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Caminhões carregados de tecnologia

Por: Hairton Ponciano Voz . 04/10/2023

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Caminhões carregados de tecnologia

Primeiro caminhão autônomo no Brasil ‘dá expediente’ em centro logístico no interior de São Paulo; nos EUA, eles começam a ir para as estradas

4 minutos, 47 segundos de leitura

04/10/2023

Caminhão autonomo
O caminhão Mercedes Atego autônomo “dá expediente” no centro logístico da Ypê, em Amparo, no interior de São Paulo. Foto: Mercedes-Benz

Provavelmente ainda está longe o dia em que caminhões sem motorista irão cruzar o País levando cargas de forma autônoma, mas os primeiros passos já estão sendo dados. Ao contrário de automóveis — alguns já à venda com sistema autônomo de nível 3, capazes de mudar de faixa e fazer ultrapassagens sem intervenção de um condutor, por exemplo —, no caso dos caminhões o desenvolvimento está sendo mais lento, mas já há modelos “trabalhando” em locais confinados, como mineradoras e centros logísticos. É o caso de um Mercedes Atego 1730, desenvolvido em parceria com a startup brasileira Lume Robotics, que, segundo a empresa, se tornou o primeiro caminhão autônomo em operação em uma planta industrial no País.

O modelo “dá expediente” no interior de São Paulo, na fábrica da Ypê — que produz itens de higiene e limpeza —, em Amparo. No centro de distribuição da companhia, o caminhão faz trajetos e manobras previamente programadas, em um processo semelhante à rotina de limpeza de um robô aspirador de pó. Ou seja: após “aprender” a rota, ele refaz os movimentos, na velocidade programada.

De acordo com o presidente da Mercedes-Benz do Brasil e CEO para a América Latina, Achim Puchert, o caminhão autônomo desenvolvido em parceria com a Lume Robotics traz uma tecnologia “sem precedentes” para o País. Uma das razões de a tecnologia autônoma ter se desenvolvido mais rapidamente nos automóveis do que nos veículos de carga é o fato de que, em caso de acidentes, as consequências são sempre mais severas quanto maiores os veículos envolvidos.

Mesmo assim, atualmente poucas marcas – entre as quais a Mercedes-Benz e a BMW – têm veículos de passeio homologados para o nível 3 de automação (em uma escala que vai até 5).

Apesar do longo caminho a ser percorrido em termos de desenvolvimento, as empresas vislumbram um novo modelo de negócios nesse campo. “Passamos a oferecer consultoria especializada no ecossistema de veículos autônomos, com entrega de soluções customizadas aos clientes. Mais do que a venda técnica de um produto, oferecemos uma venda consultiva para os clientes, afirma Roberto Leoncini, vice-presidente de Vendas e Marketing de caminhões e ônibus da Mercedes-Benz do Brasil. “Nossas equipes fazem levantamentos caso a caso, propondo as soluções de automação mais assertivas e indicadas.”

Inteligência artificial

O caminhão autônomo da Ypê se movimenta em áreas confinadas e controladas, a baixa velocidade e com alta precisão nas manobras. “Devido à atuação de diversos sensores e câmeras, o sistema da Lume Robotics reconhece todos os obstáculos que foram mapeados, incluindo pedestres. Com inteligência artificial, o veículo memoriza todas as características do local onde atua”, diz Leoncini, acrescentando que, nesta etapa, o motorista ainda acompanha o processo, e está pronto para intervir em caso de necessidade. A função do caminhão é transportar cargas no interior da fábrica, transferindo produtos entre as linhas de produção e o centro de distribuição.

Leoncini acredita que há possibilidades para caminhões autônomos no País em diversas atividades, em operações confinadas em indústrias e galpões logísticos ou em aplicações fora de estrada. “Na mineração e em grandes obras de infraestrutura, em locais de condições extremas onde a operação autônoma do caminhão pode proporcionar mais segurança para os motoristas nas situações de risco. Neste caso, a máquina pode ajudar o homem, sendo um assistente confiável, eficiente, produtivo e seguro.” A sueca Volvo é outra fabricante que também tem caminhões autônomos sendo testados na mineração.

A tecnologia desenvolvida pela Lume Robotics é capaz de criar mapas e rotas de uma determinada região, possibilitando que o veículo trafegue de forma autônoma, evitando obstáculos estáticos e dinâmicos, lidando com todos os elementos de trânsito e alcançando o destino predefinido.

A startup foi fundada em 2019 por pesquisadores participantes do Projeto IARA (automóvel autônomo robótico inteligente, na sigla em inglês), do Laboratório de Computação de Alto Desempenho da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Em 2017, o IARA fez uma viagem autônoma do câmpus da Ufes, em Vitória, até a cidade de Guarapari, em um percurso de 74 km que incluiu trechos rodoviários (com praças de pedágio) e urbanos, com ruas, avenidas e semáforos.

Caminhão Daimler
A Daimler Truck desenvolve nos Estados Unidos uma frota de caminhões autônomos em parceria com a Torc Robotics e a Waymo. Crédito: Daimler Truck

Caminhões autônomos nível 4 nos EUA

Além da experiência brasileira, a Daimler (controladora da Mercedes-Benz), por meio de sua subsidiária Daimler Truck, está desenvolvendo caminhões autônomos de nível 4 nos Estados Unidos, em parceria com a Torc Robotics, empresa adquirida há três anos pelo grupo alemão.

Segundo a marca, a frota de caminhões Freightliner Cascadia equipada com a tecnologia tem sido testada por transportadoras com bons resultados em condições reais, em estradas abertas, entre centros logísticos dos EUA.

Ao mesmo tempo, a Daimler Truck está trabalhando nos Estados Unidos também com a Waymo, empresa de carros autônomos pertencente à Alphabet (dona do Google). O objetivo é aperfeiçoar a tecnologia de direção autônoma da Waymo com os caminhões Freightliner Cascadia. A Daimler Truck não estabelece uma data para lançamento comercial dos modelos autônomos, mas adianta que a tecnologia estará disponível nos EUA nos “próximos anos”.

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