Recentemente, a prefeitura de São Paulo anunciou o plano de criar faixas exclusivas para motos nas marginais dos rios Tietê e Pinheiros. O objetivo é reduzir o número de acidentes e mortes de motociclistas nas duas importantes vias expressas da capital paulista.
A inspiração para as faixas exclusivas veio após uma viagem de uma comitiva da Secretaria Municipal de Trânsito (SMT) de São Paulo à Malásia. Um dos pioneiros na adoção de políticas públicas para implantação de motofaixas, o país do sudeste asiático tem 47% da frota composta por motos e scooters.
“A Malásia tem motofaixa desde 1970”, conta Sérgio de Oliveira, gerente de Relações Institucionais da Abraciclo, associação dos fabricantes de motos e bicicletas, que integrou a comitiva da SMT ao país asiático. Atualmente, a Malásia tem mais de 460 quilômetros de vias para veículos de duas rodas.
Cerca de 260 quilômetros são de faixas exclusivas, como a que a prefeitura quer implantar nas marginais. Os outros 200 quilômetros compreendem pistas não exclusivas para motocicletas, mas onde os veículos de duas rodas têm preferência.
Entretanto, existem diferenças entre as faixas não exclusivas da Malásia e a Faixa Azul, que a prefeitura de SP implantou na Av. 23 de maio há pouco mais de um ano. “Elas ficam à esquerda da via, mas não existe separação física para as outras faixas”, explica Oliveira da Abraciclo.
As faixas exclusivas da Malásia e as que a prefeitura quer implantar em São Paulo também diferem da Faixa Azul. Primeiramente, porque são segregadas e, como o nome diz, exclusiva para motos. Além disso, exigem investimento em infraestrutura para construir os acessos e as sinalizações.
“Na Malásia, existem pontes, viadutos e até túneis para as motos. Requer investimento alto em infraestrutura”, alerta o gerente de RI da Abraciclo. As vias têm limite de velocidade baixo e algumas contam com mais de uma pista para permitir ultrapassagens entre as motos, completa Oliveira.
Segundo a Prefeitura da capital paulista, a ideia é construir uma faixa exclusiva para as motos às margens dos rios. No projeto para as marginais, ainda em fase de estudo de viaibidade, as faixas teriam acesso feito exclusivamente por pontes que seriam construídas para esse fim, como mostra a maquete abaixo.
Na Malásia, segundo Sergio Oliveira, cerca de 90% dos motociclistas circulam pelas faixas exclusivas. “Trata-se de um espaço mais seguro para quem anda de moto”, avalia o especialista.
Nas marginais, as faixas também não devem ser obrigatórias. A circulação de motos continuará permitida nas faixas locais. A proibição para motos transitarem na via expressa das duas marginais e na faixa central da Tietê, em determinados horários, contudo, deve continuar.
Enquanto a promessa de faixas exclusivas para as motos não sai do papel, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), prometeu expandir a Faixa Azul para outras vias da capital. Afinal, o projeto completou um ano sem mortes de motociclistas na Avenida 23 de Maio.
A principal vantagem da Faixa Azul é o menor investimento menor em infraestrutura, pois utiliza apenas sinalização horizontal e vertical. Na prática, a Faixa Azul ocupa o espaço entre os carros nas faixas de rolamento 1 e 2.
“A Faixa Azul não inventou nada, apenas organizou o espaço normalmente já utilizado pelos motociclistas”, analisa Sergio Oliveira. Com a criação da faixa, as motos transitam com mais disciplina, sem alterar a dinâmica da via.
O modelo, entretanto, é inédito no Brasil e no mundo. O plano da prefeitura de SP é chegar a 220 quilômetros de Faixa Azul nos próximos anos. Porém, antes de ser implantado, o projeto precisa ser analisado e aprovado pela Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran).
Para o representante das fabricantes de motocicletas, a administração da capital paulista tem o mérito de buscar soluções para aumentar a segurança dos motociclistas. “A Faixa Azul deve mesmo chegar as outras vias, pois se mostrou muito eficiente”, concluiu Oliveira.