Futuro da aviação requer novas fontes de combustíveis
Estima-se que cerca de 215 aeronaves com propulsão elétrica estão atualmente em desenvolvimento no mundo. Uma delas no Brasil.

Quando se pensa em transição energética, impossível não falar da contribuição da indústria aeronáutica, que vem abraçando a descarbonização e dando os primeiros passos para uma revolução na forma como voamos. O setor de energia se apresenta como parte fundamental desse processo, sobretudo para o desenvolvimento de novas soluções para voos de curtas distâncias por meio da eletrificação da fonte propulsora
. Enquanto a aviação de longa distância deverá passar pelo uso do hidrogênio, à medida que esta tecnologia ganhar maturidade.
A eletrificação da aviação não é um conceito novo. Antes mesmo de se realizar o primeiro voo, já havia protótipos elétricos sendo testados. Em 1883, o francês Gaston Tissandier (1843-1899) colocou no ar um dirigível movido a um motor elétrico. Entretanto, assim como aconteceu com os automóveis, o transporte aéreo acabou escolhendo outras fontes para se massificar.
Avião brasileiro 100% elétrico
A história não para e, atualmente, um estudo da Nexa Advisors e da Vertical Flight Society prevê que a mobilidade aérea urbana poderá receber até US$ 318 bilhões em investimentos nos próximos 20 anos
. A consultoria Roland Berger estima que cerca de 215 aeronaves com propulsão elétrica estão atualmente em desenvolvimento no mundo. Uma delas está no Brasil: o avião demonstrador de tecnologia de propulsão 100% elétrica que utiliza um EMB-203 Ipanema como plataforma de testes. Trata-se de uma iniciativa da Embraer, a quem a EDP se uniu num acordo de cooperação para avançar no conhecimento de tecnologias de armazenamento de energia e recarga de baterias para a aviação – um dos principais desafios desse tipo de projeto.
Transporte aéreo compartilhado
A parceria permitirá investigar a aplicabilidade de baterias de alta tensão para o sistema de um avião de pequeno porte, visando a uma possível futura aplicação comercial. Também serão avaliadas características de operação, como peso, eficiência e qualidade de energia, controle e gerenciamento térmico, ciclagem de carregamento, descarregamento e segurança de operação.
O desenvolvimento de tecnologias é o primeiro passo para a mudança. Baterias, sistemas eficientes e integração de equipamentos são essenciais para viabilizar o transporte aéreo elétrico. Com a evolução, será possível obter preços acessíveis e avançar para as etapas seguintes, que incluem novos mercados.
O transporte aéreo elétrico poderá possibilitar novas formas de mobilidade urbana. Poderemos ter, em breve, o transporte aéreo compartilhado. Em uma metrópole como São Paulo, que possui atualmente a segunda maior frota de helicópteros do mundo, este não parece um sonho distante.
Também haverá espaço para serviços como transporte para o aeroporto, táxis aéreos sob demanda, novos serviços para aviação executiva e voos charter de até 250 milhas, segundo projeções da Nexa Advisors e da Vertical Flight Society. Tudo isso demandará infraestrutura de carregamento, claro. Daí, surgirão novas soluções que atenderão esses nichos.
Já para grandes distâncias, o hidrogênio desponta como a fonte mais replicável. Em estudo preparado pela McKinsey & Company para o Clean Sky 2, a fonte apresenta como vantagem a possibilidade de ser produzido diretamente a partir de fonte renovável.
Obviamente, o surgimento de todos esses mercados está ligado à capacidade das fornecedoras de energia de avançar na oferta dessas novas fontes e dos governos em regular esses serviços. De toda forma, o transporte aéreo cumprirá a função de integrar de maneira mais efetiva os modais urbanos, mantendo sua essência: encurtar distâncias.
Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão
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