo emitia, de Nox, o mesmo que 55 caminhões somados irão liberar, na atmosfera, a partir do próximo ano. E, no caso de material particulado, a proporção é de 1 para 140 veículos”, explica o engenheiro da Mercedes-Benz.
Em razão de todo esse desenvolvimento tecnológico, caminhões e ônibus ficarão mais caros e terão reajustes médios entre 20% e 25%. Por outro lado, Silvio Munhoz, diretor-geral de operações da Scania, lembra que os novos modelos apresentarão importante redução no consumo de combustível, impactando, de forma positiva, no custo do quilômetro rodado. Portanto, em curto prazo, o empresário terá retorno do investimento.
Munhoz lembra, ainda, que se deve colocar na conta a maior disponibilidade de caminhões e ônibus Euro 6, algo já percebido em testes para homologação.