Nos últimos meses, diversos acidentes envolvendo idosos no Rio de Janeiro têm chamado a atenção para a falta de segurança no transporte público, especialmente para pessoas com mobilidade reduzida. O mais recente aconteceu em 15 de junho, quando Braulio S. Jandira, de 72 anos, morreu após ser arrastado por um trem na estação de Manguinhos, na Zona Norte da cidade carioca.
De acordo com relatos de outros passageiros, o idoso tentava embarcar no primeiro vagão quando ficou com a mão presa com a composição em movimento. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou a ser acionado, mas a vítima não resistiu. Em nota, a Supervia, concessionária responsável, informou que funcionários socorreram imediatamente o passageiro e que lamenta pofundamente o ocorrido.
Em outro caso ocorreu em 14/05, e a vítima foi Bernadete Augusto dos Anjos, 82 anos, essse no sistema de transporte por ônibus. Todos eles acendem um alerta sobre a urgência de implementar medidas concretas para garantir a integridade dos idosos no transporte público no Rio de Janeiro.
Cadeirante, ela morreu após ser arremessada para fora de um ônibus em movimento durante uma curva na Avenida Brasil, uma das vias expressas mais movimentadas da cidade. A idosa estava a bordo de um coletivo da linha 209, que é operada pela viação Braso Lisboa e faz o trajeto entre os bairros do Caju e Candelária. Segundo relatos do filho da vítima ao site G1, o motorista não prestou socorro.
Lucio Machado, especialista em segurança e perito em acidentes no trânsito, defende que haja critérios mais rigorosos na seleção de condutores pelas empresas de ônibus. Para ele, os órgãos públicos também devem investir no aprimoramento da capacitação oferecida aos profissionais da categoria.
Com isso, espera-se que os motoristas compreendam melhor sua responsabilidade ao dirigir e adotem procedimentos de direção defensiva — evitando manobras bruscas, respeitando as lombadas e tendo cuidado redobrado no momento do embarque e desembarque de passageiros.
“Diferentemente de uma carga, na qual se posiciona e amarra, no transporte coletivo há pessoas soltas, muitas vezes com dificuldades de locomoção e, o mais importante, que são muito mais valiosas”, adverte Machado.
Estimativas preliminares do Ministério da Saúde mostram que pessoas com 60 anos ou mais já representam cerca de um quinto (19,3%) da população carioca.
Os 60+ trazem uma série de desafios, que precisam ser contempladas nas políticas públicas, como dificuldades em enxergar, falta de equilíbrio e mobilidade reduzida, questões associadas ao envelhecimento e que aumentam a vulnerabilidade dos idosos a quedas.
Os danos corporais costumam variar de escoriações leves até fraturas em acidentes. Além de lesões físicas, há eventuais sequelas psicológicas e emocionais nos idosos, tornando-os receosos de realizar determinadas atividades cotidianas fora de casa.
Em ambientes públicos, a atenção a potenciais armadilhas deve ser redobrada. Bernadete, por exemplo, ocupava o espaço destinado a pessoas com deficiência. Contudo, o cinto de segurança não estava funcionando corretamente e a porta se abriu no momento da queda, de acordo com familiares.
O caso de Bernadete está sendo investigado pela 17ª DP (São Cristóvão). A Polícia Civil afirmou que os agentes aguardam o resultado do laudo pericial e estão realizando diligências para esclarecer os fatos.
Vale lembrar que esses não são eventos isolados: em novembro de 2022, na Vila Valqueire, uma senhora de 79 anos morreu ao cair de um ônibus da linha 783 (Marechal Hermes x Praça Seca). Ela também usava uma cadeira de rodas.
O Rio Ônibus (sindicato das empresas de ônibus) informou, em nota, que as frotas estão sendo gradualmente renovadas com veículos que possuem tecnologias e elementos de segurança avançados. Além disso, os motoristas recebem treinamentos, e campanhas educativas são realizadas para passageiros e outros condutores.
Por sua vez, a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) disse estar aumentando a fiscalização e que mais de 700 multas foram aplicadas por falta de manutenção nos últimos doze meses.
Em relação aos dois acidentes com ônibus mencionados, a SMTR destacou que “oficiou os consórcios cobrando esclarecimentos” e que as defesas apresentadas estão sendo analisadas.
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