Seja em São Paulo ou em conhecidas cidades europeias, como Barcelona, o comportamento do pedestre vai ter características semelhantes. Uma delas é andar mais por onde a cidade for mais acessível, com farmácias, padarias ou mercados por perto.
É como se o direito a uma cidade amigável convidasse a população para sair andando – atitude saudável não apenas em termos individuais como também no aspecto coletivo. O abandono do carro para viagens principalmente curtas terá um impacto na redução da poluição do ar, como o isolamento social durante a pandemia mostrou.
Dados europeus do ano passado, apresentados pelo Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), ilustram bem o que faz as pessoas saírem de casa e se deslocarem a pé.
De acordo com a pesquisa realizada com 7.875 pessoas de várias cidades, viver em um ambiente urbano com uma boa rede de transporte público e com uma alta densidade de serviços aumenta em 12% a quantidade de minutos usados para deslocamentos a pé durante uma semana. O mesmo vale para as pessoas que moram perto do trabalho ou do local de estudo.
Os participantes da pesquisa europeia que mais andam a pé todas as semanas afirmaram que adotam essa conduta porque privilegiam a segurança, a privacidade e menos índices de poluição atmosférica.
O grupo com alto nível educacional e que tem acesso ao carro é o que menos costuma andar, segundo o estudo que analisou dados, além de Barcelona, das cidades de Londres (Reino Unido), Örebro (Suécia), Roma (Itália), Viena (Áustria) e Zurique (Suíça), além da Antuérpia (Bélgica).
Na média, enquanto em Barcelona se anda 259 minutos por semana – a cidade catalã foi a primeira do ranking –, na Antuérpia é onde se andou menos: 50 minutos em média por semana. Porém, a cidade belga é conhecida por ter uma grande infraestrutura para as bicicletas.
“Apesar de andar ser fácil e saudável, o crescimento do uso de veículos motorizados nas cidades vem contribuindo para a queda da atividade física das pessoas e gerando problemas adicionais, como a poluição do ar”, afirma Mireia Gascon, uma das líderes do estudo.
Uma pesquisa também apresentada no ano passado pela Rede Nossa São Paulo evidencia que, no caso paulistano, o problema para quem se desloca a pé é, principalmente, a qualidade das calçadas. Fora essa questão mais brasileira do que europeia, os dados também mostram que em regiões da cidade onde o espaço público é convidativo, repleto de serviços, as pessoas também andam mais.
O centro da cidade, onde é possível chegar à padaria, à farmácia ou ao mercado em menos de 15 minutos, é a região da cidade em que as pessoas mais optam pelo deslocamento a pé – ao contrário do que ocorre em outras regiões mais periféricas da capital paulista.
Do total de 800 pessoas da amostra, 68% reclamaram das condições da qualidade das calçadas da cidade, item que mais desagrada quem vive na capital paulista. Muitos dos deslocamentos na cidade também são feitos a partir do transporte público ou para se chegar aos pontos de ônibus e estações de trem ou metrô, segundo o levantamento.