Medo faz parte da rotina feminina nas cidades

Questão de gênero: Transporte para elas é mais perigoso. Foto: Werther Santana/Estadão

07/06/2019 - Tempo de leitura: 1 minuto, 54 segundos

A sensação de insegurança no ato de ir e vir faz com que as mulheres pensem não apenas no tipo de transporte que vão usar. Pode parecer estranho a quem não vive esta realidade, mas a escolha da roupa, da maquiagem, do corte de cabelo e até mesmo da escolha do curso que irão prestar no vestibular muitas vezes são influenciadas pela rotina dos transportes que elas vão usar.

“São decisões tomadas para criar uma sensação de segurança”, explica Juliana de Faria, diretora executiva da ONG Think Olga, que participou do painel “Por elas e para elas” do Summit Mobilidade Urbana.

Maioria. Idealizadora da tecnologia batizada de Nina Mobile e que serve para que mulheres denunciem assédio e outras ameaças, Simony César, que também participou do painel, informou que as mulheres são protagonistas na utilização dos transportes públicos. Segundo ela, em Recife, 65% das mulheres utilizam caminhada e transporte público como meios de locomoção. Dado corroborado por uma pesquisa da ONG Think Olga, segundo a qual, em famílias com salários de até R$ 1,3 mil, 50% dos caminhos que as mulheres precisam fazer são a pé e 28% são de ônibus.

Apesar de serem maioria no uso do transporte público, as políticas de proteção ainda são insuficientes para garantir a segurança do público feminino, mais vulnerável a casos de assédio e agressões. Simony explica que a vulnerabilidade é maior entre as mulheres que moram na periferia e que são justamente elas os “sensores” para se ter cidades mais acessíveis para todo mundo. “Se eu conseguir identificar os pontos críticos da mobilidade dessa mulher, eu consigo fazer ações que acabam reverberando para o todo da pirâmide social”, explica Simony.

Planejamento. Para Stella Hiroki, doutorada em cidades inteligentes, é necessária a existência de mulheres em posições de tomada de decisões tanto no poder público quanto na esfera privada para melhorar as políticas de mobilidade e o planejamento de ações futuras. “A mulher tem realmente essa perspectiva do acolhimento e de pensar em diversas áreas trabalhando juntas”, argumenta a especialista.