A questão da mobilidade é inerente aos seres humanos e é ela que faz a vida acontecer: ora atuamos como pedestres e passageiros, ora como condutores, ciclistas ou motociclistas. E essa relação tão complexa se reflete na qualidade do trânsito. “Se compreendermos os papéis de cada um, em diferentes momentos, priorizando a segurança, salvaremos vidas”, observa Talita Minervino Zorzan, diretora da unidade do Serviço Social do Transporte/Serviço Nacional de Aprendizagem no Transporte (Sest/Senat) de Santo André (SP). “Mas é fundamental portar esse conhecimento para que tenhamos uma mobilidade pacífica, cooperativa e segura. Somente um forte trabalho de conscientização por meio da educação no trânsito poderá preservar vidas.”
De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2019 foram 31.945 vidas perdidas, uma queda de cerca de 2% em relação a 2018. Apesar de assustador, esse número é o mais baixo desde 2001. “Podemos dizer que essa evolução acontece à medida que surgem as necessidades sociais”, completa Rosangela Cutolo Almeida, técnica de formação profissional. Ao levar em consideração o crescimento da população e o número de veículos, o saldo tem sido positivo. “Por isso, o movimento Maio Amarelo é mais uma forma de conscientização direta da população em geral, já que a vida humana é a verdadeira razão de todos esses esforços.”
A principal missão do Sest/Senat é atuar diretamente com o público jovem e adulto, profissional do transporte ou aquele que deseja atuar no transporte, e os resultados têm se mostrado de grande eficácia. “Não só em relação aos números mas em conscientização e comportamentos seguros”, acrescenta. Porém, todos os modais necessitam de alguém para utilizá-los. “Ser motorista ou motociclista não depende somente de um curso, de um exame e de uma carteira habilitação”, completa Roseli Pereira, coordenadora de promoção social. “Os comportamentos se refletem diante de qualquer situação, inclusive nas formas de mobilidade.”
Não é acidente
Dos sinistros de trânsito, 95% têm como principal causa o ser humano. “São questões relacionadas às falhas de atenção do condutor (FAC), seja pelo uso do celular, seja pelo álcool e outras drogas”, explica José Montal, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). “No caso do álcool, depois da primeira dose, o nível de atenção cai pela metade. Portanto, não existe dose segura – em 35% a 50% dos acidentes ocorridos no mundo há a presença de álcool.” Para combater causas relacionadas à saúde dos condutores, confira as outras orientações do especialista:
• Planeje o deslocamento da viagem, incluindo paradas para descanso e alongamentos (evitar trombose), principalmente os profissionais com longas jornadas em estradas;
• Durma pelo menos oito horas. Noites maldormidas, sono e fadiga dobram as chances de sinistro e representam 20% das causas de acidente (nas cidades, a maioria deles acontece pela manhã);
• Faça exames periódicos ou frequentes. Doenças orgânicas são responsáveis por cerca de 13% do total de acidentes de trânsito fatais. A pressão arterial controlada, por exemplo, evita várias comorbidades (infarto, AVC, insuficiência renal);
• Cuide da visão: 95% das informações processadas pelo cérebro ao dirigir provêm desse sentido para a adoção de comportamento seguro e a tomada de atitudes adequadas.
Investir na formação
Como principal apoiador do movimento, junto com a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), o Sest/Senat fornece, em suas 157 unidades presentes em todos os Estados, ações relacionadas ao Maio Amarelo. Ao longo do ano, disponibiliza cursos especializados, presenciais e a distância para a formação de profissionais em diversas áreas, desde atividades operacionais de transporte e logística até gestão dos negócios: somente em 2020, foram atendidos mais de 8 milhões de trabalhadores em transportes. Só na Unidade Santo André, na primeira semana do mês, houve cerca de 200 atendimentos, em parceria com a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU/SP).