Na última quinta-feira (25/05), o governo federal anunciou uma série de medidas, entre elas redução nos impostos sobre o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e PIS/Confins para carros com preço final de até R$ 120 mil. Isto quer dizer que as ações visam baratear o valor dos chamados automóveis de entrada, ou os chamados “populares”, com descontos nos preços finais dos automóveis podem variar entre 1,5% a 10,96%.
O anúncio, no entanto, foi criticado por especialistas do setor. De acordo com Sergio Avelleda, fundador da Urucuia e coordenador do núcleo de mobilidade urbana no Laboratório de Cidades do Insper, o anúncio é um retrocesso. “As medidas divulgadas não vão nem mesmo gerar empregos, já que a indústria automotiva é toda automatizada”, diz.
De acordo com Avelleda, carros mais baratos teriam como consequência o aumento do trânsito nas grandes cidades. “A capital paulista, por exemplo, já registra níveis de congestionamentos superiores aos de 2019. O que deveríamos ter é um pacote de estímulos ao transporte público e à mobilidade ativa”, explica.
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De acordo com Avelleda, a eficiência energética dos automóveis é baixíssima. “Os carros representam 26% das viagens e consomem 60% da energia do setor de transportes. Já o transporte público coletivo, por exemplo, responde por 28% das viagens, com consumo de 36% da energia, o que faz muito mais sentido”, explica.
Outra consequência dos carros mais baratos seria o agravamento da crise do transporte público. “O que deveria estar sendo sugerido é justamente como financiar o transporte coletivo, linhas de crédito para renovação da frota e mudança da matriz energética, medidas que beneficiariam a população. Porque muitas pessoas não saem de casa para procurar trabalho porque não podem pagar a passagem do transporte”, afirma Avelleda.
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Mais de 40 mil pessoas morrem por ano em acidentes de trânsito no Brasil, números compatíveis com uma pandemia. “Estudos demonstram que quanto mais carros, mais mortes. Então, ao estimular o automóvel individual particular, estamos fomentando a insegurança viária”, finaliza.
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