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Limitação da malha cicloviária desestimula uso de bicicleta no País

Por: Hairton Ponciano Voz . 17/05/2023

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Meios de Transporte

Limitação da malha cicloviária desestimula uso de bicicleta no País

Cidades investem pouco em ampliação de ciclovias e ciclofaixas, e faltam vagas em bicicletários para atender à demanda

4 minutos, 48 segundos de leitura

17/05/2023

Por: Hairton Ponciano Voz

A jornalista Adriana Marmo, que abandonou o carro há oito anos e nem renovou a habilitação: "A bicicleta me ligou à cidade. Acho São Paulo mais bonita hoje". Foto: Álbum Pessoal

O investimento em ampliação da malha cicloviária tem sido muito baixo nas 26 capitais estaduais e no Distrito Federal. De acordo com o diretor-executivo da Aliança Bike – associação que reúne empresas do setor de duas rodas -, Daniel Guth, a maior parte das capitais não teve nenhum aumento de infraestrutura cicloviária de 2022 para 2023. “As exceções foram São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, que tiveram algum crescimento, embora tímido. São Paulo cresceu quatro km em 2022”, afirma.

A Aliança Bike monitora o crescimento da rede cicloviária do País há dois anos. De acordo com dados do mais recente levantamento, divulgado em junho de 2022, todas as capitais têm juntas 4.198 km de ciclovias e ciclofaixas, número que está muito aquém das necessidades, avalia Guth.

Leia mais: Confira o canal Maio Amarelo sobre segurança viária

“Não há uma única capital que não esteja atrasada.” Sem rotas seguras para os ciclistas, que são o segundo grupo mais frágil no trânsito (depois dos pedestres), aumentam os acidentes. “São Paulo deveria chegar a 2024 com 1.500 km, mas não está nem na metade disso”, alerta Guth, que informa que a capital paulista conta atualmente com 704 km de ciclovias e ciclorrotas.

De acordo com a associação, depois de São Paulo, que detém a maior malha do Brasil, vêm Brasília (527 km), Rio de Janeiro (450 km) e Fortaleza (411 km). (Veja a lista das dez capitais com as maiores ciclovias.)

Além da extensão, considerada abaixo do ideal pela associação, o diretor da Aliança Bike alerta para o fato de que em muitos casos o projeto cicloviário é deficiente e tem problema de implantação. “Muitas vezes a segregação (separação entre carros e bicicletas) é baixa em uma via arterial com alto fluxo de veículos, quando o indicado seria uma segregação física com blocos ou jardins.”

Guth também alerta para a falta de manutenção. “(O poder público) Ao não dar o cuidado necessário, acaba perdendo o usuário”, diz. Além de falta de manutenção como recapeamento e sinalização, que muitas vezes não é reposta, o diretor da associação informa que falta até mesmo limpeza. “Normalmente, as ciclovias ficam coladas às sarjetas e aos meios-fios, o que significa que todo rejeito se acumula nesse local”, diz. “A sarjeta não deveria ser considerada parte útil do projeto, mas acaba sendo”, garante.

Por falta de vagas no bicicletário da estação Jardim Helena da CPTM, na zona leste de São Paulo, usuários prendem bicicletas em postes e até em cima das árvores. Foto: Flavio Soares/Ciclocidade

Bicicletas nas árvores

Apesar das críticas, Guth garante que se sente mais seguro em pedalar em São Paulo do que em outras capitais do País. Ele aponta avanços como a possibilidade de entrar com a bicicleta nos trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e do metrô entre as 10h e as 16h nos dias de semana, o que antes não era permitido. Mas acredita que o aspecto mais relevante na questão da intermodalidade (uso combinado de bicicleta e transporte público) é utilizar a bicicleta “na primeira ou última perna” da viagem. Porém, para que isso seja possível, diz, faltam bicicletários nas estações. “A oferta de vagas nas estações é risível”, critica. “A demanda é muito maior do que a oferta, e muitas estações não têm bicicletário.”

De acordo com ele, às 6h da manhã já não há vagas no bicicletário da estação Jardim Helena, da CPTM, na zona leste de São Paulo. “As pessoas amarram bicicletas em postes e até em cima das árvores”, diz, situação que aumenta o risco de furto e vandalismo. “Se não há conforto e segurança para a pessoa estacionar a bicicleta na origem ou no destino, ela não vai usar a bicicleta. Não adianta ampliar a malha de ciclovias se a oferta de bicicletários não acompanhar.”

Mudança de vida

Há oito anos, a jornalista Adriana Marmo decidiu trocar o carro pela bicicleta, e garante que não se arrepende. “Eu achava impossível viver sem carro, era viciada”, diz. Mas resolveu fazer um “teste”, deixando o carro parado. “No oitavo mês, decidi que o ‘desmame’ estava pronto.” Sua CNH está vencida e ela não pretende renová-la.

“A minha vida mudou completamente, para melhor”, garante. “A bicicleta me ligou à cidade. Acho São Paulo mais bonita hoje. Andar de bicicleta mostra o que a gente não vê no cotidiano. Hoje, para mim, o caminho é mais importante que o destino”, destaca Adriana, que ressalta também a melhora na saúde. “Pode pôr aí que tenho 57 anos.”

Apesar de criticar a segurança, ela ressalta que São Paulo “melhorou muito”. “Eu ando a cidade inteira, não existe obstáculo que me impeça de ir de bicicleta”, garante. Ela diz que já foi do bairro de Perdizes, na zona oeste, onde mora, até o distrito de Marsilac, no extremo sul da cidade.

“Isso dá uma dimensão de o que é a cidade, e uma dimensão do quanto o não investimento na mobilidade gera desigualdade. O cara que sai de Parelheiros (também no extremo sul da capital) para trabalhar no centro não vai fazer mais nada na vida que não seja sair de casa para o trabalho e do trabalho para casa”, diz, para concluir: “Em São Paulo, falta vontade”.

As 10 capitais brasileiras com as maiores malhas cicloviárias*

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