As motos do futuro não serão apenas elétricas. Veículos de duas rodas também devem ser conectados e “inteligentes”. É o que mostram os conceitos e tecnologias pesquisados pelos maiores fabricantes de motos do planeta nos últimos anos. Afinal, motos movidas a eletricidade já são realidade para marcas como BMW, Harley-Davidson, Honda, entre outras. O próximo objetivo será aproveitar a acelerada digitalização do planeta e da mobilidade urbana.
Mas, quando se fala em condução autônoma, muitos torcem o nariz para o que, segundo os motociclistas de hoje, “tiraria a graça de pilotar uma moto”. Mas não é esse exatamente o objetivo das novas tecnologias das motos do futuro. Pelo contrário.
Há dois anos, a BMW apresentou a primeira moto totalmente autônoma, que acelera, faz curvas e até freia sozinha. Mas a fábrica logo afirmou que o projeto não pretende, de forma alguma, dar origem a uma motocicleta completamente independente. O objetivo é reunir conhecimento sobre o comportamento dinâmico de uma moto para detectar situações perigosas e, assim, apoiar o motociclista com sistemas de segurança apropriados.
Difícil prever como serão as motos do futuro, mas, certamente, serão mais que elétricas. Além da conectividade, sensores antiqueda, radares, tecnologias robóticas e até mesmo inteligência artificial estão entre as apostas dos maiores fabricantes de motocicleta ao projetarem as motos do futuro. Conheça alguns exemplos que dão pistas de como os motociclistas irão se locomover nas próximas décadas – ou mesmo antes disso.
As quatro grandes fabricantes japonesas – Honda, Kawasaki, Suzuki e Yamaha – anunciaram a formação de um consórcio para desenvolver baterias intercambiáveis e compartilhadas para motocicletas elétricas no ano passado. Os testes com usuários reais começam agora, em setembro, no Japão.
Alunos e funcionários da Universidade de Osaka receberão motocicletas elétricas para usar durante um ano. Haverá estações de troca de bateria instaladas no campus, bem como em lojas de conveniência na região. O objetivo, segundo Noriaki Abe, diretor executivo da Honda, é verificar as especificações comuns de baterias intercambiáveis. “Estamos cientes de que ainda há questões a serem resolvidas na disseminação das motocicletas elétricas e continuaremos trabalhando na melhoria do ambiente de utilização em que cada empresa pode cooperar”, explicou Abe.
A Honda formou uma joint venture com a Panasonic para testar o uso compartilhado de baterias elétricas na Indonésia. A marca, aliás, já comercializa uma versão híbrida e outra totalmente elétrica da scooter PCX em alguns países asiáticos. A novidade da PCX Electric é que a bateria é removível e compatível com outras scooters movidas a eletricidade da marca japonesa. Essa compatibilidade pode baratear os custos do item mais caro em uma moto elétrica – a bateria – e acelerar a popularização desse tipo de veículo.
Desde 2017, a Honda trabalha no desenvolvimento do sistema Moto Riding Assist (assistência de pilotagem de moto), que pode ser resumido como uma moto que não cai. De acordo com a marca, a tecnologia cria uma motocicleta com autobalanceamento, ou seja, que se equilibra sozinha e reduz a possibilidade de queda enquanto está parada. Em vez de giroscópios, que aumentam o peso e podem prejudicar a pilotagem, a nova moto-conceito incorpora a tecnologia robótica, originalmente desenvolvida para o Asimo, o famoso robô humanoide da Honda.
A nova tecnologia foi criada para facilitar o equilíbrio da moto em baixas velocidades. Com ela parada ou em baixa velocidade, sensores mexem o guidão de um lado para outro para equilibrar a moto. Mas também a coluna de direção e o garfo dianteiro se movimentam para frente e para trás, alterando o centro de gravidade da moto, ao mudar a inclinação do garfo (trail). O objetivo do sistema da Honda é fazer com que a moto tenha um trail “variável” e se equilibre em qualquer velocidade.
Já a Ducati, em conjunto com a Audi, tem trabalhado em um sistema de comunicação sem fio entre carros, motocicletas, pedestres, bicicletas e a infraestrutura, chamada de C-V2X, que pode ajudar a evitar acidentes entre motos e carros.
Entre os benefícios está o aviso de colisão de intersecção (cruzamento), em que um veículo equipado com a tecnologia C-V2X sai de uma junção com uma estrada adjacente e evita atingir um motociclista, que tem a preferência. Há também um aviso de frenagem repentina do veículo de duas rodas no painel do automóvel.
Essa tecnologia ainda pode estar longe – afinal, depende que a infraestrutura viária esteja toda conectada. Mas os radares nas motos Ducati devem chegar em breve para funcionar em sistemas como o controle adaptativo de velocidade (da sigla ACC, adaptive cruise control), que acelera ou freia a moto de acordo com a posição dos outros veículos na via.
Comum em carros de luxo, o controle adaptativo de velocidade chega às motos em breve. O sistema, conhecido como ACC, controla eletronicamente a velocidade e a distância do veículo que vai na frente para evitar colisões traseiras.
Embora a austríaca KTM e a italiana Ducati já tenham divulgado planos de adotar a tecnologia em seus modelos, a BMW mostrou recentemente como funciona o sistema de assistência ao piloto, que estará disponível em alguns modelos da marca a partir de 2021.
O ACC regula automaticamente a velocidade e a distância do veículo que está na frente, de acordo com parâmetros predefinidos pelo piloto. O sistema diminui a velocidade da moto quando a distância do veículo na frente é reduzida e mantém a distância, definida previamente.
Ao fazer curvas, a velocidade é automaticamente reduzida pelo ACC, se necessário, e um ângulo de inclinação confortável é definido pela central eletrônica. Com uma inclinação maior, no entanto, a dinâmica de frenagem e aceleração é controlada eletronicamente, a fim de manter uma capacidade de rodagem estável e não desestabilizar a moto. Ou seja, quase autônoma.
Há cerca de dois anos, a Kawasaki anunciou o desenvolvimento de uma motocicleta que irá utilizar internet das coisas e também inteligência artificial (AI, do inglês artificial intelligence). A plataforma permite a comunicação entre homem e máquina, por meio de um sistema de diálogo e linguagem no qual a máquina é imbuída de “sentimentos” e uma tecnologia capaz de reconhecer a emoção por meio da entonação da voz do condutor.
O acesso à internet e a comunicação com o piloto abrirão inúmeras possibilidades. Uma delas seria a capacidade da moto de acessar um banco de dados com informações sobre o chassi e motor ou ainda procurar referências na internet e oferecer dicas para que o piloto aproveite mais a pilotagem naquele modelo.
Também é possível que a plataforma reduza a potência do motor antes de uma curva em que haja vazamento de óleo ou algum trecho da estrada interrompido por obras, por exemplo.
Com essa interação constante, a motocicleta será capaz de desenvolver personalidade própria e estabelecer uma relação de confiança, na qual tanto o piloto quanto a máquina poderão evoluir, juntos, e oferecer muito mais diversão em uma volta de moto no final de semana.
A tal moto com personalidade ainda está distante, mas, a partir de 2021, algumas motos Kawasaki sairão de fábrica equipadas com tecnologias de assistência ao motociclista da Bosch. Incluindo controle de cruzeiro adaptativo (ACC), aviso de colisão frontal e detecção de ponto cego. A tecnologia que sustenta esses sistemas é uma combinação do sensor de radar da Bosch, sistema de freio, gerenciamento do motor e HMI (interface homem-máquina).
Esses assistentes eletrônicos estão sempre vigilantes e, em caso de emergência, respondem mais rapidamente do que os seres humanos são capazes. “Os sistemas avançados de assistência ao motociclista da Bosch oferecem maior segurança ao piloto. Com o apoio desses sistemas, estamos confiantes de que nossas motos podem oferecer ‘diversão e prazer’ para ainda mais motociclistas”, afirmou Yuji Horiuchi, presidente de motocicleta e motores da Kawasaki Heavy Industries, no Salão de Motos de Milão, em novembro do ano passado.