Tecnologia a serviço da segurança em duas rodas

Ducati lançou a nova Multistrada V4, com radares e controle adaptativo de velocidade (ACC). Foto: Divulgação

27/11/2020 - Tempo de leitura: 6 minutos, 5 segundos

Como os automóveis, as motos atuais também têm tecnologia e sistemas eletrônicos que ajudam a prevenir acidentes

Muito se fala em como a tecnologia pode ajudar a evitar acidentes de trânsito, no futuro. Mas não podemos esquecer que as motos atuais, e os veículos automotivos como um todo, já são bem mais seguros que em décadas passadas. Desde o chassi, passando pelos freios com sistema ABS, até os radares recém-lançados, a evolução tecnológica tem ajudado motociclistas a pilotar com mais segurança.

“O chassi de uma motocicleta, hoje em dia, é bem mais estável que na minha primeira moto, por exemplo. O processo de fabricação atual garante mais estabilidade em frenagens, acelerações e curvas”, afirma Alfredo Guedes, supervisor de relações públicas da Honda. 

O engenheiro de formação, e também motociclista, 52 anos, afirma que as motos evoluíram muito. “Atualmente, é bem mais seguro pilotar uma moto”, diz Guedes. Ele também destaca melhorias como adoção de freios a disco e faróis de LED.

Já os sistemas de segurança eletrônicos estrearam em motos há apenas 25 anos. A BMW K 100 foi a primeira moto com ABS nos freios, em 1988. O sistema evita o travamento das rodas em uma frenagem de emergência e pode ser a diferença entre um susto e uma queda em dia de chuva. 

 Atualmente, cerca de 20% das motos vendidas no Brasil saem de fábrica com ABS. Por lei, o sistema é obrigatório nos modelos acima de 300 cc, mas já está disponível também em motos menores, com 150 cc. 

Evolução da eletrônica

“As motocicletas seguem os passos da indústria de quatro rodas e também têm evoluído bastante nas últimas décadas”, afirma Michel Braghetto, gerente de marketing da divisão chassis system control da Bosch, uma das maiores fornecedoras das fabricantes de veículos. 

Há alguns anos, a empresa desenvolveu o sistema de controle de estabilidade para motocicletas, conhecido pela sigla MSC (do inglês Motorcycle Stability Control), da Bosch, equivalente ao Programa Eletrônico de Estabilidade (ou Eletronic Stability Program), o ESP dos carros, explica Braghetto. 

Em resumo, o objetivo de ambos os sistemas é manter o veículo em sua trajetória original. Por meio de sensores nas rodas, no câmbio e em outras partes da moto, o MSC monitora parâmetros como o ângulo de inclinação, a rotação do motor, e é capaz de fazer ajustes instantâneos. Aliviando a pressão de frenagem ou reduzindo a aceleração de forma a evitar uma derrapagem indesejada, mesmo em curvas com inclinação acentuada.

Antes restrito a motos de maior cilindrada, o controle de tração está presente em modelos médios, como a nova Honda CB 650R, lançada neste ano no Brasil. Mas já equipa até scooters na Europa. 

“A evolução da eletrônica com processadores mais rápidos permitiu que os sistemas ficassem cada vez mais seguros”, destaca Alfredo Guedes, da Honda. Um exemplo é o sistema ESS (Emergency Stop Signal), que passa a equipar os modelos Honda acima de 500 cc. 

O dispositivo, chamado de Alerta de Frenagem de Emergência, em tradução do inglês, avisa o veículo que vem atrás quando o motociclista faz uma frenagem brusca. Um sensor detecta uma desaceleração de, no mínimo, 2,5 m/s² e faz as setas traseiras piscarem, avisando outros usuários da estrada que a moto está em processo de parada. O objetivo é prevenir colisões traseiras que, infelizmente, são comuns com motos, usando a tecnologia.

A Honda também comercializa a única moto com air bag do mundo. A enorme Gold Wing de Tour 1.800 cc conta com o sistema desde 2006. Mas tem propósito diferente dos carros: como não há cinto de segurança, o air bag infla para cima, a fim de evitar que condutor e passageiro sejam arremessados da moto, explica Guedes.

Ver e sentir

O próximo passo nas motos é passar da segurança passiva, como ABS, controle de tração e air bag, para sistemas ativos. Recentemente, a Ducati e a BMW, em parceria com a Bosch, desenvolveram motos com radares, que chegam ao mercado europeu no ano que vem e devem vir ao Brasil. Os radares permitem a adoção de tecnologias que estão bem próximas da condução autônoma. 

A nova Ducati Multistrada V4 e a BMW R 1250 RT terão tecnologias antes presentes apenas em automóveis, como controle adaptativo de velocidade, alerta de colisão frontal e até detecção do ponto cego. Para a Bosch, esse é mais um passo em direção à pilotagem livre de acidentes. 

Os radares são capazes de fornecer informações sobre o ambiente circundante – evitando, assim, colisões com obstáculos ou outros veículos por meio de alertas aos pilotos, além de controles eletrônicos avançados. 

As motos são equipadas com radares na frente e atrás. O radar dianteiro controla o funcionamento do ACC (Adaptive Cruise Control, ou Controle Adaptativo de Velocidade), que, por meio de frenagem e aceleração controladas eletronicamente, ajusta, de forma automática, a distância, previamente selecionada pelo piloto, de outros veículos.

O sistema derivado dos automóveis foi aprimorado e desenvolvido de acordo com a dinâmica de uma moto. Uma diferença está na limitação para acelerar e frear a fim de garantir que o motociclista possa manter o controle da moto.

O radar traseiro, por outro lado, é capaz de detectar e reportar veículos posicionados no chamado ponto cego, ou seja, a área não visível diretamente pelo piloto ou através do espelho retrovisor. Batizado de BSD (Blind Spot Detection), o sistema também sinaliza a aproximação de veículos em alta velocidade por trás. “Segundo estudos, nove entre dez acidentes são causados por falha humana”, afirma o executivo da Bosch. “Esses novos sistemas visam alertar o motociclista para ele redobrar a atenção na pilotagem”, diz ele.

Comunicação entre veículos é o futuro

A acelerada digitalização e conectividade deverão mudar o futuro das motos. Tanto a BMW como a Ducati, em parceria com a Audi, já demonstraram sistema de comunicação entre veículos e também com o ambiente.

Um dos benefícios dessa futura tecnologia está o aviso de colisão em um cruzamento, por exemplo. Por meio de alertas luminosos e sonoros, o sistema seria capaz de alertar o motorista de um carro, que sai de uma estrada adjacente, de que vem um motociclista, que tem a preferência.

Nos carros, esse tipo de tecnologia atua de forma mais ativa, como é o caso da frenagem autônoma, que freia o veículo até parar quando há um pedestre atravessando a rua. No caso das motos, o alerta seria apenas visual, pois uma parada inesperada poderia causar outro acidente, porém, dessa vez, com o motociclista.

Afinal, por mais evoluída que a tecnologia possa ser, ainda não é capaz de desafiar as leis da física. Nem as boas práticas de condução com segurança e atenção.