“O mês de setembro é quando refletimos um pouco mais sobre a mobilidade das pessoas e das mercadorias e como ela pode ser mais inclusiva e ecorresponsável. É aí que entra a cadeia de valor ou, como gosto de chamar, seu ‘ecossistema’ de parcerias. Em um ecossistema natural, um indivíduo interage com outro e se relaciona como forma de sobrevivência.
Atuando no setor automotivo por mais de 20 anos, vivenciei as realidades específicas da força dessa indústria, que é vetor de transformação social e de progresso das pessoas e da sociedade. No entanto, essa mesma indústria está diante de uma revolução do seu negócio: o carro se transforma em serviço.
Podemos dizer que a indústria automotiva é um grande ecossistema, verticalizada, conhecedora do seu cliente – porém, com pouca adaptação do seu produto aos diferentes mercados.
Temos nossa própria rede de fornecedores, concessionários, linha de montagem e, muitas vezes, nosso próprio banco e, em termos de relação com o governo, ela é majoritariamente federal.
Já a ‘indústria’ da mobilidade é completamente local e segmentada. Não existe uma única solução de mobilidade padronizada que possa atender às necessidades de todas as cidades e comunidades.
A customização é uma palavra-chave quando se fala em mobilidade como serviço. A visão é muito mais horizontal e com mais atores, como empresas, governos, reguladores e apoiadores, que tornam o negócio completo, adaptado e viável para atender às demandas do cliente de cada região, cidade ou até mesmo comunidade.
Como exemplo da amplitude desse movimento, a Renault, líder mundial de carsharing 100% elétrico, foi parceira, em 2020, de dois projetos emblemáticos: um deles aqui, no Brasil, com as instituições públicas ABDI, PTI e o governo do Paraná fornecendo 10 Renaults Zoe e outro, lançado na grande Paris, com 500 Renaults Zoe 100% elétricos compartilhados.
A imagem acima ajuda a mostrar a diferença dos ‘ecossistemas’ nos dois mercados. Percebemos que, no mercado da mobilidade, os círculos são maiores, pois temos mais ‘jogadores’, e a área de interseção entre eles mostra o nível de interação entre esses jogadores e, consequentemente, a importância do ‘ecossistema de parcerias’. Ou seja, a relação necessária entre as instituições públicas e privadas a fim de oferecer uma melhor solução ao consumidor.
Se fosse destacar os principais atores que vão impulsionar a nova mobilidade, eu diria que, primeiramente, são as cidades, porque elas possuem desafios imediatos, como reduzir congestionamentos, poluição e vagas de estacionamentos. E, além disso, elas detêm a informação urbana e o poder para decisões locais. Em seguida, creio que as empresas também impulsionarão esse novo mercado com soluções de mobilidade para seus funcionários ou para fazer entregas das mercadorias na ‘última milha’ (last mile), já que os centros urbanos estão cada vez mais restritos à circulação de grandes veículos.
Em síntese, nesse ecossistema, as relações serão ganha-ganha, a jornada do cliente será o ativo mais importante e a necessidade de pensar global e agir local será imperativa para a mobilidade sustentável se tornar cada vez mais real. Como a Renault, que possui o ativo e a tecnologia fundamental para a mobilidade compartilhada e está presente nas cidades, portanto, conhecendo suas necessidades, fica o dilema: permanecer como fornecedor dos veículos ou liderar esse ecossistema?
Então, lembro de uma das minhas frases favoritas de Jim Collins: ‘Abaixo a tirania do OU. Viva a genialidade do E’.
Por que ter de escolher entre um e outro se podemos ser os dois?”