O morador da capital paulista e da região metropolitana de São Paulo que circula de carro perdeu, em média, 23,4 minutos por dia útil em função dos congestionamentos entre 2016 e 2018. Nesse período, quem utilizou o carro para se locomover demorou em média quase 35% a mais do que o esperado caso fossem feitas em fluxo livre – ou seja, sem outros veículos na via e sem fatores que geram lentidão no trânsito, mas respeitando semáforos e limites de velocidade máxima.
O índice de congestionamento médio foi calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de São Paulo (USP), por encomenda da Uber, empresa americana de transporte por aplicativo. O dado foi calculado na comparação entre o tempo gasto por viagens realizadas pela Uber e o tempo que levaria no trajeto com fluxo completamente livre de outros veículos e de fatores que geram lentidão.
Segundo Eduardo Haddad, coordenador do estudo e professor titular do Departamento de Economia da FEA/USP, a pesquisa se baseou em viagens realizadas pelo serviço, mas o tempo de viagem é representativo de todos os deslocamentos de carro na capital e na Grande São Paulo não somente da empresa, mas do condutor de modo geral, considerando que o viário utilizado por motoristas da Uber e de veículos particulares é o mesmo.
A divulgação do levantamento ocorreu na manhã desta quarta-feira, 24, durante evento de lançamento da Uber Movement, plataforma de compartilhamento de dados sobre congestionamento. Pressionada a abrir os dados e se inserir no debate sobre mobilidad urbana, a Uber criou a plataforma em outros países há um ano.
A partir desta quarta, a ferramenta permite a análise do comportamento das viagens realizadas em São Paulo e na região metropolitana por hora, dia e área da cidade. A atualização dos dados pela Uber deve ocorrer de três em três meses.
Somando todas as pessoas que transitam de carro na região metropolitana, nos últimos três anos foram desperdiçadas por dia 1,4 milhões de horas por quem utiliza carro na capital e na Grande São Paulo. Os números não consideram deslocamentos por outros meios de transporte como ônibus e motos, somente automóveis.
Se analisados separadamente os últimos três anos, porém, o levantamento conclui que o tempo excessivo médio gasto no trânsito pelos moradores da região metropolitana caiu ao longo do período. Em 2016, a média era de 25,7 minutos, tendo caído para 22,8 minutos em 2017. No ano passado, reduziu para 21,7 minutos.
Segundo o índice apresentado na pesquisa, entre 2016 e 2018, as viagens de automóvel na região metropolitana de São Paulo demoraram em média quase 35% a mais do que o esperado caso fossem feitas sempre em fluxo livre.
O estudo apresentou uma nova ferramenta para a avaliação e o monitoramento do trânsito em São Paulo. O levantamento utiliza o tempo das viagens disponibilizados na Uber Movement.
A medida apresentada na pesquisa da Fipe se diferencia dos parâmetros tradicionais por se basear diretamente em viagens efetivamente realizadas – e não em métricas relacionadas ao fluxo de veículos em determinadas vias -, o que permite calcular o tempo excessivo despendido em deslocamentos urbanos pelas pessoas.
O índice de congestionamento considera o tempo de viagens realizadas por veículos em serviço pela Uber e é representativo para um dia útil típico. Os dados têm dimensão metropolitana, e não apenas municipal.
De acordo com o levantamento, a zona sul é a região mais congestionada da cidade de São Paulo, apresentando um índice médio de 45,5% no período analisado. Depois da zona sul, as regiões oeste e centro da cidade apresentam as maiores médias de lentidão de São Paulo.
As sextas-feiras são os dias mais congestionados tanto na capital quanto na região metropolitana – com um índice médio de 46,2%. O pico da tarde, definido como período entre 16h e 18h, possui o maior índice de lentidão (55,4%).
Para agregar o índice para toda a região metropolitana, seguindo a metodologia estatística, foram incluídos no cálculo dados da Pesquisa Origem e Destino, realizada a cada dez anos pela Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô). O levantamento comparou ainda com dados oficiais de lentidão da Companhia de Engenharia do Tráfego (CET) e mostrou que os dois, tanto CET quanto pesquisa da Fipe, apontam as mesmas tendências.
“Mesmo nos dias sem nenhum quilo^metro de lentida~o na CET, o índice de congestionamento é de aproximadamente 17,5%. Uma possi´vel explicac¸a~o para isso e´ que o indicador oficial considera apenas as vias principais da cidade, ja´ o i´ndice o Uber Movement abrange implicitamente todas as vias da cidade”, diz Haddad.
Em relação a 2018, foram identificados cinco eventos atípicos que poderiam potencialmente afetar o trânsito na região metropolitana de São Paulo: chuvas, greve nacional de caminhoneiros (entre os dias 21 e 31 de maio), Copa do Mundo de 2018 (especialmente em dias de jogos do Brasil); colapso do viaduto na Marginal do Pinheiros; e férias escolares.
Durante o bloqueio parcial da Marginal do Pinheiros, as viagens do bairro dos Jardins, na zona central de São Paulo, para Alphaville, na região metropolitana, ficaram 87% mais demoradas considerando o pico da tarde, nos dias úteis, em dezembro na relação com outubro.
Na primeira sexta-feira da greve dos caminhoneiros, os percursos de Pinheiros a Tamboré, ambos na zona oeste, ficaram em média 26% mais rápidos em relação à semana anterior.
Na zona oeste, quem foi de carro de Pinheiros para a Lapa levou 97% mais tempo na tarde de 20 de março de 2018, quando caiu uma tempestade na capital, na comparação com a semana anterior.
A pesquisa conclui que, assim como ocorre em diversas grandes metrópoles do mundo, o congestionamento do trânsito é um dos maiores problemas enfrentados pelos moradores da capital paulista e da região metropolitana de São Paulo, “gerando perdas econômicas e de bem-estar para os moradores e visitantes das cidades da região”.
Os impactos econômicos do trânsito, analisa o estudo, “não se restringem aos atrasos e ao desperdício de combustível, mas estão principalmente associados ao tempo perdido pelas pessoas e que poderia ser utilizado para atividades produtivas ou de lazer.”
A plataforma está aberta para que qualquer um possa realizar consultas e visualizar os dados, podendo utilizar filtros que permitem comparar períodos do dia, dia da semana ou datas específicas. De acordo com a Uber, a plataforma permite mais de 267 mil combinações possíveis de viagens entre 517 áreas nos 39 municípios da região metropolitana.
O Movement permite ainda comparar o trânsito das mais de 20 cidades que fazem parte da ferramenta, como Nova York (Estados Unidos) Sydney (Austrália), Londres (Inglaterra) e Joanesburgo (África do Sul).
De acordo com os dados das viagens realizadas, apresentados pela Uber Movimento, em março de 2018 uma viagem de carro, no pico da manhã, do aeroporto internacional da cidade ao centro financeiro do município levou, em média, 1h17min em Londres, 1h11min em São Paulo e 33 minutos em Nova Délhi.