“Queremos seguro para todos que têm bicicleta”

Cyro Gazola: "Todo processo é feito pelos lojistas". Fotos: Divulgação Caloi

17/11/2021 - Tempo de leitura: 5 minutos, 55 segundos

Presente no Brasil há 123 anos, a marca Caloi se transformou, ao longo de sua trajetória, em sinônimo de bicicleta. A empresa, que eternizou, na década de 1980, a frase ‘Não se esqueça da minha Caloi’, usada em uma campanha publicitária, começou sua história em 1898, mas sua primeira unidade fabril foi aberta em 1945, no bairro paulistano do Brooklin. Em 1975, a Caloi chegou à Zona Franca de Manaus (AM), local em que está, até hoje, com sua única fábrica e onde está localizado um dos seus dois Centros de Distribuição (o outro fica em Cariacica, no Espírito Santo). Na história da empresa, o ano de 2013 é importante, pois representou o início de um processo de fusão após a Caloi ser comprada pelo grupo canadense Dorel Sports, o que permitiu a comercialização, no Brasil, também, das marcas globais Cannondale e Fabric.

Agora, em 2021, a Caloi acrescenta mais um marco à sua jornada ao entrar no mercado de seguro para bicicletas. Para a empreitada, buscou parceiros como a Assurant, líder global de produtos e serviços de proteção, e a Santuu, especializada em serviços para ciclistas e em soluções financeiras para bicicletas, responsável pela construção do produto. “A adesão será toda feita pela plataforma do Clube Santuu, na loja, com a ajuda do vendedor, para garantir a proteção da bike no momento da compra”, explica Cyro Gazola, presidente da Caloi – o executivo também é vice-presidente do segmento de bicicletas da Abraciclo, associação que reúne fabricantes de veículos de duas rodas, como motos, bikes, ciclomotores e motonetas, entre outros. De acordo com a Assurant, o seguro irá custar a partir de 6% do valor do produto, dependendo da faixa de preço e do modelo da bicicleta.

Líder em produção de bicicletas no Brasil, com 800 mil produtos fabricados por ano, a Caloi tem em torno de 20% de participação de mercado (excluindo o segmento infantil). Para entender o que motivou a entrada da Caloi nesse novo segmento, conversamos com Gazola, que também compartilhou sua visão sobre o futuro da micromobilidade e tendências para 2022.

Por que a Caloi decidiu entrar no negócios de seguro de bikes?

Cyro Gazola: Temos acompanhado, nos últimos anos, duas grandes oportunidades para que o Brasil continue se consolidando na expansão da bicicleta: promover melhorias em infraestrutura cicloviária e a segunda diz respeito à segurança. Este último ponto sabemos que é mais complexo, mas ele passa pela questão do seguro.

O brasileiro, em sua maioria, costuma fazer seguro do carro, e já vemos as pessoas se convencendo da necessidade do seguro de celulares. Mas essa proteção para as bicicletas ainda é pouco conhecida. Uma das grandes dificuldades que tivemos foi encontrar parceiros capazes de dar conta da escala de uma empresa como a Caloi, a maior em produção de bikes do Brasil. E encontramos a Santuu, que já possuía expertise e uma plataforma criada, e que trabalhou com a Assurant, multinacional americana que assumiu esse desafio.

Esse mercado representa uma oportunidade enorme: temos uma frota total estimada em 70 milhões de bicicletas no País, com apenas 3% de penetração de vendas de seguros para equipamentos novos. Isso quer dizer que, de cada 100 bikes, apenas 3 são seguradas. Meu sonho é que, nos próximos três anos, a gente consiga elevar essa penetração para 10%.

E quando o seguro começa a ser vendido?

Gazola: O lançamento está acontecendo justamente hoje, quarta-feira (17/11). Logo depois do anúncio, entre o final de novembro e início de dezembro, os lojistas que farão a venda do seguro já terão o sistema funcionando e estarão treinados para oferecê-lo aos clientes que comprarem nossas bicicletas das marcas Caloi e Cannondale neste primeiro momento.

Como é a contratação do seguro e que cobertura ele oferece?

Gazola: Todo o processo é feito pelos lojistas, pelo sistema, e farão a solicitação do produto à Assurant. E, como o consumidor estará comprando em uma loja credenciada Caloi, quando ele contrata o seguro, terá, também, nossa garantia, assim como nosso pós-venda. O seguro cobre roubo ou furto qualificado mediante arrombamento da bicicleta ou quebra acidental.

Que público a parceria pretende atingir?

Gazola: Todos eles. Queremos mostrar que essa é uma oportunidade para quem tem uma bicicleta, não importa se custa R$ 1 mil, R$ 5 mil ou R$ 10 mil. Infelizmente, os roubos de bicicleta têm acontecido, atualmente, na Europa, nos Estados Unidos, no mundo todo, e por aqui não é diferente. Os seguros estão chegando a todos os segmentos e precisamos abraçar essa oportunidade, e nossa ideia é massificar esse produto. Queremos que todos os brasileiros que têm bicicleta possam ter seguro.

Em relação à venda de bicicletas, como está sendo 2021 para a Caloi?

Gazola: Nós estamos nesse momento saindo do segundo ano em que sentimos os efeitos da pandemia, e aqui falo, também, como representante dessa indústria. Hoje, vemos que houve progresso, com crescimento da produção e das vendas – o setor deve fechar, até dezembro, com elevação de, pelo menos, 20% nas vendas, na comparação com 2020, o que traduz que iniciamos uma aceleração no ano passado, no segundo semestre, quando todo mundo saiu correndo atrás de bicicletas. E esse efeito continuou neste ano, mas foi se normalizando, e ainda crescemos de forma sustentável.

O maior vilão continua sendo a cadeia de suprimentos e peças manufaturadas, pois em torno de 60% ou mais do que precisamos para montar uma bicicleta vem de fora, da Ásia, principalmente para sistemas como transmissão, freio, suspensão e componentes menores. Temos um atraso de fornecimento de seis a oito meses e acredito que isso só será resolvido no segundo semestre de 2022, quando essa situação irá começar a se normalizar.

Mas devemos celebrar que, nesse período, elevamos a base de bicicletas no Brasil, nos expandimos estruturalmente. E observamos que uma grande parcela da população adotou a bike como parte da sua vida. E foram todos os que tiveram aumento de vendas: montain bikes, urbanas, lazer, speed e as elétricas, um segmento que tem apenas 2% do mercado, mas que é uma aposta pelo grande potencial. A Caloi tem seis modelos atualmente e estamos investindo pesado, pois acredito que o Brasil tem condições de triplicar suas vendas de e-bikes entre três e cinco anos.

Fábrica da Caloi na Zona Franca de Manaus. Foto: Divulgação Caloi

Alguma aposta para 2022?

Gazola: Algumas tendências que vão se fortalecer no próximo ano já começaram. Nosso interesse para 2021 é entender o quanto o consumidor continuará interessado nas bicicletas. Nosso papel na indústria é seguir com o foco em inovação, oferecendo alternativas de produtos que tragam uma boa relação entre custo e benefício ao consumidor, tanto nos produtos em aço como em carbono. A exigência dos clientes aumenta a cada ano e nosso compromisso é garantir que existam equipamentos competitivos no Brasil.