Quando se pensa em transição energética, impossível não falar da contribuição da indústria aeronáutica, que vem abraçando a descarbonização e dando os primeiros passos para uma revolução na forma como voamos. O setor de energia se apresenta como parte fundamental desse processo, sobretudo para o desenvolvimento de novas soluções para voos de curtas distâncias por meio da eletrificação da fonte propulsora
. Enquanto a aviação de longa distância deverá passar pelo uso do hidrogênio, à medida que esta tecnologia ganhar maturidade.
A eletrificação da aviação não é um conceito novo. Antes mesmo de se realizar o primeiro voo, já havia protótipos elétricos sendo testados. Em 1883, o francês Gaston Tissandier (1843-1899) colocou no ar um dirigível movido a um motor elétrico. Entretanto, assim como aconteceu com os automóveis, o transporte aéreo acabou escolhendo outras fontes para se massificar.
A história não para e, atualmente, um estudo da Nexa Advisors e da Vertical Flight Society prevê que a mobilidade aérea urbana poderá receber até US$ 318 bilhões em investimentos nos próximos 20 anos
. A consultoria Roland Berger estima que cerca de 215 aeronaves com propulsão elétrica estão atualmente em desenvolvimento no mundo. Uma delas está no Brasil: o avião demonstrador de tecnologia de propulsão 100% elétrica que utiliza um EMB-203 Ipanema como plataforma de testes. Trata-se de uma iniciativa da Embraer, a quem a EDP se uniu num acordo de cooperação para avançar no conhecimento de tecnologias de armazenamento de energia e recarga de baterias para a aviação – um dos principais desafios desse tipo de projeto.
A parceria permitirá investigar a aplicabilidade de baterias de alta tensão para o sistema de um avião de pequeno porte, visando a uma possível futura aplicação comercial. Também serão avaliadas características de operação, como peso, eficiência e qualidade de energia, controle e gerenciamento térmico, ciclagem de carregamento, descarregamento e segurança de operação.
O desenvolvimento de tecnologias é o primeiro passo para a mudança. Baterias, sistemas eficientes e integração de equipamentos são essenciais para viabilizar o transporte aéreo elétrico. Com a evolução, será possível obter preços acessíveis e avançar para as etapas seguintes, que incluem novos mercados.
O transporte aéreo elétrico poderá possibilitar novas formas de mobilidade urbana. Poderemos ter, em breve, o transporte aéreo compartilhado. Em uma metrópole como São Paulo, que possui atualmente a segunda maior frota de helicópteros do mundo, este não parece um sonho distante.
Também haverá espaço para serviços como transporte para o aeroporto, táxis aéreos sob demanda, novos serviços para aviação executiva e voos charter de até 250 milhas, segundo projeções da Nexa Advisors e da Vertical Flight Society. Tudo isso demandará infraestrutura de carregamento, claro. Daí, surgirão novas soluções que atenderão esses nichos.
Já para grandes distâncias, o hidrogênio desponta como a fonte mais replicável. Em estudo preparado pela McKinsey & Company para o Clean Sky 2, a fonte apresenta como vantagem a possibilidade de ser produzido diretamente a partir de fonte renovável.
Obviamente, o surgimento de todos esses mercados está ligado à capacidade das fornecedoras de energia de avançar na oferta dessas novas fontes e dos governos em regular esses serviços. De toda forma, o transporte aéreo cumprirá a função de integrar de maneira mais efetiva os modais urbanos, mantendo sua essência: encurtar distâncias.