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Cicloentregadores de São Paulo enfrentam insegurança e cansaço

Por: Daniela Saragiotto . 15/09/2022

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Cicloentregadores de São Paulo enfrentam insegurança e cansaço

Estudo aponta queixas e desafios dos profissionais que trabalham com bicicleta elétrica

3 minutos, 55 segundos de leitura

15/09/2022

Por: Daniela Saragiotto

Brasil teve aumento de 94% na atividade ciclologística na pandemia. Foto: Getty Images

Fundamentais para a sociedade durante a pandemia e representantes de uma tendência global de mobilidade sustentável, os cicloentregadores ainda são marginalizados e sofrem diariamente com a falta de segurança na prática de sua atividade. Para entender as condições de trabalho desses profissionais, a Fundación Mapfre e o Laboratório de Mobilidade Sustentável (Labmob) elaboraram o relatório técnico Segurança Viária e Ciclologística — Desafios e Oportunidades no Brasil divulgado em junho. A pesquisa foi feita com 336 profissionais que usam as bicicletas elétricas compartilhadas do programa iFood Pedal e que residem na capital paulistana.

A rotina desses ciclistas é cansativa: eles fazem, em média, 18 entregas por dia e trabalham em torno de 7 horas, excluindo o tempo de deslocamento de suas residências até os pontos de retirada das bikes (distância média de 19,6 km). A maioria (80%) declara ter medo de se acidentar no trabalho e 34% confessam se sentir vulneráveis quando se aproximam de veículos motorizados.

Acidentes

O medo de acidentes e a inadequação das ruas às necessidades de deslocamento estão no topo da lista das questões apontadas pelos profissionais: 35% deles afirmam que já se envolveram em quedas ou sinistros. Desse total, 63% saíram da ocorrência levemente feridos e mais de um terço (36%) presenciou um acidente envolvendo carro. Ainda, 63% do total de pessoas escutadas pelo estudo estava fora das ciclovias — compartilhando as vias com outros veículos — e quase metade (45%) trabalhava no turno da noite durante a ocorrência.

De acordo com Victor Andrade, coordenador do Labmob e que também atuou na organização do estudo, houve aumento de 94% na atividade de ciclologística no Brasil durante a pandemia. “E essa elevação veio antes de uma preparação da infraestrutura urbana, de treinamento e capacitação dos profissionais e de campanhas para convivência segura entre todos os agentes do trânsito”, afirma.

Desafios

A falta de segurança viária ainda é o principal desafio da ciclomobilidade, segundo Murilo Casagrande, diretor de Desenvolvimento Institucional do Aromeiazero, ONG fundada em 2011 com o objetivo de reduzir desigualdades sociais por meio da bicicleta. “Depois de ganhar dinheiro para sobreviver, que é o fator que motiva a busca pelo trabalho, os cicloentregadores necessitam de políticas de apoio e de segurança. Isso pode ser feito com capacitações para que aprendam como se deslocar da maneira mais segura possível no trânsito e usando equipamentos de proteção”, afirma.

A ONG oferece diversos cursos e os módulos de segurança estão presentes em todos eles. No Viver de Bike, principal capacitação da Aromeiazero, durante 30 horas os participantes têm contato com aulas de mecânica, aprendem como gerar renda com a bicicleta, como pedalar com segurança, além de discutir o acesso às cidades. Há também o Pedal Responsa, que atende todos os participantes do projeto e que é resultado da parceria entre o iFood e a Tembici.

Além desses, a Aromeiazero conta com o Delivery Justo, projeto-piloto feito com a Fundação Tide Setúbal, que busca patrocínio de empresas para ganhar escala. “Nosso objetivo é que o treinamento dos cicloentregadores seja uma política pública, oferecida por exemplo nos Centros de Apoio ao Trabalhador (CAT)”, diz Casagrande.

Uma novidade nesse sentido foi a criação, no início de setembro, do Ciclologleste, coletivo de entregas em São Miguel Paulista, extremo leste da capital. “Ele é uma continuidade do projeto Delivery Justo, que atua de forma autônoma por meio de entregadores, com apoio do Galpão ZL e da Fundação Tide Setúbal”, comemora Casagrande.

Mudança cultural

Além da expansão das capacitações, outro desafio da atividade é a conscientização da sociedade sobre a necessidade de as bicicletas serem entendidas como parte do sistema de trânsito, incentivando a convivência harmoniosa. “Existe uma ideia preconcebida de que os cicloentregadores precisam ser educados. De fato, as capacitações são muito importantes e contribuem para a segurança viária, mas a boa convivência no trânsito envolve uma mudança cultural de todos os diferentes grupos que dele fazem parte”, finaliza. 

RAIO X DE QUEM TRABALHA COM BIKE ELÉTRICA

MÉDIA DIÁRIA

7h de jornada
18 entregas

DESTAQUES DA PESQUISA

– Todos os entrevistados já se envolveram em sinistros de trânsito ou presenciaram algum acontecimento do tipo;
– 80% declaram ter medo de se acidentar no trabalho;
– 34% desses profissionais se sentem vulneráveis quando se aproximam de veículos motorizados.

Fonte: Relatório técnico Segurança Viária e Ciclologística – Desafios e Oportunidades no Brasil – @ Fundación MAPFRE, 2021

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