Cerca de 283.500 acidentes de trânsito registrados em rodovias brasileiras nos últimos seis anos tiveram como causa principal ou secundária questões relacionadas à condição de saúde dos motoristas no momento da ocorrência. A conclusão é da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), que estudou os dados de acidentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) entre janeiro de 2014 e julho de 2020, e os agrupou em grandes categorias. Dessa forma, as causas mais frequentes identificadas foram falta de atenção ao conduzir, ingestão de álcool, sonolência do condutor, mal súbito, restrição de visibilidade e ingestão de substâncias psicoativas.
Divulgado por ocasião da Semana Nacional do Trânsito, no final de setembro, o estudo revela que, no período, foram 247.475 feridos e 14.551 mortos. Além disso, demonstra a importância de ações preventivas com foco na saúde do motorista para a redução dos acidentes nas vias e rodovias brasileiras. “Essas situações denotam quadros direta ou indiretamente associados à condição de saúde dos condutores, como déficit de atenção permanente ou circunstancial, deficiências visuais, distúrbios de sono e comprometimento motor ou de raciocínio”, pontua Antonio Meira Júnior, presidente da Abramet.
De acordo com José Montal, diretor da Abramet, por problemas de saúde entende-se desde condições preexistentes, caso de pessoas que sofrem de alguma enfermidade e que podem ser acentuadas pelo ato de dirigir – como diabetes, pressão alta – como de situações momentâneas – por exemplo, as que ocorrem como consequência da ingestão de álcool ou mal súbito. “É importante lembrar que a direção pode gerar uma tensão até mesmo nos que estão acostumados a essa prática. E isso pode ser desencadeado pela condução das vias, pouca visibilidade em estradas ou outros fatores”, explica Montal.
Para prevenir essas situações, os exames médicos nos motoristas, com a periodicidade com que são feitos hoje, são insuficientes. Para o presidente da Abramet, a saúde do condutor é um aspecto que deve ser considerado no âmbito de ações e políticas públicas. “Como a realização mais frequente do exame de aptidão física e mental pelo motorista, mecanismo considerado decisivo para a redução da mortalidade no trânsito. Também necessitamos de campanhas permanentes de conscientização e de fiscalização”, diz Meira Júnior.
No estudo feito pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) com base em dados de acidentes da Polícia Rodoviária Federal coletados nos últimos seis anos, a falta de atenção ao volante figura na primeira posição, respondendo por 215.401 dos acidentes catalogados, ou 76% do total registrado no período. Apenas esse fator responde por 182.288 feridos e 9.047 mortes. Na avaliação da Abramet, falta de atenção pode ser consequência de situações clínicas importantes, como fadiga, stress, cansaço, déficit de atenção ou comprometimento do raciocínio.
Na sequência, como segunda maior responsável pelos acidentes, vem a ingestão de bebida alcoólica. “Sabe-se que o álcool compromete o reflexo dos motoristas. Se fosse apenas isso já não seria pouco, mas também reduz a percepção da velocidade e dos obstáculos, a habilidade de controlar o veículo, diminui a visão periférica, prejudica a capacidade de dividir a atenção e aumenta o tempo de reação”, destaca Flavio Adura, diretor científico da Abramet.
Ele explica ainda que a relação entre consumo de álcool e sobrevivência em acidentes é direta. “Significa dizer que, quanto mais a pessoa tiver bebido, maior sua chance de morrer”, completa Adura. Entre 2014 e julho de 2020, foram registrados pela PRF um total de 40.268 acidentes nas rodovias em que a ingestão de álcool foi considerada uma das causas. Desse total, 36.999 vítimas foram encaminhadas com ferimentos leves ou graves e houve 2.679 óbitos.
A sonolência é a terceira condição que mais aparece no estudo, causando 2.092 mortes e deixando 22.645 feridos no período analisado. “Observar bons hábitos de sono, tratando possíveis doenças e descansando o suficiente antes de qualquer viagem, previne acidentes”, lembra o diretor científico da Abramet. A sonolência excessiva, segundo ele, tem consequências como redução do tempo de reação, julgamento, visão e dificuldades no processo da informação e memória de curto prazo.
O chamado mal súbito ou perda de consciência normalmente por causa de doenças cardiológicas como infarto ou arritmias ou neurológicas (como acidente vascular cerebral ou convulsões) totalizou 2.702 acidentes e aparece na quarta posição. A visão reduzida foi responsável por 2.205 ocorrências e o efeito de entorpecentes sobre o condutor acumularam 292 casos. Juntos, eles respondem por 773 mortes no trânsito nas rodovias e o encaminhamento de 5.543 vítimas de colisões para atendimento médico.
Para analisar em profundidade as consequências da mistura considerada fatal e seu impacto na segurança viária, a Associação Brasileira de Medicina no Tráfego (Abramet) publicou, em 2007, o estudo Álcool e Direção Veicular – Dossiê Alcoolismo. O trabalho compilou conclusões de diversos levantamentos feitos em vários países sobre o tema, além de pesquisas próprias da associação. Conheça alguns dos resultados:
Um estudo feito com o público a partir de 60 anos de idade pela seguradora Líder, responsável pelo pagamento do Seguro por Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT), entre janeiro e agosto deste ano, demonstra que 56% dos indenizados com 65 anos ou mais são pedestres. No período, 9.145 indenizações já foram pagas a acidentados nessa faixa etária em todo o País. Desse total, 56%, o que corresponde a 5.135 indenizações pagas a pessoas que estavam na condição de pedestre no momento da ocorrência.
Em seguida, aparecem os motoristas, com 28% (ou 2.617) dos benefícios concedidos nesse período, e os passageiros, os menos atingidos, com 1.393 indenizações. Entre os veículos envolvidos nos acidentes, as motocicletas se destacam, representando 48% dos seguros pagos. Já os automóveis ficam em segundo lugar, com 38% das indenizações.
A análise por tipo de cobertura expõe uma realidade preocupante envolvendo os idosos. Mais de 51% (ou 4.690) das vítimas com mais de 65 anos indenizadas pelo Seguro DPVAT, de janeiro a agosto deste ano, ficaram com algum tipo de invalidez permanente. Além disso, 2.529 benefícios foram pagos a familiares de pessoas que morreram nos acidentes. Já a cobertura por reembolso de despesas médicas e suplementares (Dams) alcançou 1.926 indenizações.
Recentemente, a Seguradora Líder disponibilizou para consulta pública as estatísticas do Seguro DPVAT, possibilitando cruzamentos por categoria, cobertura e faixa etária. “Esperamos que esses dados sejam úteis para a construção de políticas públicas que garantam a segurança dos motoristas, passageiros, pedestres, especialmente na faixa etária dos idosos. A luta pela construção de um trânsito mais seguro e pela proteção às suas vítimas é de todos nós”, afirma Iran Porto, diretor de operações e TI da Seguradora Líder.