Avanços na oferta da mobilidade urbana como um serviço no Brasil

Da esq. para a direita, Murilo Casagrande, Ulysses Carraro, Ciro Biderman, Niege Chaves e Thiago Piovesan. Foto: Divulgação PMU 2023

26/06/2023 - Tempo de leitura: 3 minutos, 57 segundos

A mobilidade nos grandes centros mudou com a entrada dos aplicativos de transporte e o aumento da malha de ciclovias, mas ainda esbarra na falta de integração de tarifas e na impossibilidade de pagamento dos diferentes meios utilizados por um único canal, como recorda o professor Ciro Biderman.

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Pesquisador do Centro de Estudos em Política e Economia do Setor Público na Fundação Getúlio Vargas FGV, ele foi o mediador do painel “Avanços na oferta de mobilidade urbana como serviço no Brasil”, realizado na quinta-feira, 22 de junho, durante o Parque da Mobilidade Urbana (PMU).

“O usuário tem até a possibilidade de fazer longos trechos com a ajuda de aplicativos de transporte público, mas não pode fazer o pagamento neles”, recorda Biderman. “A bilhetagem tem de ser aberta. É uma questão já superada em grandes cidades como Berlim (AL). A integração tarifária é um passo essencial. ”Ele lembra ainda que aplicativos como Uber, 99 e de bicicletas compartilhadas também devem estar integrados para que a mobilidade como serviço seja plena.

A vice-presidente da empresa de transportes MobiBrasil, Niege Chaves, se queixa da necessidade de cartões diferentes para os ônibus que rodam apenas na capital paulista ou em outras cidades ao redor: “Os passageiros devem ser tratados como clientes e a mobilidade, pensada de forma integrada”, afirma.

O assessor técnico da Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo (STM), Ulysses Carraro, cita alguns dos problemas que impedem a total integração entre ônibus e outros modais: “Ela envolve custos, pressupõe tarifas sem reajuste e subsídios cada vez mais altos. Nos consórcios [que reúnem diferentes companhias de transporte], os entendimentos ocorrem até onde é possível.”

Gratuidade gera polêmica

Os participantes do painel também abordaram o tema sensível do transporte urbano gratuito, a exemplo do que ocorre em Maricá (RJ). Os royalties do petróleo permitiram o benefício na cidade litorânea. “Tarifa zero como ideal é legal, mas quando se diz que o governo pagará, na verdade nós pagaremos”, afirma Carraro, da STM. 

Biderman, da FGV, relata: “Tenho muito receio quanto à tarifa zero porque ‘não existe governo grátis’.” Para ele, há pouca transparência em relação às tarifas atuais e, se forem zeradas, isso tende a piorar.

Niege, da MobiBrasil, dispara: “Antes de pensar em gratuidade, o que precisamos é do marco regulatório.” Ela se refere a um conjunto de regras para a prestação de serviço e também sobre as formas de financiamento do transporte.

O diretor do Instituto Aromeiazero, Murilo Casagrande, admite que o transporte público gratuito não pode ser aplicado em todos os lugares, mas insiste que é preciso que haja essa discussão. O Aromeiazero é uma organização voltada ao transporte por bicicletas e ações que incentivem seu uso.

Estacionamentos e prestação de serviços

Com 370 pontos distribuídos por shopping centers, hospitais, prédios comerciais e aeroportos, a rede Indigo traz o know how adquirido na Europa e amplia a oferta de serviços no País:

“A visão tradicional do estacionamento é de uma parada, mas hoje podemos oferecer outros itens que complementem a jornada, de acordo com a unidade. Cada uma delas tem uma necessidade, como carregadores, carros elétricos compartilhados, bicicletas e cadeiras de mobilidade”, afirma o CEO da Indigo Brasil, Thiago Piovesan.

Pensando nessa ampliação dos serviços, a Indigo criou uma equipe local dedicada ao tema cidades inteligentes. Ela consegue identificar as necessidades de cada um desses estacionamentos e buscar parcerias para instalar esses serviços complementares. A experiência internacional permite até mesmo a implantação de bicicletários com infraestrutura completa para o ciclista, com chuveiro e vestiário para o ciclista, além de ferramentas e ar comprimido.

Mais ações em favor das bikes

Murilo Casagrande, do Instituto Aromeiazero, relata outras ações que podem ser adotadas, além da construção de ciclovias. “Sabemos que a criação e manutenção de bicicletários no entorno de estações e terminais é vista pelo poder público como despesa, mas na verdade eles atuam como uma forma de retenção de receita do transporte.”

Ele conta que o instituto participa de ações para reforma e ampliação de ciclovias e bicicletários a partir de estudos territoriais. Casagrande ressalta o papel socioambiental das bicicletas e cobra políticas de incentivo ao transporte sustentável e maior integração a outros modais.

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