A gerente financeira Fernanda Cardoso Fernandes, 38 anos, conduz motos há uma década. Fã das duas rodas, tem dois modelos na garagem: uma Yamaha MT-07, para passear nos momentos de lazer, e uma scooter NMax 160 ABS, que usa no dia a dia.
Em janeiro deste ano, assim como milhões de moradores da capital paulista, seguia sua rotina de ir de casa, na Vila Penteado, zona norte de São Paulo, ao trabalho, na região da Avenida Paulista, com sua scooter. “Não havia muito trânsito, ainda era período de férias, e eu seguia pela faixa da esquerda, quando, de repente, um carro entrou à esquerda, sem nenhum aviso, e me acertou em cheio. Nem deu tempo de frear. Nunca imaginei que ele entraria naquela rua”, lembra Fernanda.
Os resultados do acidente foram cortes nas mãos, causados pelo vidro do carro, um inchaço no joelho e o rompimento do ligamento do punho, além de um prejuízo de mais de R$ 3 mil na sua NMax 160. “Sorte que eu estava de scooter, porque o escudo frontal protegeu minha perna. Se fosse com a moto, poderia ser muito pior”, relembra a gerente financeira.
“Ele alegou que não havia me visto”, diz ela. O condutor que a atingiu era um motorista de aplicativo que se distraiu, enquanto olhava o GPS no celular, e fez uma conversão à esquerda, sem prestar atenção se vinha outro veículo. Fernanda foi mais uma vítima de um problema que tem causado diversos acidentes de trânsito: o perigoso uso do celular ao volante.
Segundo balanço da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), em todo o País, cerca de 250 mil condutores foram flagrados utilizando o smartphone no trânsito, em 2021, colocando sua vida e a dos outros em risco. O volume representa 28 infrações por uso do aparelho ao volante, registradas, por hora, no Brasil.
“Esses números refletem apenas parte do problema. Possivelmente, a quantidade de pessoas que utiliza celular na direção é bem maior, o que nos leva a reforçar a necessidade de maior conscientização e engajamento da sociedade para que possamos reduzir os sinistros e preservar vidas no trânsito”, afirma Antonio Meira Júnior, presidente da Abramet.
Além de colocar em risco a própria vida e a de outros, esse péssimo hábito é infração gravíssima. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), quem for flagrado segurando ou manuseando o celular enquanto dirige pagará multa de R$ 243,47, além de somar 7 pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
O aumento no número de infrações e os diversos estudos em todo o mundo sobre os riscos da combinação “celular e direção” motivaram a Abramet a criar uma campanha de conscientização. Chamada de “Toque pela Vida”, terá duração de um ano, destacando os fatores que influenciam na segurança dos condutores. Além da utilização do celular, ela vai alertar para o consumo de álcool e drogas, excesso de velocidade, uso do cinto de segurança, “cadeirinha”, capacete, sono, saúde do condutor e condições do veículo.
Pesquisa realizada pelo Instituo Sondea, sob encomenda das Indústrias Gonvarri, que produzem componentes de metal para o mercado automotivo, entrevistou mais de mil motoristas no País. O estudo descobriu que 77,88% deles afirmam que se distraem ao dirigir. Dentre estes, 94% reconhecem que o uso indevido do celular é a principal causa de distração.
Fato que a motociclista, Eliana Malizia, 43 anos, percebe no seu dia a dia. “Ando de moto diariamente, é meu meio de locomoção”, diz ela, que também é influenciadora digital e criou o movimento “Aceleradas”, que incentiva mulheres a pilotarem motos.
“Tem aumentado bastante o número de pessoas distraídas ao volante. Pedestres e motoristas de carros são os mais vistos usando o aparelho. Quando piloto minha moto em corredores entre carros, chego a flagrar quatro de cada dez motoristas usando o celular”, afirma.
Cansada de ser “fechada” no trânsito, ela criou, em 2019, a campanha #tiraoolhodocelular. Com a distribuição de adesivos com esse slogan, Eliana quer conscientizar sobre os perigos dessa prática e também envergonhar os infratores. “A ideia de colar o adesivo é para que a pessoa que está ao celular se sinta constrangida em cometer essa infração de trânsito”, diz ela. Desde o início da campanha, já foram distribuídos mais de 5 mil adesivos e chaveiros com o slogan.
“É importante ressaltar, também, que não são apenas os motoristas ao celular que representam perigo. Tenho visto pedestres que atravessam a rua distraidamente e até mesmo motociclistas”, conclui Eliana.